Quando cheguei em casa, mamãe estava no sofá roendo as unhas, e a vovó estava queimando alguma coisa.
- O que estão fazendo?
- Palo santo.- A vovó respondeu.
Ela estava queimando um toquinho em cima de um envelope pardo que estava na mesa.
O caminho até aquela mesa demorou uma eternidade. Quando eu vi aquele envelope fino de longe, senti que ia morrer.
"Por favor, não seja Harvard."
Peguei a carta e virei. Era Harvard. As minhas mãos tremeram pra abrir, mesmo que eu já soubesse o que um envelope fino significava.
As lágrimas brotaram dos meus olhos antes mesmo de ler:
" Querida Juniper,
Por meio desta carta, agradecemos sua inscrição, mas lamentamos informar..."
Rasguei a carta em duas, quatro, oito...sei lá mais quantos pedaços. Eu sabia que isso ia acontecer...Por que eu estava reagindo daquele jeito?
- June.- Minha mãe me chamou pelo nome que eu prefiro, sem ligar pro que a minha avó achava.
Eu perdi a cabeça. Perdi tudo. Perdi a cabeça.
- Acabou.- Eu murmurei com dor jogando o confete em cima da mesa.- RE-JEI-TA-DA! June Mallard, feia, pobre e burra!! Eles me odiaram! Todo mundo me odeia!
- Juniper!- A minha avó me repreendeu.- Se recomponha.
- Eu não quero me recompor!- Eu gritei em resposta.- Você não me conhece! Você não sabe o quão duro eu dei pra isso! Você não sabe o quanto eu me esforcei pra ser indispensável, mas ninguém me quer!- O meu choro saiu desesperado.
Muito mais do que sobre Harvard, Princeton ou Yale. Eu estava lembrando do que eu havia ouvido mais cedo.
Todas aquelas humilhações, tudo, nunca foi parte da história de uma heroína que iria superar tudo numa reviravolta poderosa. Eu era uma fracassada em todos os sentidos.
- Juniper, você está fora de si, pare já com isso, você está fazendo uma cena.- Ela falou séria e com firmeza.- E você?- Elas se virou pra minha mãe.- Vai deixar essa menina falar assim comigo?
- Pare você com isso!- Esbravejei nervosa.- Para de sempre jogar a culpa de tudo e todo mundo em cima dela. Como que você consegue dizer essas coisas?
- O que disse?- Vovó indagou ofendida.- Pirralha ingrata, claro que não passou nessa faculdade, você tem muito mais daquele marginal do que pensa. Você é desequilibrada, quanto antes perceber isso, melhor...
- Cala a boca! Cala essa maldita boca!- Mamãe gritou se levantando do sofá.- Não se atreva a falar dela desse jeito.
- Quem você chamou de "maldita"?
Foi a parte que a velha ouviu.
- June é a pessoa mais centrada que eu conheço, se ela quiser gritar o que ela sente...ela vai gritar, caramba! Porque essa é a casa dela! A minha filha tá magoada e cansada, deixa ela em paz!
Foi a primeira vez que eu vi a minha mãe confrontar a mãe dela, ou qualquer pessoa.
- Você enlouqueceu? Eu não preciso que você fique aqui me atacando, se você falar assim comigo mais uma vez, eu vou embora por aquela porta.- Vovó falou alto e dramática.
Mamãe inspirou fundo e expirou:
- VÁ.
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Pessoas Ruins
Fiksi Remaja"Eu sou uma pessoa ruim, talvez seja difícil pra maioria das pessoas, simpatizarem comigo, e eu posso culpá-las? Elas nem me conhecem e já me odeiam, imagina se soubessem?" June Mallard não tem uma vida muito confortável, e apesar de passar o tempo...