Eu fiquei maturando aquela sensação por um tempo, mas quando eu tentava racionalizar o que aconteceu, eu não me sentia muito bem. Me fazia pensar que talvez a nossa situação fosse justamente o que eu temia.
Ele não estava brincando comigo.
- Eu já disse que você não vai!- Eu gritei do meu quarto enquanto via o Nacho fazer a barba com a porta do banheiro aberta.
- E eu já disse que vou.- Ele respondeu calmo.
Era o dia do baile, mas ainda de tarde, quando a minha abuelita e o Nacho apareceram. Abuelita com o pretexto de ajudar a minha mãe a me arrumar, e o Nacho com o pretexto de me levar.
- Você não tem motivo pra ir!- Gritei de volta, enquanto tentava tirar minhas sobrancelhas.
Comecei a sentir o karma de zombar mentalmente da história da Sra. Speckle.
- Fala com a Abuelita, foi ideia dela.- Ele rebateu.
Saí do meu quarto com só uma sobrancelha feita:
- Abuelita, eu disse que ia com a minha amiga.
- Yo se, yo se, la Pequetita. Pero Oscar dijo, y yo estoy de acuerdo, que Ignacio deberia ir para...- Ela procurou a expressão-..."ficar de olho".
O tio Oscar sabia que eu estava com problemas na escola, eu entendo que ele queria que alguém de confiança estivesse lá caso algo acontecesse, mas...
- Mas o Nacho?!
O dito cujo saiu do banheiro esfregando o queixo me mostrando que tinha conseguido fazer um cavanhaque.
Ele era só um ano mais velho do que eu, mas ainda conseguia ter mais pelos faciais do que todos os garotos do meu ano juntos.
- Tira isso, agora!
Quando eu me cansei de reclamar, mamãe e abuelita começaram com o meu cabelo, porque sabiam que iam demorar.
O penteado escolhido foi um coque lateral "desconstruído", que significa um monte de cachos soltos, esses que servem pra dar um "charme", segundo a minha mãe.
Coloquei as lentes de contato e elas fizeram a minha maquiagem, que foi bem rápida em relação ao cabelo. Talvez porque não fosse a especialidade delas. Não ficou ruim, de forma alguma, ficou simples, e simples é bom. Se eu ficasse muito produzida, provavelmente iria ouvir piadas.
Colocando o vestido já arrumada, eu lembrei do quanto ele era delicado, com certeza não era meu estilo. Ele era lilás-hortênsia com a saia aberta, alta na frente e mais comprida atrás, sem mangas e as alças finas da grossura de um dedo. Eu gostei bastante da parte do corselete, porque era bordado.
Reggie chegou enquanto eu estava no meu quarto, então só a percebi quando saí ví que ela estava muito bonita com um vestido azul claro, de mangas curtas e decote transpassado. Mamãe estava fazendo nela, a tiara de trança que ela havia se empolgado pra fazer em mim antes.
As três mulheres pararam pra bater palmas, me deixando envergonhada.
- Você tá linda.- Reggie disse.
- Você tá linda.- Rebati o elogio.
- Pois é estamos lindos mesmo.- Nacho apareceu com um terno e um visual diferente e carregando uma pá de lixo cheia de cabelo.
Mamãe e abuelita aplaudiram ele também.
- Você cortou o cabelo?! Quando?
Ainda estava comprido, só que perdeu o aspecto desgrenhado que fez eu confundir ele com um vagabundo no outro dia.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Pessoas Ruins
Teen Fiction"Eu sou uma pessoa ruim, talvez seja difícil pra maioria das pessoas, simpatizarem comigo, e eu posso culpá-las? Elas nem me conhecem e já me odeiam, imagina se soubessem?" June Mallard não tem uma vida muito confortável, e apesar de passar o tempo...