Sabrina

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Eu genuinamente preferiria não acreditar que eu estava perdendo a cabeça. Mas parecia cada vez mais ser a melhor opção.

Uma boa estratégia foi pensar numa lista de motivos do porquê que eu estava me sentindo daquele jeito.

Era primavera, acho que as pessoas ficam mais sensíveis na primavera. Quase certeza de que haviam estudos sobre isso.

Estávamos ficando muito íntimos, isso devia estar mexendo com a minha hipófise e me fazendo confundir as coisas.

O cabelo dele estava mais comprido, ele estava cada vez mais parecido com o jovem Heath Ledger.

- Acho que estão ficando cada vez melhores.- Ele disse e quebrou a minha linha de raciocínio.

- O quê você disse?- Perguntei num pulo.

Ele bateu no bloco de desenho que estava usando.

Eu estava tão distraída que esqueci que estava posando pra outro retrato.

- Ah...ei, eu já posso tirar isso?- Eu falei do papel que ele havia picado e jogado na minha cabeça antes de começarmos.

Ao mesmo tempo, eu procurava o meu elástico de cabelo entre as almofadas do sofá.

- Só mais um pouco, eu quero lembrar de como as pétalas de flores ficavam.

Ele disse que queria desenhar como eu havia ficado naquele dia que brincamos com a árvore.

- Você já está perto de fechar o portfólio?- Perguntei pra mudar o assunto.

- Acho que não falta muito, eu coloquei aqueles esboços que você sugeriu.- Ele respondeu.

- Tá bom. E a sua redação de apresentação? Como ela vai?- Continuei perguntando.

- Você tá mexendo tanto nela, que tá parecendo que é o seu sonho ir pra lá.

- A redação é uma das partes mais importantes, é assim que você conquista eles, é justo aí que você para de ser só "mais um".

Ele me olhou por cima do desenho:

- O problema é justamente que eu sou "mais um".

Eu não concordava com ele, mas eu não sabia o que dizer pra convencê-lo.

- Você já é autêntico o suficiente, só temos que ter cuidado pra não ser...honesto demais.

Ele parou o lápis por alguns segundos, riu e depois continuou:

- O quão honesta você foi nas suas redações?

Pensei um pouco a respeito:

- Bom, eu me esforcei muito pra parecer honesta em cada uma delas.- Respondi e ele riu de mim de novo.- Mas isso é porque o meu curso é totalmente diferente do seu, tenho certeza de que o departamento de artes vai querer uma pessoa mais...

- Autêntica?- Ele me imitou.

Suspirei e joguei o cabelo pra frente pra tirar aqueles confetes da minha cabeça, a essa altura eu percebi que ele só estava me zoando:

- Isso. Escreve o que a arte significa pra você, o porquê de você desenhar, quem te inspira, e...não pareça tão travado, não tenha medo de se abrir.

Pessoas RuinsOnde histórias criam vida. Descubra agora