Charlie

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À primeira vista, eu pensei que fosse uma criança, antes de perceber o conjunto completo. Sem dúvida, era um anão.

Ou melhor, um cara com nanismo. Ele parecia não ter mais de vinte anos.

- Oi, eu sou a June.- Eu respondi o cumprimento no automático.

- Ah...June.- Ele falou como se lembrasse de algo.- Sabe, a tia disse que eu não podia incomodar você, mas fique sabendo, que eu te dou total liberdade pra me incomodar.

- Ah tá...peraí, como é?

Ele jogou muitas informações de uma vez.

- Charlie Hart, à suas ordens.- Ele estendeu a mão, pedindo a minha, e eu deixei ele cumprimentá-la ainda que estivesse suja de tinta.

Hart...

- Não pega na mão dele, você não sabe por onde ela passou.- A voz do Finn Hart surgiu atrás de mim.

Ele vinha carregando o quadro virando pro outro lado e com o celular não.

- A tia não falou que eu vinha hoje? Você e Missy me deixaram aqui plantado esperando por vocês.- O tal Charlie disse dramático.

- Falou sim, à uns 15 segundos.- Ele mostrou o celular e o guardou no bolso.

Em seguida ele só entrou no quarto pra deixar a tela.

- Eu só cheguei à uns 15 minutos mesmo.- Charlie sussurrou só pra mim, antes de falar alto pra que o outro escutasse.- Eu só te perdoo porque você tava acompanhando uma beleza dessas.

Sinceramente, eu não sabia até que ponto ele estava me zoando.

Hart saiu do quarto e o olhar dele se voltou pra mim, ele me analisou de cima a baixo:

- A gatinha não quer tirar a tinta do nariz?- Ele sim, me zoou.

Idiota.

Eu poderia olhá-los por horas, e não teria adivinhado que eles eram primos, se não tivessem me dito. Nem tanto pela diferença de quase meio metro entre eles dois. Mas o Charlie também tinha um corte de cabelo baixo, ou seja, não tinha o cabelo característico que me fez associar o Hart e o pai dele logo de cara.

Depois de me lavar na pia, eu fui sentar com eles no sofá.

- Se você vinha, você mesmo podia ter me avisado.- Finn disse enquanto limpava a tinta das unhas, apesar do desgraçado mal ter se sujado.

- Bom, não é como se você tivesse me avisado que estava saindo com alguém, e eu pensando que éramos melhores amigos.- Charlie fez um gesto de quem era apunhalado.

Eu ignorei propositalmente a parte que me enojava e foquei no fato de que eles eram melhores amigos e me segurei pra não sorrir.

- Não estamos saindo, somos só amigos.- Hart respondeu rápido, até demais.

- Sei...isso faz bem mais sentido.- Charlie disse puxando um pufe pra apoiar as pernas.

A expressão do Hart foi de séria pra ofendida em um segundo:

- Como assim?

Ah, essa eu queria ouvir.

- Finn, não me leve a mal, mas a nossa amiga aqui...ela é maravilhosa, e você...bom, você é um vara pau.

Eu caí na gargalhada. Era a primeira vez que um cara estava defendendo a minha aparência. E pensar que durante o fundamental "vara pau" também era um dos meus apelidos, também tinham Garibaldo, Pata feia, Cegonha...mas não vamos entrar nisso agora, estávamos zoando o Finn Hart.

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