Pessoas Ruins

Julgamento

Finn e eu estávamos estudando pra prova de química, quando eu recebi uma mensagem da Reggie.

Suspirei mais audível do que eu imaginava.

- Que foi?- Ele perguntou me cutucando com um lápis.

- Minhas amigas estão me chamando pra ver vestidos no shopping.- Respondi enfiando minha cara numa almofada.- Pro baile.

- Hum...- Ele resmungou-...nosso acordo não inclui te dar carona pro shopping. Pelo menos não enquanto você não me ensinar a equilibrar as equações.

- Balancear.- Corrigi.- E eu não vou, não se incomode.

Ele levantou a vista e puxou minha meia:

- Por que não?

- Não tenho grana pra um vestido desses.- Puxei meu pé de volta.- Vou ter que me virar depois.

Eu também não estava com muita pressa pra encontrar um vestido, eu tinha um físico de cabide, então não podia ser tão difícil, sempre achei que as roupas me vestiam mais do que eu vestia elas.

Percebi que ele torceu o nariz.

- Por que você faz tanta questão de ir? Esses bailes não são nada demais.

Respirei fundo, ele ia acabar me julgando de qualquer maneira;

- Eu nunca fui em nenhum baile de escola, nem no fundamental.- Confessei.- Não tinha amigos, não tinha namorado...Mas agora é a minha formatura, então não importa se me querem lá, ou não.

Ele ficou em silêncio. Foi algo meio torturante, até:

- Por que acha que as pessoas não querem você lá?

- Eu não disse que não me querem lá. Disse que não importa.

Embora eu pensasse isso mesmo, mas ele não tinha que saber o que eu pensava.

- O Duncan, não queria que você fosse?

Por que trazê-lo à tona logo agora? Claro que não queria. Ele nunca disse em voz alta, mas Peter não gostava de me ver se não fosse pra ficarmos sozinhos. Eu sabia disso, mas não gostava de pensar no assunto.

- Ele não me diria pra não ir.- Tentei não mentir.

- Não, já que ele é sempre foi tão "direto", "gentil" e...

- Pode...- Eu o interrompi-...por favor...não levar essa conversa pra esse lado? Você sabe que eu não gosto de falar no assunto.

- Você falou outro dia.- Ele murmurou.

Aquilo estava me deixando impaciente:

- Vem cá, qual é o seu problema com ele? Se eu tô de boa, por que você não pode simplesmente deixar ele pra lá?

- Eu só não entendo porque vive protegendo esse cara, June. Você não parece você mesma quando se trata dele.

A cada palavra que saía dele, eu me sentia cada vez pior. Essa na verdade, era a principal razão pra eu nunca falar sobre aquilo com ninguém.

Todo esse interrogatório, o julgamento...Não queria ficar alí, não queria ouvir, não podia lidar com aquilo agora, não sabia quando ou se eu ia conseguir lidar com aquilo algum dia.

Me levantei da cama dele e apanhei a minha mochila, mas justo quando pus a mão na maçaneta ele segurou a porta pelo encontro do batente.