O Allende

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No dia seguinte, o diretor continuava me cobrando uma reunião com um responsável, eu não sabia quanto tempo eu teria até ter que contar pra minha mãe.

Eu ainda não havia desembaraçado o cabelo, ele estava meio caótico e sem forma. Amanhã eu podia dar um jeito, não é como se o mundo fosse acabar.

Enquanto isso, Reggie, Eloise e Gabbie continuavam fingindo que não estavam tão curiosas, mas estavam, e muito. Podia sentir os espíritos delas se contorcendo, mas eu não ia dizer nada, então normalmente só falávamos sobre coisas superficiais. Coisas normais.

- Tá, quem ganharia uma partida de xadrez? Alguém que pode ler mentes? Ou alguém ver o futuro?- Eloise levantou a questão enquanto passávamos por um corredor.

- A telepata.- Reggie respondeu rápido.

- A pessoa que vê o futuro pode desistir se ela ver que não vai ganhar?- Gabbie questionou.

Eu estava tão distraída que não disse nada. Mas ouvi alguém me chamando:

- Ei! June! Me faz um favor?

Procurei quem era e vi Rachel Newman, no alto de uma escada articulada. Eu conhecia ela do meu vai e vem de atividades extracurriculares. Ela era uma versão mais sorridente e ao mesmo tempo, mais tensa de mim.

Ela estava pendurando uma faixa. Era a faixa que ia começar a contar os dias pro baile de formatura.

"Mas já?" Pensei.

- Pode me ajudar? Um dos garotos colocou os pregos ontem, e eu não alcanço onde ele colocou.- Ela pediu.

- Tá...- Eu aceitei de mal gosto.

Eu estava de saia, não parecia uma boa ideia subir uma escada, mas achei que já que era algo simples, eu podia ser rápida.

Ela desceu da escada me entregou a faixa. Quando ela desceu, percebi que estava com olheiras bem marcadas.

- O baile não é só no início de junho? Ainda estamos no meio de abril...

- Pois é, só temos menos dois meses pra organizar tudo. Dá vontade de me me enfiar num caminhão de lixo e me deixar ser compactada. Hahaha.- Ela brincou. Eu acho.

Não dava pra sentir falta dos clubes agora que eu estava olhando pra ela.

Os olhos dela ficaram desfocados:

- Tô atrasada pra uma reunião com os fornecedores.- Falou sozinha, e saiu de lá cortando caminho entre a multidão.- Sai da minha frente!- Ela gritou já longe.

Desviei o olhar pra não ter um deja vu, subi as escada e pendurei um lado da faixa. Me senti  estranha com as meninas esperando enquanto me encaravam.

- Quer que a gente segure a escada?- Reggie perguntou.

- Não, tudo bem, ela parece firme.- Eu respondi.

Enquanto eu arrastava a escada pra prender do outro lado, percebi que ainda estavam me encarando.

- Podem ir na frente, já acabo aqui.- Pedi que elas fossem.

Elas foram, mas pareciam a contragosto.

Subi na escada mais uma vez, e a minha mente começou a divagar sobre o baile. E se eu fazia mesmo questão de ir. Imaginei um cenário em que eu ganharia como rainha do baile e eles derrubariam um balde de sangue na minha cabeça, ao som de "Pocketful of Sunshine".

Divaguei até demais, porque do nada senti algo, ou melhor, alguém, levantar a parte de trás da minha saia e prender no cós justo quando eu estava com as mãos ocupadas.

Pessoas RuinsOnde histórias criam vida. Descubra agora