Mal entendidos

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Como cheguei tarde em casa, consegui evitar que a mamãe visse o curativo e as roupas do Finn. Embora eu soubesse que ia ter que mostrar tanto o meu braço quanto os meus óculos quebrados.

Na manhã seguinte, eu tive dificuldade pra esconder a gaze com as roupas sem que ela ficasse roçando ou correndo o risco de se desfazer. Ia ter que ficar aparente. Achei uma camisa de botões com mangas curtas e largas, assim ia poder respirar e só ia aparecer um pouquinho.

Meus óculos reservas pareciam meio estranhos agora que eu estava acostumada com o outro, esses eram de acetato e me deixavam com um aspecto de nerd de filme.

Notei também que eu havia ficado com um hematoma no meu cenho por causa da garrafada, que não deu pra cobrir com maquiagem.

O Finn veio me buscar naquela manhã. Claro que eu estava nervosa com toda a lixação que iria acontecer quando eu chegasse na escola, mas eu estava feliz por termos aquele momento tranquilo:

- Sabe, a gente não precisa ir. A gente pode matar aula. Podemos matar aula o resto da semana. - Ele sugeriu.

- É, mesmo se não levarmos em conta que iam ligar pros nossos pais, eu também não quero que além de vadia, me chamem de covarde. Vou ser uma vadia corajosa.

Ele me olhou com estranhamento, mas relevou:

- Tá, você é quem sabe.

- Mas até a gente chegar lá, eu quero fingir que esses problemas não existem, pode ser?- Pedi.

- O que você quiser.

- Você ficou tão solicito desde que transamos.- Comentei.

Ele se engasgou com o ar e riu de nervoso:

- Nada haver.

- Então, se a gente fosse matar aula, e não estou dizendo que vamos, o que você tinha em mente pra fazermos?

- Nem queira saber o que se passa na minha cabeça desde ontem.- Ele falou sorrindo, mas logo, o sorriso desapareceu.- Aliás, tudo bem com você? É que...você tinha dito antes que queria ir mais devagar.

- Um pouco tarde pra pensar nisso, não acha?- Brinquei.

Não foi uma boa hora, a julgar pelo jeito que ele coçou a nuca:

- Mas...não se arrepende, né?

Como ele podia pensar uma coisa dessas?

- Claro que não.- Respondi.- Você tá pensando demais.

Eu também pensava demais, mas não era bom que nós dois pensássemos demais.

Fiquei tão distraída, que nem percebi quando estacionamos, mas não no lugar de sempre, e sim no estacionamento da escola.

- Por que estacionar aqui hoje?

- Vou deixar ele por perto, caso você precise.

O Finn tava falando como se eu estivesse indo pra guerra, atravessar o fogo cruzado.

- Obrigada.

- Tem certeza de que não quer que eu acompanhe você lá dentro?

Discutimos isso ontem, antes de eu chegar em casa. Eu não queria que ele se envolvesse mais, então pedi que quando fôssemos pra escola, ele não andasse comigo, pra evitar problemas.

- Sim.

Ele pareceu decepcionado mas concordou. Quando foi abrir a porta, eu o segurei pelo braço:

- Só...mais uma coisa...pra me dar sorte?- Pedi me insinuando, ou tentando, porque eu ainda tinha vergonha de pedir.

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