Yale

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A questão é que a minha noite teria sido muito boa, se eu não tivesse chegado em casa e tivesse dado de cara com a minúscula carta de rejeição de Yale em cima da mesa.

Dizem que você não pode ficar chateado com a rejeição de uma faculdade que não era nem a sua primeira opção, mas era a minha primeira resposta e era uma negativa. Daqui a pouco as próximas cartas iriam chegar, e aquilo não me deixou mais otimista.

Alguns dias depois, eu ganhei coragem pra perguntar pra Reggie:

- O MIT já enviou a resposta?

"Bola!"- Alguns garotos do futebol gritaram quando a bola oval acertou perto de um grupo de garotas que estavam conversando nas arquibancadas. Eles faziam de propósito durante o treino deles, só pra assustar elas.

- Não.- Ela respondeu. - Por quê? Recebeu alguma resposta?

- Yale me rejeitou.- Falei entortando o canto da boca. Ainda era amargo falar em voz alta

Ela me olhou com os olhos arregalados, ainda que estivesse muito sol, e eu estivesse prensando os meus.

- Que foi?- Eu tentei parecer casual.- Não é tão chocante assim.

Eu estava repetindo isso como um mantra a dias.

- Não, é que... sei lá...é que desde o início, eu achava ela mais a sua cara.- Ela confessou casualmente, mas pra mim, foi como uma porrada.

- Você acha?- Eu perguntei tentando conter o meu estresse.

- É, tipo...Hillary Clinton, Jodie Foster... acho que você ia se encaixar bem lá.

BOM ACHO QUE NUNCA VAMOS SABER.

E se a Reggie estivesse certa? E se o lugar mais adequado pra mim já tivesse me dado um pé na minha bunda e agora todos os outros sabem que eu não valho de nada e estão só esperando o momento certo de me rejeitar?

- Mas você se daria bem em qualquer lugar.- Ela continuou.

- Você me superestima, sabia disso?- Eu disse enquanto coçava a minha nuca com força, mesmo que não estivesse sentindo coceira, só estava ansiosa e queria manter as mãos ocupadas.

- Eu tô te dando suporte, é o que amigas fazem.

Nunca tinha tido uma amiga antes da Reggie. Eu não ligava muito pra outras pessoas, mas com ela, era diferente, eu queria que as coisas dessem certo pra ela.

- Obrigada, por ser minha amiga.- Eu disse sem pensar.

Ela levantou a vista e sorriu.

- Obrigada por me deixar ser.- Ela brincou.

"Bola!"

Dessa vez foi pra gente, nós duas cobrimos as cabeças com os braços e fechamos os olhos instintivamente.

Esperei um baque alto, ou que algo do tipo, mas não houve nada. Fiquei procurando a bola no chão e não vi, mas notei a presença de uma sombra à mais.

Eu sobressaltei quando vi o Hart parado do nosso lado segurando a bola.

- De onde você veio?!- Perguntei assombrada.

- Do inferno.- Ele respondeu tirando um lápis do bolso e enfiando na entrada de ar da bola.

Ele jogou de volta, não muito longe, e os garotos do time não se aproximaram um centímetro pra pegar de volta.

Percebi que a Reggie estava de queixo caído e o olho direito estava com uma espécie de tique nervoso. Eu puxei ela pela manga pra ficar mais perto de mim.

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