Na quinta-feira, eu estava tentando reler as partes importantes do meu livro, antes de encarar a apresentação, durante a ida à escola.
O senhor Warner havia pedido pra que escolhêssemos um dos livros que havíamos visto naquele ano e apresentássemos ele como uma espécie de recapitulação:
- O que você tem aí, baixinha?
Eu tento ficar brava quando ele me chama de baixinha, mas não consigo. Não sei direito se é ironia, ou porque talvez do ponto de vista dele, eu seja baixinha.
- Emma.- Respondi enquanto pulava as páginas só pra refrescar a minha memória.
- Eu tô vendo a capa, eu quero saber sobre o que é.
- Uma aristocrata bonita e rica, que não tem perspectiva de se casar, mas fica tentando formar casais pela cidade.- Falei.
- Parece uma chata.- Ele comentou como piada.
- Ela é, também é arrogante e fútil, em vários sentidos.- Concordei.
- Então não gosta dela?
- Ah não, eu adoro.- Fiz ele rir.- Ela é uma das personagens mais honesta que eu já li, sabe, às vezes é legal ver uma personagem diferente, o mundo não é feito de garotas legais.
Ele continuou rindo de mim:
- Sabe o que é engraçado? Você é muito inteligente, mas eu acho que é a primeira vez que eu vejo você lendo.
Ele nunca tinha me chamado de inteligente antes. Não diretamente.
- Ah não. Isso aqui é pra aula de literatura, eu nem lembro da última vez em que eu li por diversão.- Comentei.- E você?
- Eu não sou um bom leitor. Sei que me faz parecer idiota, mas eu já tentei e eu não consigo me concentrar por muito tempo.- Ele confessou.
Não queria ser a pessoa a dizer isso pra ele, mas desde que eu comecei a ensinar pro Finn, que eu suspeito que ele tenha uma espécie de déficit de atenção. Deve ser por isso que ele tem dificuldade na escola, não tem nada haver com ser inteligente ou não.
- Não acho que seja idiota.- Comentei.
- Você já me chamou de idiota. Muitas vezes.- Ele me lembrou.
- É, mas eu falei no sentido de você ser boçal, não burro.
- Não sei se deveria agradecer por isso.
- Finn, você faz um monte de coisas que eu não consigo. Quer dizer, você consegue conversar enquanto dirige, está literalmente tendo uma discussão comigo enquanto conduz uma máquina de metal pela estrada da morte.
- Você dramatiza muito o ato de dirigir.
- Tá, mas...você também conseguiu lembrar de praticamente todas as músicas que eu já comentei com você, e fez até uma coletânea.- Lembrei ele da fita que ele gravou pra mim.- Nem eu lembrava de tudo isso.
- Isso não foi grande coisa também, lembrar das coisas também não faz de mim inteligente.
- E os seus desenhos? Nossa, eu acho que eles são a coisa mais linda que eu já vi alguém fazer. Quer dizer, eu não conheço ninguém que faça nada parecido, e nem consigo me imaginar desenvolvendo destreza o suficiente pra...
- June, tá bom. Já entendi.- Ele me interrompeu.
Primeiro eu achei que ele tivesse ficado com raiva e eu não entendi o porquê. Mas quando vi a vermelhidão subindo do pescoço até as orelhas, entendi que era porque estava com vergonha.
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Pessoas Ruins
Novela Juvenil"Eu sou uma pessoa ruim, talvez seja difícil pra maioria das pessoas, simpatizarem comigo, e eu posso culpá-las? Elas nem me conhecem e já me odeiam, imagina se soubessem?" June Mallard não tem uma vida muito confortável, e apesar de passar o tempo...