VIRGÍNIA
A noite parecia não ter fim, assim como minha raiva, as lagrimas tinha chegado ao fim rápido demais, dado lugar a uma fúria descontrolada, o que resultou no meu quarto, o meu antigo quarto, que agora seria meu novamente, totalmente destruído, espelhos quebrados, travesseiros rasgados, vasos de flores no chão, pinturas rasgadas.... mas mesmo assim eu ainda estava furiosa o suficiente para matar qualquer um que entrasse no meu campo de visão.
Depois de tomar um banho gelado mais demorado que o normal, eu vesti uma calça jeans junto com um suéter azul, eu estava prestes a sair do quarto, mas ao abrir a porta, Ângelo estava do outro lado do corredor.
Ele parecia péssimo, olheiras, cabelos despenteado e de pijamas. Eu não devia estar com o semblante muito melhor, mesmo depois de um banho.
— Não quero ver você, Ângelo - eu disse soltando um suspiro, ele estava abrindo a boca para falar, mas eu fui mais rápida e continuei — Por favor, eu preciso de espaço. - eu dei um passo para trás quando ele fez menção de se aproximar e ele parou no lugar, me olhando como se eu tivesse lhe dado um soco no estomago.
— Virginia, eu não toquei na descontrolada da sua irmã, eu juro - ele sussurrou e meu coração se apertou. Eu confiava nele, indo contra todos os meus princípios e tudo que eu acreditava antes... eu confiava em Ângelo e conhecia muito bem Flora, o suficiente para ter certeza entre qual os dois eu deveria confiar e apoiar, e essa pessoa não era a minha irmã mais nova, embora, eu quisesse que fosse. — Pelo menos não de forma consciente, já que eu não me lembro de nada - ele continuou, enquanto eu estava perdida entre suas palavras e meus pensamentos. — Eu juro, Virginia.
— Eu estou irritada com o que Flora fez, olhar pra você, só vai me deixar mais puta ainda. Nós dois vamos conversar quando Flora estiver longe o suficiente, tudo bem?
— Você acha que eu fiz isso, Virginia? Acha mesmo que depois de todo o trabalho que eu tive para ter você, eu ia ser estupido o suficiente para jogar tudo fora te traindo com a sua maldita irmã?! - ele gritou parecendo desesperado — Eu não sei como acabei nessa maldita situação, Virginia, mas não foi de forma voluntária, porra, eu te garanto!
— Eu confio em você - sussurrei e ele arregalou os olhos — Mas eu preciso de tempo, Ângelo. Preciso de tempo para assimilar toda essa merda, preciso de tempo para conseguir olhar pra você sem lembrar que Flora tocou em você!
— Você... você confia mesmo em mim? - seus olhos se dilataram em expectativa.
— Minha família tem um histórico, Ângelo... - eu resmunguei desviando o olhar, vê-lo tão abatido acabava comigo, eu só queria abraça-lo, mas meu estomago revirava com a ideia de toca-lo depois de tão pouco tempo em que minha irmã tenha feito. — A mãe da minha mãe fez a mesma coisa que Flora, a única diferença foi que ela acabou conseguindo o que queria e se casando com meu avô. Nossa avó contava orgulhosa para todos que o dopou e... bem, você sabe, no fim das contas ela estava gravida e meu avô assumiu a responsabilidade, eles se casaram, mas, pelo que comentavam, eles nunca foram um casal de verdade. Eu sempre achei um absurdo, mas Flora parecia totalmente adepta a ideia quando menores. Isso foi a primeira coisa que eu pensei quando entrei naquele quarto.
— Eu devia ter matado essa maldita fedelha quando tive a chance - a voz de Ângelo saiu como um rosnado.
— Ela vai voltar pra casa e, conhecendo bem meus pais, ela vai ser enviada para um convento ou algo assim - suspirei, sabendo que era algo pouco provável de acontecer, mas por algum motivo, eu queria acalma-lo. — Você deveria descansar... você está péssimo.
