Despedício

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No meio do dia, eu fui até o meu armário pra pegar o meu livro de história, e justamente o que eu pensava que iria acontecer, aconteceu.

Peter estava zanzando lá por perto igual a uma mosca, provavelmente fugindo da Saylor e dos amigos dele.

Eu abri a porta do meu armário e ele imediatamente se apoiou no armário do lado, como se a portinha fizesse uma barreira entre nós:

- Eaí, como você tá?- Ele perguntou.

- Eu tô bem, e você daria um péssimo traficante,sabia? Dá muita bandeira.- Respondi.- Pelo menos finge que tá esperando alguém.

Ele riu baixinho. E começou a olhar pros lados enquanto falava:

- A gente não pode usar a sala?

- Fala logo, o que você veio perguntar?- Eu estava impaciente fingindo que procurava algo no armário.

Ele ficou quieto por alguns segundos.

- Por que você tava brigando com o Finn Hart hoje de manhã?- Ele perguntou.

Eu sabia.

- A gente não tava brigando, era uma discussão amigável.- Respondi.

- Aquele cara não é amigável June, sabe o que dizem dele...Desde quando vocês se falam?

- Eu sei que ninguém nunca diz nada de você, Peter Duncan, mas mesmo assim, há muito pra se dizer...

- June.

- A gente se fala...- Eu bati a porta do armário e ele se assustou.-...desde o seu aniversário, quando você saiu batendo os pés da sala de ciências, e ele viu o que não devia.

Peter, que normalmente era corado e vigoroso, ficou pálido como uma folha de papel, e os olhos pareciam ter visto uma batida de carro. Mesmo assim ele se deu ao trabalho de baixar o tom de voz:

- Como assim, o que tá acontecendo?

- Nada que eu não consiga lidar sozinha.

- Ele tá chantageando você?

- Não, não está, eu só tô ficando de olho nele pra garantir que ele não fale nada.- Eu disse.

Eu não ia contar pro Peter nada sobre o que eu e o Hart estávamos de acordo até agora. Ele ia querer se meter, o que seria bem complicado.

- June, isso não vai acabar bem, eu vou falar com ele.- Ele disse confiante e nervoso ao mesmo tempo.

- Você não vai falar com ele.- Eu disse firme, qualquer um que nos visse poderia pensar que eu estava dando uma bronca no Peter.- Qualquer coisa que você fizer, pode virar a chave dele, e ele pode decidir contar, deixa comigo.

A cor parecia voltar aos poucos pro rosto dele.

- Tá, mas se ele tentar alguma coisa...

- Ele não vai.- Respondi rápido.

- Mas se...

- Eu chamo você.- Respondi e fiquei pra ver que a expressão dele ficou um pouco mais aliviada, ainda que estivesse ansioso.

Chegava a ser um pouco engraçado, só cogitar algo do tipo. Se o Hart fosse mesmo tentar alguma coisa comigo, ele teria feito enquanto eu estava na casa dele, ou no carro, ou até mesmo quando eu sugeri o acordo.

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