Amanheceu e eu não tinha dormido uma hora sequer e não tinha ideia de como eu ia olhar na cara do Hart quando ele viesse me buscar.
Me arrumei, deixei a mamãe na minha cama e deitei no sofá como se ele fosse um divã esperando ouvir o carro. Enquanto isso eu tentava fazer uma auto análise pra dizer pra mim mesma que aquele sonho não tinha sido extremamente bizarro.
Eu sonhei com sexo, muito provavelmente porque já faz tempo desde a última vez que eu sequer tinha pensado em sexo. Sonhei com o Peter, muito provavelmente pelo mesmo motivo de que eu venho evitado pensar nele. E o Peter virou o Hart porque...sei lá.
Talvez por causa do que a Reggie falaram antes, e também por eu e ele estarmos passando tanto tempo juntos.
Mas não parecia ser tão bizarro, não é? Pessoas tem sonhos eróticos com pessoas completamente nada haver, e não significam nada. Eu mesma já tive um bem estranho com o Bear Grills do National Geographic, e outro com o irmão mais velho do Diário de um Banana.
Hart chegou e eu decidi entrar rápido no carro, sem olhar na cara dele e também decidida a não dizer nenhuma palavra. O que não foi possível, porque naquele dia, ele amanheceu especialmente de bom humor
- Mallard, entra aí...- Ele abriu a porta-...olha só o que eu fiz...
Ele deu forte com o lado do punho em cima do rádio do carro e eu me assustei.
De repente o rádio começou a chiar e tocar o programa matinal, então ele me olhou cheio de expectativas:
- Consertei!
Eu não sabia que estava quebrado, eu sempre presumi que ele não gostava de ligar o som.
- Legal.- Respondi.
Não devo ter soado tão convincente, porque ele pareceu menos animado.
- Quer escolher a estação?- Perguntou, mais caridoso do que o normal.
- Escolhe você, o carro é seu.- Eu disse, e saiu mais rude do que eu planejava.
- Caramba, o dia mal começou e você já tá chata pra caralho.- Ele disse perdendo a animação de antes.
Por mais que eu não quisesse reviver o sonho na minha cabeça, eu tinha que lembrar de que ele não tinha culpa pelo meu inconsciente.
- Desculpa.- Eu cocei os olhos pra acordar.- Eu tive uma noite péssima, e eu tô tão cansada.
Ele ficou quieto e apertando o volante nas mãos e de repente sorriu, se virou pra mim com uma mudança notória de humor:
- Então...que tal a gente fazer uma coisa diferente hoje? Só pra te dar uma acordada?
Como é?
- Como é?
- Troca de lugar comigo.- Ele respondeu.
- O quê? Pra quê?- A minha voz saiu aguda sem motivo.
- Pra quê você acha?- Ele disse já passando por cima de mim, forçando que nós trocássemos os assentos.
- Você tá maluco se acha que acha que eu vou levar esse carro até a escola.- Eu disse, ainda que já estivesse sentada no banco do motorista.

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Pessoas Ruins
Ficção Adolescente"Eu sou uma pessoa ruim, talvez seja difícil pra maioria das pessoas, simpatizarem comigo, e eu posso culpá-las? Elas nem me conhecem e já me odeiam, imagina se soubessem?" June Mallard não tem uma vida muito confortável, e apesar de passar o tempo...