Antes que eu soubesse que o Finn Hart morava perto da minha casa, gostava de desenhar, ficava vermelho à toa, tinha uma família estranha e uma cachorra maluca. As únicas coisas que eu sabia sobre ele, eram coisas que eu não tinha certeza. Rumores.
Eu odeio rumores.
Alguém conta uma mentira sobre você, e isso toma uma escala imensa, depois, todo mundo criou uma imagem de você que nem a sua própria mãe reconheceria. Existiam muitos sobre o Finn Hart. Esses que eu nunca levei muito a sério, pelo único motivo de que eu não interagia com ele.
Ele era o cara estranho que todo mundo tinha medo, que todo mundo evitava, e que todo mundo tinha uma coisa absurda pra contar sobre.
- Sulfite, manteiga e vegetal...parece tudo igual pra mim.
Nós dois estávamos na papelaria procurando material pra que ele pudesse dar início ao portfólio.
- Nada é igual a nada.- Eu respondi, tão entediada quanto ele.
- Por que tudo que você fala parece uma frase de efeito?
- É porque eu sou muuuito cativante.- Eu ironizei enquanto jogava o meu cabelo pra trás.
Ele riu de costas pra mim.
- Esse daqui serve, eu acho...nunca tive um desses.- Ele disse escolhendo um bloco, mas ainda o ficou encarando por um tempo.- Não acha que eu tô sendo muito cretino?
- Querido, você e eu já sabemos que você é meio cretino, precisa me dar um contexto.- Eu respondi.
- Tem uma porrada de gente tentando entrar nessa faculdade, gente que entende mesmo de arte...
- Ai meu Deus!- Eu disse me debruçando dramaticamente sobre uma pilha de caixas.- Por que você dificulta tanto a minha vida? E daí que eles entendem? A taxa de aceitação é de mais de 70%, vai dar certo.
- Não foi isso que eu quis dizer.
- Que foi? Tá com medo de não fazer amigos? Mal fala com ninguém daqui, por que se importa?
Essa última foi bem babaca da minha parte, mas na hora eu não tava nem aí.
- Eu tenho amigos, sim.- Ele devolveu.
- É, deve ser por isso que eu não saí do seu pé a dois meses e eu já te vi com um montão deles.- Eu ironizei, ainda sendo babaca.
- Isso porque eu não tenho um montão de amigos.- Ele me olhou de lado.- E também não é como se você vivesse cercada por uma multidão. Com quem você anda, além daquela baixinha?
Ding, ding, ding! A pergunta de um milhão de dólares!
- Eu ando com você.- Respondi.
Ele me olhou meio surpreso, antes de fazer aquela cara de folgado.
- Somos amigos?- Ele perguntou.
- Somos.- Eu disse, ainda firme.
- Tá bom.- Ele largou o que tinha em mãos e se aproximou um pouco.- Seríamos amigos, mesmo se eu não te desse carona todo dia?
- Não sei, talvez.- Eu respondi.
- Mesmo se não tivéssemos o acordo?- Ele chegou mais perto.
- Bem... há controvérsias, mas...
- Mesmo que eu não tivesse flagrado você?- Ele cochichou perto do meu ouvido e se afastou.
- As circunstâncias formaram esse vínculo, estamos aqui não é? Pra quê voltar no assunto?
- Porque você ainda acha que eu vou contar. Não tô certo? Você não confia em mim.
Aquilo era só meio verdade.

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Pessoas Ruins
Teen Fiction"Eu sou uma pessoa ruim, talvez seja difícil pra maioria das pessoas, simpatizarem comigo, e eu posso culpá-las? Elas nem me conhecem e já me odeiam, imagina se soubessem?" June Mallard não tem uma vida muito confortável, e apesar de passar o tempo...