Perguntas

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Levar o Finn Hart pra casa da minha abuelita seria algo impensável meses atrás. E se acontecesse, eu imaginaria um desconforto descomunal. Mas foi...normal?

Ele não fez as perguntas embaraçosas que eu imaginei que ele faria. Como "Por que não usa o sobrenome do seu pai?", "O que aconteceu com o seu pai?", "Por que os seus tios têm tatuagens de arame farpado?".

- Tá com a cabeça nas nuvens, Flaca?- Ele perguntou no carro a caminho da escola.

Eu ri e passei a mão no cabelo. Meus dedos ficaram presos. Esqueci que também não tinha desembaraçado hoje. Eu tentei, mas doeu muito, não parecia valer a pena.

- Não me chame de Flaca, nem sabe o que significa.- Reclamei, mas não seriamente.

- O que significa?

Não queria dar chance pro Hart ficar me chamando de magrela. Uma coisa era a minha família falar, mas qualquer outra pessoa era totalmente diferente.

Eu não era uma daquelas pessoas que podia comer tudo e não engordar, na verdade, tentei ganhar mais massa quando estava passando pela puberdade, mas estava tudo se acumulando numa pancinha, então deixei do jeito que estava.

- É um apelido normal...tipo Finn...ou June...- Falei sem pensar porque estava distraída.

Droga.

- June é um apelido?!- Ele perguntou malicioso e animado.- Não creio! De quê?

- Não te interessa.- Tentei fugir do assunto.

- Ah, qual é? Posso pelo menos tentar adivinhar?

- Não, não pode. Porque eu não quero que adivinhe, eu detesto o meu nome.

- Não é justo, eu também não gosto do meu, mas você sabe meu nome completo.

Esquece o que eu falei antes sobre ele não fazer perguntas embaraçosas.

- É uma vantagem que eu tenho sobre você, não tire isso de mim.

- Não precisa de vantagens sobre mim, June, você já me apavora.- Ele disse.

Cobri o meu sorriso com a mão. Por que eu gostei de ouvir isso? Não era como se fosse um elogio.

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A aula de história estava quase acabando e as minhas pernas não paravam quietas debaixo da mesa, esperando o sinal do intervalo. A coisa que eu menos queria, era o tio Oscar vagando por alí mais do que o necessário.

O sinal tocou. E muito rápido eu arrastei minhas coisas comigo e saí da sala. Procurei por cima do mar de cabeças saindo das salas, pra ver se ele já havia chegado.

- June?- Uma voz me chamou, e era a do diretor Dumbrowski.- A sua mãe veio?

Vish.

- É...não, ela não pode vir, mas eu chamei outra pessoa.

O diretor estava com um sorriso simpático, mas o brilho dele foi sumindo aos poucos, pensei que havia sido o que eu disse, mas ele estava olhando por cima do meu ombro.

Virei de costas e dei de cara com o meu tio, ele parecia muito mais casca grossa em contraste com as outras pessoas. O diretor abriu a boca, mas nada disse:

- Senhor Dumbrowski, esse é o meu tio, ele veio falar sobre o inconveniente.

Tio Oscar o cumprimentou com um aceno de cabeça.

- Claro.- O diretor pareceu voltar pro corpo.-Bom...eh...vamos pra minha sala?

O diretor caminhou conosco como se ele estivesse sendo escoltado. Sem falar que as pessoas estavam olhando pra nós.

Pessoas RuinsOnde histórias criam vida. Descubra agora