UM

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ÂNGELO

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ÂNGELO


— Isso foi um completo desastre... - ouvi minha mãe dizer após soltar pela boca a fumaça do cigarro quase no fim. Ela estava com um humor péssimo, mas era de esperar levando em consideração a cena que havíamos acabado de presenciar na casa dos Laurent. — Un'assurdità

— Não pense demais, mamma - disse servindo vinho em duas taças — Vai fazer mal a sua saúde - lhe entreguei uma das taças e ela agradeceu com um sorriso quase sem vida.—  Olhe pelo lado bom, foi divertido. Viu a cara dos pais dela? E da irmã mais velha?Foi hilário.

— il mio incantevole angelo - ela suspirou após beber um pouco do líquido escuro — Esse é um assunto sério, o futuro da nossa familia depende disso. Precisamos escolher bem a mulher que dará continuidade a nossa linhagem, Ângelo. - assenti, ela estava certa sobre isso, mas ainda assim, tinha sido engraçado — Aquela garota, ela não é digna de carregar nosso sobrenome. Viu a forma como ela age? Ela se acha dona do mundo. 

— De qual das duas está falando? - indaguei meio confuso — As duas parecem exatamente iguais para mim, mamma

— As duas parecem exatamente iguais para você, mas meu filho não tirava os olhos da bella Virginia.

Limpei a garganta incomodado. Meu erro era subestimar a capacidade de signora Acsia Caccini de me conhecer melhor que eu mesmo. 

— Ela é bonita, não posso negar - dei de ombros. — Mas a mais jovem também não é de se jogar fora. 

— Não irei deixar meu único filho se casar com uma mulherzinha como aquela. A garota nem chegou a maioridade e já quer roubar o marido da irmã. Eu vou dar um jeito nisso.

— Os Laurent praticamente deixaram claro que vão fazer a vontade da mais nova, o que a senhora pode fazer para mudar isso sem causar uma guerra entre nossas famiglias? - indaguei divertidamente, mas eu estava realmente curioso sobre o que ela iria fazer. Minha mãe sempre conseguia o que queria e eu tinha certeza que dessa vez não seria diferente. 

— Por enquanto, apenas me diga qual das duas quer, meu mio incantevole angelo? - ela me olhou impaciente — Se quer realmente a mais nova, não irei me meter, agora, se a mais velha chamou sua atenção, eu vou fazê-la sua. 

— A senhora sabe que eu gosto de ver o circo pegar fogo - abri um sorriso, sem conseguir me controlar com a ideia de que poderíamos fazer tudo virar um caos ainda maior.  — O que eu preciso fazer para colaborar? 

*** 

— Como dormiu, mamma? - perguntei depositando um beijo em sua testa. Ela estava sentada a mesa de jantar, tomando seu café, lendo algo.

  Após a morte do meu pai, minha mãe assumiu seu cargo como consigliere, já que eu era jovem demais para assumir e só poderia quando me casasse. De dona de casa e mãe exemplar, Acsia Caccini se tornou uma mulher de negócios fria e sem coração, que fez os negócios decolarem de novo ao lado do nosso Capo, mas agora, ela estava cansada, segundo ela, era a hora de eu assumir meu lugar de dever e direito. 

— Depois de quase duas garrafas de vinho, como um anjo. - ela respondeu carrancuda, me fazendo rir ao me sentar. Além de uma mulher de negócios, o cargo de consigliere a deixou levemente alcoólatra, em um nível que se ela não bebesse pelo menos duas taças de vinho ao dia, alguém acabaria tendo a cabeça decepada. 

— Os Laurent deram alguma notícia? - perguntei inocentemente, me servindo suco de laranja que parecia ter sido feito minutos antes, o aroma era doce.   

— Não, mas em breve irão. - mamma respondeu, finalmente prendendo sua atenção a mim — Os convidei para tomar um chá mais tarde, nosso plano começa hoje. 

— Não vou decepcionar a senhora. - garanti. 

— Eu sei que não. 

Tomamos café em silêncio, como minha mãe gostava. Eu sabia todos os seus gotos e manias, assim como ela os meus, éramos uma boa dupla, mas eu nunca fui mimado ou tratado como um príncipe, principalmente por ela.

  Minha mãe sempre fez questão de me ensinar tudo que era preciso para sobreviver ao nosso mundo, eu não tive um pai presente, mas ela ocupou todo o espaço e me transformou no homem que sou hoje. 

Depois do café, decidi ir até a academia. Já que nessa casa não havia sala de treinamento e eu precisava alongar meus músculos. 

 O tempo demorou a passar, e eu fiz de tudo um pouco até dar a hora que as visitas chegariam, eu não podia negar que estava ansioso para que a diversão começasse, mas havia outra coisa tomando meus pensamentos.

Virgínia Laurent naquele vestido preto, que dava asas a imaginação e sua expressão dura, como se fosse apenas uma estátua bela e sem vida. Ela nem mesmo fez questão de forçar simpatia como os outros, mas isso apenas fez com que eu quisesse vê-la sorrindo pra mim. Queria ver como era seu sorriso, sua expressão despreocupada e queria conhecer o som que ela fazia quando estava chegando ao ápice.

Eu havia pensado nela a noite e o dia inteiro, como se minha mente pertencesse completamente a ela.

— Por que não vai dar uma volta? - Raul disse chamando minha atenção. Ele era meu amigo e seria meu braço direito quando eu assumisse o cargo de consigliere. — Estou começando a me preocupar com você.

— Eu estou bem. Apenas ansioso.

— Exatamente para o que?

— Para tê-la.

— Você acabou de conhecê-la. Não acha que esta exagerando um pouco?

— Talvez - dei de ombros, eu realmente não me importava de estar agindo impulsivamente. — Talvez eu tenha me apaixonado por ela a primeira vista.

Raul gargalhou alto, jogando a cabeça para trás.

— Seu nome pode significar anjo e você pode parecer com um, mas nós dois sabemos que não passa disso.

— Acha que eu não posso me apaixonar?

— Apenas humanos podem sentir tais emoções e você está longe de ser um.

As palavras de Raul me fizeram sorrir. Ele me conhecia tão bem que as vezes eu pensava em mata-lo.

— Senhor Ângelo? - o secretário da minha mãe entrou na sala de leitura onde estávamos. — Senhora Caccini pediu que o senhor descesse, as convidadas estão chegando e ela exige sua presença.

Assenti vendo o homem sair tão silenciosamente quando surgiu.

— Hora do show.

À PROVA DE BALASOnde histórias criam vida. Descubra agora