Depois de passar o resto da semana tentando enfiar a matéria goela abaixo do Hart, o fim de semana parecia um sonho.
Finalmente sábado, e eu estava de bobeira pela primeira vez em sei lá quanto tempo. Nós tínhamos a prova na segunda feira seguinte, mas não é como se eu já não estivesse segura sobre ela.
Eu e a minha mãe não tínhamos nos visto muito essa semana, e ela não planejava a visita ao papai já tinha um tempo, porque ela ainda não tinha conseguido nem uma folga, pelo contrário:
- June, me desculpe mesmo, você entende não é? Ela se desculpava enquanto se preparava pra sair.
Ela tinha conseguido um turno extra pro sábado, e eu ia acabar jantando sozinha, de novo.
- Não sou criança mãe, eu sei que você precisa trabalhar.- Eu disse tentando parecer indiferente.
Ela me olhou nos olhos enquanto sorria, se aproximou de mim no sofá e afagou o meu cabelo. Eu gostava que ela me afagasse enquanto eu estava sentada, porque já tinha muito tempo que eu não era menor do que ela, então eu me sentia como criança.
- Tá bom.- Ela disse tirando dinheiro do sutiã e me entregando.- Pede o que quiser pra jantar, assiste o que quiser na tv e vai dormir a hora que quiser.
- Parece a coisa responsável a se fazer.- Eu peguei a nota da mão dela e me aproximei pra ela beijar a minha bochecha.
Quando ela saiu eu já estava pensando em pedir comida chinesa e assistir as reprises de Miami Vice.
Estava um clima abafado, e eu estava recém tomada banho, vestindo o meu moletom constrangedor de ficar em casa. Ainda eram 17h e seria uma noite longa pelo jeito.
Eu tinha que ter cuidado pra não dormir no sofá, porque da última vez, o gato achou que eu tava morta e mordeu a minha cara.
De repente, ouço um estrondo do lado de fora, e mais outro logo em seguida.
Guaxinins nas latas de lixo foram a primeira coisa que me vieram a mente. Então corri porta a fora, pra espantar o que quer que fosse:
- Xô! Xô!
Mas quando abri a porta me deparei com uma gigante e familiar cachorra. Era a pitbull da casa do Hart. Ela estava inocentemente deitada na grama enquanto as nossas latas de lixo estavam desmaiadas. Reparei que as dos vizinhos também estavam.
- Kiki?- Chamei pra me certificar que era ela.
Me arrependi na hora, porque ela ficou instantaneamente agitada e saltitante. Olhei pelos arredores e não vi ninguém que poderia estar acompanhando ela.
Era só o que me faltava, justo no meu dia de folga, ter que devolver a cachorra do Finn Hart. Mas como?
Me ocorreu uma ideia meio estúpida, mas podia vir a calhar, até porque eu suspeitava que Kiki fosse um pouco estúpida. Fechei a mão em punho e a sacudi loucamente:
- Olha Kiki, uma bola!
Ela ficou extremamente fascinada e correu até os meus pés.
O meu gato estava bisbilhotando pela janela e com certeza julgando a cachorra.
Como eu não tinha a guia pra levar ela pra casa, fui todo o trajeto a pé, fazendo ela seguir bolas e gravetos imaginários. Não foi fácil, porque ela parecia ter o foco de um esquilo.
No caminho, presenciei a trilha de caos que ela deixou e quando cheguei no quintal dos Hart, vi que ela não havia só derrubado uma das latas de lixo, como também havia destruído um arbusto de tulipas brancas que eu havia gostado muito. Os Hart tinham um jardim bonito, muito mais bonito do que o da minha casa.
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Pessoas Ruins
Teen Fiction"Eu sou uma pessoa ruim, talvez seja difícil pra maioria das pessoas, simpatizarem comigo, e eu posso culpá-las? Elas nem me conhecem e já me odeiam, imagina se soubessem?" June Mallard não tem uma vida muito confortável, e apesar de passar o tempo...