SEIS

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VIRGÍNIA

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VIRGÍNIA

  A missão havia sido um sucesso completo, apenas houve um pequeno contratempo que eu consegui resolver sem ter muitos dos meus ossos quebrados. Mas eu não estava preocupada com isso, o que ocupou minha mente foram as palavras de Ângelo.

 Eu teria um problema grande se ele continuasse insistindo para que eu continuasse sendo a sua noiva, como era originalmente. Flora não ia reagir muito bem a isso, quer dizer, ela não reagiu. Minha irmã saiu do quarto furiosa e eu estava com medo do que ela acabaria fazendo para ter o que queria. Ela era uma criança mimada e nunca recebeu um "não" em toda a sua vida.

  Acsia Caccini me ajudou a tomar banho mesmo com a minha negação constante. Ela tirou minhas roupas com cuidado e esfregou meu corpo com delicadeza, tirando todo o sangue, a lama e toda a sujeira da minha pele, depois, ela trocou a água da banheira e lavou meus cabelos.

Embora eu estivesse com vergonha de ser vista sem roupa por ela, seu cuidado me deixou... estranha. Minha mãe nunca havia feito isso, ela nunca cuidou de mim daquela forma, então, uma completa estranha veio e o fez.

— Eu sempre quis ter uma menina - Acsia disse interrompendo o silêncio profundo do quarto. Pelo espelho de minha penteadeira, eu conseguia vê-la escovar meu cabelo escuro com todo o cuidado do mundo.

— Você só tem um filho...? - perguntei mesmo que não quisesse saber. Eu estava tão esgotada que não conseguia pensar direito, não sabia nem como era que estava conseguindo continuar com os olhos abertos. 

— Foi uma gestação difícil - respondeu após alguns instantes pensativos — Eu sofri inúmeros abortos espontâneos antes de conseguir segurar e depois de Ângelo, nenhuma gestação vingou.

— Sinto muito - foi o que eu consegui dizer.

— Tudo bem - ela deixou a escova sobre a penteadeira e eu observei meus cabelos, nunca tinham ficado tão bonitos como agora. Acsa segurou meus ombros com carinho e me encarou pelo espelho — Agora que você e Ângelo vão se casar, eu vou ter uma filha.

— E-eu...

— Eu sei que não quer, e sei seus motivos. É lindo na verdade você se sacrificar por sua irmã, mas, não estamos falando de um homem, Virgínia - seu aperto se tornou mais forte e suas palavras mais duras. Acsia continuava me encarando pelo espelho, era quase assustador. — A esposa do Consigliere, sabe o que isso significa? Você não vai ser um simples soldado, Virgínia. Você não merece viver assim para sempre. Você pode ter o mundo aos seus pés.

— Eu sei. Mas não posso fazer isso com minha irmã. - fui rápida em responder — Ela está apaixonada por seu filho.

— Não seja idiota - ela apertou mais forte ainda. — Ela é só uma criança egoísta. Não deixe que ela roube seu futuro. Não deixe que ela roube sua posição. Eu te escolhi, Virgínia. Eu venho te observando faz muito tempo. Você é única pessoa digna de assumir essa posição.

— Eu vou ser apenas esposa do seu filho...!

— Você vai fazer meu filho responder a você, igual eu fiz com o pai dele - ela soltou meus ombros — Você vai governar toda a Sicília se for esperta o suficiente e eu sei que você é. Eu vou estar ao seu lado para te guiar e te tornar uma mulher poderosa. Confie em mim, Virgínia. Você pode ter tudo, basta querer.

— Porque eu? - ousei perguntar. Eu não conseguia entender a fixação daquela família por mim.

— Porque não? Olhe pra você - ela segurou meu queixo, me fazendo olhar para a meu próprio reflexo — Você é uma lutadora, uma campeã, você é forte e inteligente, além do mais, você é linda. Assim como eu, você pode conseguir tudo o que quiser, só precisa fazer a escolha certa.

— Abandonar minha família, perder minha irmã e seguir você para um país desconhecido? Essa é a escolha certa? 

— Exatamente.

Eu abri um sorriso desacreditado.

— Eu não fui criada para ser esposa e mãe - disse por fim, cansada da discussão. Acsia não ia ceder, estava claro, mas também podia ser teimosa, pelo menos quando não sentia que havia sido espancada até a morte.

— Virgínia, nós, os Caccini, conseguimos tudo o que queremos - ela soltou meu rosto e se afastou, tornando a sua postura fria e distante — Não quero ser má com você, mas, serei se for necessário. - e dizendo essas palavras, saiu do meu quarto, me deixando sozinha, mas não por muito tempo.

 Com muito esforço, eu me levantei do puff e estava caminhando a passos de tartaruga até a cama, quando a porta foi aberta por Flora.

— Como você pode fazer isso comigo?! - ela perguntou com a voz embargada, eu podia ver, mesmo de longe, seu rosto angelical tomado pelas lágrimas.

— Flora...

— Eu te disse que o quero e mesmo assim você está aceitando se casar com ele! Que tipo de irmã é você?!

— Ele era meu noivo antes de você decidir que o queria... - eu disse entre dentes sem conseguir me conter, estava cansada dessa história. Estava cansada de Flora, de  Ângelo e de todos. — Mas nada mudou e eu continuo não querendo me casar com ele. - continuei quando ela tentou se aproximar — Eu preciso descansar Flora. Me deixe sozinha.

— Você fala que o quer mas ele continua insistindo em se casar com você! Seja sincera comigo, diga que o quer e vamos lutar por ele de forma justa!

— Flora, eu não tenho culpa se ele não quer se casar com uma pirralha mimada e insuportável como você - cuspi as palavras, já estava esgotada, queria dar um ponto final no assunto de uma vez por todas. — Me deixe em paz. Eu estou cansada de você, estou cansada de Ângelo Caccini e todo esse drama.

— Virginia... - ela parecia magoada com minhas palavras, mas eu estava exausta demais para me importar. — É isso que você pensa de mim?

— É isso que eles pensam de você - respondi — Agora, por favor, me deixe sozinha.

Flora me olhou por alguns instantes e saiu do quarto, batendo a porta com força. Eu respirei fundo, continuando meu trajeto até a cama, apagando no mesmo instante em que senti o colchão macio.

À PROVA DE BALASOnde histórias criam vida. Descubra agora