ÂNGELO CACCINI
— Hora de ir - Raul disse entrando no quarto onde eu estava me preparando para meu casamento.
Eu me arrumei no automático, dispensando qualquer ajuda, precisando de um tempo para pensar e assimilar tudo que estava finalmente acontecendo. Depois de tanta espera, finalmente estava acontecendo.
— Sim, estou indo - disse, arrumando minha gravata no pescoço.
— Os convidados já chegaram, só falta você e a noiva - Raul resmungou, caminhando até o carrinho com bebidas que foi deixado ali mais cedo por Jean a meu pedido, mesmo que eu nao tenha bebido nada ainda. — Aceita? - perguntou e eu assenti, me virando para ele. Raul encheu dois copos com wisky, me entregando um em seguida. — Um brinde ao seu casamento. - ele ergueu seu copo, forçando um sorriso. — Não acredito que isso tá acontecendo mesmo. - ele suspirou dramaticamente.
— Se você começar a chorar eu te dou um tiro - avisei sério, antes de virar o copo, controlando a vontade de beber mais. Eu precisava estar sóbrio. — O que te deixou de mal-humor? - perguntei, embora já soubesse.
— Meu avô veio falar comigo sobre Eugênia hoje de manhã - ele fez uma careta — Agora que você vai ser um homem de família, não vai demorar muito até que eu esteja preso também. Por favor, não tenha bebês logo, ou então, eu vou estar realmente muito fodido - ele brincou, sua voz voltando ao tom divertido e despreocupado de antes.
— Não sei se estou pronto para dividir minha mulher com pequenos humanos ainda, pra ser sincero - dei de ombros, me virando para o espelho, para verificar se meu terno de três peças estava alinhado e se meu cabelo estava no lugar certo.
— Ela não é sua mulher ainda - Raul disse, enchendo seu copo novamente e eu quis pedir para ele se controlar, mas, ele já estava irritado o bastante desde que foi informado por minha mãe que seria o par de Eugênia no casamento, pois ele era o meu padrinho e garota era uma das madrinhas de Virgínia.
— Ela é minha mulher desde o momento em que coloquei os olhos nela, Raul - respondi e a imagem do nosso primeiro encontro surgiu em minha mente. Ela descendo as escadas usando um vestido preto que desenhava seu corpo com exatidão, o olhar de indiferença e descontentamento, então vi, seus olhos cheio de desejo e submissão na noite anterior quando ela invadiu meu quarto e me beijou.
— Ela só não sabe disso - Raul devolveu e olhei seu reflexo amargurado pelo espelho.
— Ela sempre soube - respondi sem conseguir conter o sorriso de vitória. Eu tinha conseguido. Ela era minha e seria oficialmente depois dessa noite. — Mesmo que tenha tido certa dificuldade em admitir.
— De qualquer forma, você já deveria estar esperando por sua futura esposa no altar - ele deixou o copo vazio sobre o carrinho de bebidas e colocou as mãos no bolso da calça — Vamos lá, senhor Consigliere.
— Porra, não me lembre que agora vou ter que trabalhar - resmunguei o seguindo para fora do quarto e ouvi sua risada.
— Bem vindo ao mundo real, querido amigo - Raul jogou um braço ao redor dos meus olhos e eu o empurrei para que o idiota não acabasse amassando minha roupa — Acabou o sossego.
— Posso viver sem isso - contanto que eu a tenha, completei mentalmente. — E você, se acostume com a ideia de que será o próximo. Não tem para onde correr. Se conseguir escapar de Eugênia, vai cair nas mãos de outra.
— Posso dar um tiro na minha própria testa primeiro - ele riu.
— Eu me sentiria honrado se você me permitisse.
— "Você precisa gerar frutos" - Raul fez uma imitação forçada da voz cansada do seu avó — Aquele velho gagá, eu não sou um maldito pé de laranja! - ele rosnou irritado — Ele devia agradecer por eu não ter o colado no asilo ainda.
