Eu estava enrolando pra chegar na casa dos Hart de propósito. Estava indo a pé, com um bolo chiffon de limão enrolado em plástico filme, e o casaco emprestado debaixo do braço.
Estava dando passos curtinhos, mas eu acabei na frente do jardim de qualquer maneira.
Estava muito frio pra ficar de bobeira alí em pé no meio do gramado, eu ia acabar tendo que entrar uma hora ou outra. Mas quando eu vi a porta se abrir eu recuei um pouco.
À primeira vista, eu tive a impressão de que talvez fosse a casa errada, porque de lá saiu uma garota magra e meio gótica esfregando as mãos por causa do frio.
E não é que o Hart tinha mesmo aproveitado o dia de folga?
Como eu estava bem de frente, o encontro entre nós duas foi inevitável. Ela que estava de cabeça baixa, olhou nos meus olhos e eu a achei ligeiramente familiar, ainda que tivesse certeza de que eu me lembraria se a tivesse visto antes.
Ela tinha um cabelo castanho escorrido, e algumas mechas em diferentes tons de azul e roxo. Os olhos eram caídos e castanhos bem claros. Ela também tinha furos nas orelhas, sobrancelha, nariz e lábio e usava lápis de olho bem forte.
Me ocorreu que ela era o tipo de pessoa que o pai do Hart estava falando no outro dia. Do tipo que não ficava pra jantar.
Do mesmo jeito que eu olhava ela de cima a baixo, ela também me olhava:
- Eaí?- Ela cumprimentou.
- Eaí.- Eu respondi.
Super estranho.
- Você que é a visita?- Ela perguntou.
- Eu preferiria não ser.- Acidentalmente, eu disse o que estava pensando.
Ela pareceu achar engraçado.
- Me correram daqui, porque ia chegar uma visita, pensei até que fosse o prefeito.
Ela é engraçada.
- Você...é a namorada do Hart?- Eu perguntei, porque me vieram em mente aquelas iniciais gravadas na parte de dentro do carro dele.
- Cara, eu pensei que você é quem fosse, e eu que tava ferrada pra caralho.- Ela disse tirando o cabelo da frente dos olhos.
- Não, eu não.- Eu respondi.- Eu sou a...tutora.
Ela riu de novo:
- Eu pensei que a tutora que fosse a namorada.
Eu neguei com a cabeça.
- Eu sou a June.
- Eu sou Allison.- Ela disse e chegou mais perto, mas eu não, continuei alí.- Não vai entrar?
Fiz uma careta. Definitivamente não queria lidar com os Hart agora, não depois do dia de hoje. Não queria lidar com mais nada, com ninguém.
- Tá.- Ela sorriu. - Quer dar um tempo antes de entrar no campo minado, né? A mãe dele deve ser louca por você, ela me odeia.
Ela foi em direção a um murinho que dividia as casas, e eu fui atrás dela, nós nos sentamos e eu equilibrei o prato com o bolo e a jaqueta na parte mais espaçosa.
- Aquela mulher é insuportável.- Ela falou da mãe do Hart.- Você fuma?- Ela disse tirando um cigarro do bolso.
- Cigarro? Não, eu não gosto muito.
- É maconha.- Ela disse enquanto acendia.
- Então tá.- Eu disse aceitando.
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Pessoas Ruins
Novela Juvenil"Eu sou uma pessoa ruim, talvez seja difícil pra maioria das pessoas, simpatizarem comigo, e eu posso culpá-las? Elas nem me conhecem e já me odeiam, imagina se soubessem?" June Mallard não tem uma vida muito confortável, e apesar de passar o tempo...