Acordei no dia seguinte com a menor vontade de me levantar.
Tomei uma xícara de café puro apenas, porque estava ansiosa demais pra cumprir meu ritual completo. Na verdade só a xícara de café já se remexeu bastante no meu estômago no caminho até o ônibus.
Eu só conseguia listar todas as coisas que me esperavam quando eu chegasse na escola, na pior das hipóteses:
Hart teria contado o que ele viu pra algumas pessoas.
Essas pessoas iriam inventar e aumentar a história até ela alcançar uma dimensão extraordinária.
Eu ia ser apedrejada em praça pública.
Possivelmente suspensa dependendo da proporção da fofoca (Podiam falar que estávamos fazendo muito mais do que só nos beijando).
O Dwahan ia perder totalmente a confiança em mim. Ia suspender o nosso acordo. Não ia escrever as minhas cartas. Eu não ia passar pra nenhuma faculdade boa o suficiente...
- Esse não é o seu ponto?- Um velho muito velho que estava sentando ao meu lado no ônibus quebrou o meu pensamento.
Eu me espantei antes de responder nervosa:
- É sim.
Apanhei a mochila e me preparei pra sair
- Sabe, nos meus tempos de jovem, eu saía com uma boricua muito parecida com você.- O velho sorriu meio nojento.
Senti uma gastura.
Eu devo ter entrado naquela escola no meu pior estado. As costas curvadas carregando a minha mochila, e a minha expressão derrotada.
Mas a escola não podia estar mais normal. Tudo estava normal, ninguém cochichava, ou olhava pra mim. Os atletas estavam atléticos, os nerds estavam nervosos, os populares estavam populares, tudo na mais perfeita ordem. Sem fogo.
Era um balde de água fria naqueles pensamentos aterrorizantes. Logo em seguida eu fui invadida por outro sentimento. Era confusão.
Comecei a marchar pelos corredores, assumindo a minha postura original:
- Você!- Eu chamei um garoto baixinho com óculos estilo aviador num grupo de garotos do clube de áudio visual.
Eles todos congelaram por um segundo antes do garoto que eu queria apontar pra si mesmo:
- Eu?- Os outros deram cotoveladas empurrando ele pra frente.
- Viu o Finn Hart por aí?
Uma coisa sobre os nerds é que eles estão sempre evitando valentões, ou possíveis agressores, logo, eles sempre sabem onde esses estão, como se fosse um radar.
Dito e feito, o garoto apontou pra esquerda:
- Acabou de virar o corredor.
Segui o caminho que o garoto indicou e dobrando o corredor, dei uma sondada rápida antes de conseguir avistá-lo.
Passei o corredor lotado, até alcançá-lo. Poderia ter feito uma abordagem mais sutil, mas muito provavelmente ele iria me evitar, então segurei ele pelo braço e pela gola e saí arrastando-o:
- Mas que porra!- Ele exclamou, e eu ignorei.
Aproveitei a bagunça do corredor pra nos enfiar no dentro do armário de vassouras:
- Você não contou!- Eu disse assim que entramos.
- Você tem um jeito estranho de chamar a minha atenção, sabia?- Hart comentou enquanto eu travava a porta.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Pessoas Ruins
Ficção Adolescente"Eu sou uma pessoa ruim, talvez seja difícil pra maioria das pessoas, simpatizarem comigo, e eu posso culpá-las? Elas nem me conhecem e já me odeiam, imagina se soubessem?" June Mallard não tem uma vida muito confortável, e apesar de passar o tempo...