— Ele daria um tiro na sua testa antes de você tentar.
— É. Daria.
— Ângelo! - minha mãe surgiu na minha frente assim que viramos um corredor. Ela usava um vestido verde longo e seu cabelo estava preso, como sempre, Jean estava ao seu lado, segurando uma taça quase vazia de vinho. — Onde vocês dois estavam?! - ela brigou — Estão atrasados!
— E Virginia? - perguntei sem conseguir me conter.
— Ela vai estar no altar assim que você for para lá! Ande, não me faça te arrastar pela orelha, garoto! - observei minha mãe tomar a taça das mãos de Jean, que usava um terno chique no lugar de seu uniforme regular de mordomo, e beber tudo em um gole. — E você, Eugênia esta te esperando, nao esqueça que voces entraram juntos - ela disse a Raul, que assentiu nenhum pouco feliz — Andiamo! Andiamo! - minha mãe entregou novamente taça agora vazia para Jean e segurou meu braço impaciente.
Desci as escadas com minha mãe ao meu lado, e caminhamos até as portas da igreja, o lugar estava, no minimo, sofrendo de superlotação, rostos mais desconhecidos do que conhecidos, e eu tinha certeza que a maioria deles pensava assim também.
Tudo relacionado a minha união com Virgínia girava em torno de acordos para conseguir algo. Paz, dinheiro, contatos, favores... poder. Ninguém ali estava ali apenas para comemorar um casamento. Era mais que isso. Muito mais. E pra mim, era muito mais.
Seguimos em direção ao altar e com um beijo na bochecha, minha mãe me deixou lá, indo para seu lugar reservado na primeira fileira, ao lado de algumas outras senhoras.
O violino começou a tocar uma melodia suave e, Omar e Antônia Benevintti entraram, em seguida Pablo e Yeter Santoro e, por último, Raul e Eugênia Colombo. As três mulheres, madrinhas de Virgínia, estavam usando o mesmo modelo de vestido rosa.
Antônia Benevintti, primeira delas, a esposa do Capo, estava mostrando-se ao público depois de muito tempo, isso apenas para deixar claro para todos que a união foi bem recebida pela Cosa Nostra. Era uma honra que eles fossem nossos padrinhos. Isso demonstrava que, éramos próximos, demonstrava a união entre o Capo e o Consigliere, afinal, minha cerimônia de posse aconteceria em poucos dias.
Omar, Pablo e Raul se posicionaram ao meu lado, enquanto as garotas foram para perto da minha mãe, então, a melodia suave do violino se tornou mais alta e a orquestra começou a tocar a tão temida e esperada marcha nupcial.
As portas pesadas de madeira se abriram novamente e meu coração errou uma batida quando foquei meus olhos em Virgínia, vestida de noiva, caminhando sozinha até mim, com a cabeça erguida.
Eu não consegui tirar os olhos dela em nenhum momento, analisando cada parte dela, o vestido, o cabelo, os lábios pintados, o véu e a grinalda que se arrastavam no chão, enquanto ela caminhava lentamente até mim, exibindo a perna torneada na fenda do vestido que estava acabando com o pouco que restava da minha sanidade.
Notei o boque de amarilis rosas quando ela estava quase chegando até mim, e abri um pequeno sorriso. Eu daria mais flores para ela, encheria a nossa casa de flores se isso a deixasse feliz.
Quando ela finalmente estava em meu alcance, eu estendi a mão para ela e ergui até beijar o dorso da sua mão demoradamente, sem tirar os olhos dela.
Hoje.
Hoje.
Hoje.
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À PROVA DE BALAS
Любовные романы"Proteja seu Coração" Virgínia Caccini nem sempre foi a mulher culta que podia correr em seus scarpins em meio a um tiroteio. Virgínia - antes - Laurent, não foi criada para ser uma esposa troféu. Durante toda a sua vida, ela treinou para se torna...