Lembram quando eu disse que gostava de andar de ônibus? A verdade é que isso é o que as pessoas sem carro dizem. Ninguém quer andar de ônibus se puder evitar. É fedorento, quente, perigoso, sem falar naquele grude misterioso do chão.
O acordo foi: Eu ia ajudar o Hart a melhorar as notas e também nas inscrições pra faculdade, em troca ele ia me levar e trazer da escola pra casa de carro. Descobri até que morávamos no mesmo bairro, o que ia facilitar muito as coisas.
O dia foi se encerrando e eu tive que explicar pra Reggie que "não, aquilo no corredor não foi um sequestro" e que havia sido só algo avulso que eu já tinha resolvido.
Eu e o Hart resolvemos que ele ia me deixar em casa hoje mesmo e de amanhã em diante eu ia começar a ajudar ele.
Quando saímos do prédio, já havíamos passado muito do estacionamento da escola e eu estava começando a questionar a existência do tal carro:
- Pra quê vir de carro se você já faz metade do trajeto à pé? Não gosta de se misturar?- Eu reclamei, mas era mais pelo peso da mochila e o sol na minha cabeça.
- Sossega.- Ele disse já de mau humor.- Alí.- Ele apontou.
Quando eu vi o carro, eu entendi completamente o porquê dele estacionar tão longe.
Em palavras curtas e grossas: O carro era péssimo. Aquele carro já deve ter tido seus dias de glória antes de eu e o Hart nascermos. Mas era o que eu tinha pra hoje e pro resto do ano letivo.
- Tá arrependida?- Hart perguntou enquanto me olhava de lado.
Eu me esforcei muito nessa atuação, mas não foi o suficiente:
- O queee? Não! Eu gostei! Ele é tão...- Chamar aquilo de "vintage" era forçar muito a barra, então tentei pensar em outra coisa.
- ...é uma merda.- Ele completou pra mim.
- Nãaao.- Eu nem sabia porque ainda estava puxando as vogais, não tava enganando ninguém.
Uma coisa era zoar o Hart, outra coisa era zoar algo que ele tinha, e que tinha vergonha.
- É um...Dodge Dart?- Eu perguntei só pra ter certeza, porque não se fabricava mais daquele carro.
Aquele modelo parecia ser da década de 80. Mas não parecia algo de quem colecionava. Parecia algo que alguém tinha largado e outras pessoas foram achando.
- Ele é de...muito tempo atrás, e foi reformado...a muito tempo também.- Ele disse indo até o carro e abrindo a porta do motorista.
E eu fui tentar abrir a porta do passageiro mas não consegui.
- Não, não, ela só abre por dentro.- Ele disse abrindo a porta pra mim pelo lado de dentro e aproveitou pra dar uma olhada na minha cara.- Não precisa entrar se não quiser.
Na verdade eu estava mentalmente questionando os prós e contras de dar continuidade a isso tudo.
Mas se era entre a máquina da morte de 40 anos do Finn Hart e o velho tarado de 70 anos. Eu ia sim entrar naquele carro. Afinal se algo acontecesse, eu ainda podia abrir a porta por dentro e me jogar.
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Fiquei muito feliz pelo carro não feder, e também por ser limpo por dentro e não haverem coisas esquisitas no banco de trás.
Em compensação, ele parecia se mover na força da vontade. A luz do motor, por exemplo, estava acesa e quando eu o alertei sobre isso, ele só disse que ela ficava assim mesmo.
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Pessoas Ruins
Teen Fiction"Eu sou uma pessoa ruim, talvez seja difícil pra maioria das pessoas, simpatizarem comigo, e eu posso culpá-las? Elas nem me conhecem e já me odeiam, imagina se soubessem?" June Mallard não tem uma vida muito confortável, e apesar de passar o tempo...