— Não é fácil descansar enquanto sua mulher está querendo distância de você. - ele sussurrou — Estou feliz que confie em mim, apesar de tudo. - ele enfiou a mão no bolso traseiro e me entregou um papel dobrado — Eu fiz um exame toxicológico essa madrugada. Flunitrazepam. Eu não sei como isso acabou no meu sistema, mas estava lá. Provavelmente foi enquanto eu voltava para casa, só lembro de entrar no meu carro e então, acordar naquele quarto. - ele fez uma careta.
Peguei o papel amassado e o segurei com força, sem nem abri-lo. Eu confiava em Ângelo, mas, ter um exame toxicológico que comprovava que ele foi dopado, tirou um peso enorme do meu peito.
— Eu queria tanto dar uma surra nela - sussurrei cansada, me encostando na porta atrás de mim ele fez o mesmo, apoiando-se na parede.
— Ninguém vai te julgar se o fizer, querida - Acsia disse, caminhando até nós. Ângelo no instante em que ouviu a voz da mãe, ficou ereto. — Ângelo, sinto muito por minha reação ontem, filho... eu devia saber que não faria algo assim - ela olhou para o filho e eu pude ver o arrependimento em seu olhos — Não com Virginia - ela concluiu — Me perdoe.
— Fico feliz que o exame toxicológico tenha a trago de volta a realidade - ele resmungou, claramente magoado com a mãe. E isso me deixava ainda mais irritada com Flora, ela era a culpada por toda essa bagunça na minha família.
— Acho que vocês dois precisam conversar - eu limpei minha garganta — Vou verificar Flora.
— Dê uma surra nela - Ângelo disse e ele não estava brincando, ele claramente faria se fosse o tipo de homem que batesse em mulheres, se ele qualquer outro homem dos que eu conhecia, Flora nem estaria viva para contar a história...
Eu ainda estava tentando entender o que se passava na cabeça dela para pensar que algo tão estúpido fosse dar certo. Ela havia ignorando o quanto isso poderia ferrar a família dela e a máfia a qual eles respondiam e sinceramente, eu esperava que Omar Benevintti ficasse sabendo e colocasse toda maldita Londres abaixo.
Entrei no quarto que sabia onde ela estava e a encontrei sentada na cama.
— Olá, irmã - ela sorriu, mas eu notei que ela estava nervosa, seu corpo estava tenso e a expressão alerta. Flora não sabia disfarçar.
— Você enlouqueceu, Flora?! - eu berrei impaciente — Você tem noção da merda que fez, por acaso?
— Eu não fiz nada sozinha - ela abriu um sorriso maldoso — Seu marido pode negar o quanto quiser, Virginia, mas ele estava mais que participativo noite passada...
— Guarde suas mentiras para mamãe e papai - eu disse, tentando me manter calma — Ou melhor, fique calada, todo mundo já sabe o que você fez e ninguém vai te apoiar ou te acobertar, entendeu? Sabe o que vai acontecer com você, irmãzinha, escute muito bem, você vai ser mandada para um maldito convento e nunca mais vai ver Ângelo na sua vida novamente, nós vamos ser muito felizes, enquanto você seca, sendo a vergonha para o sobrenome Laurent.
— Meus pais jamais iriam fazer isso comigo! Mamãe nunca vai permitir!
— Oh, mas essa é a ultima forma de você sair viva da Sicília, querida. Daqui direto pra um convento... - eu disse sorrindo, sentindo as mentiras pingarem por meus lábios facilmente e eu me dei conta de que era isso que eu queria.
— Você está mentindo! - Flora levantou-se de uma vez, mas eu ergui uma sobrancelha, ela sabia que não ia conseguir muito usando a força contra mim, isso a fez sentar-se novamente, me olhando com fúria.
— Aproveite sua estadia, irmãzinha, logo você vai começar a servir ao nosso senhor - eu sorri e dei as costas, deixando-a trancada no quarto.
Desci as escadas rapidamente e sorri ao ver Jean e Acsia deixando o escritório. Os dois trocaram um olhar confuso.
— Você bateu mesmo nela? - minha sogra perguntou, os olhos se arregalando em expectativa — Espero que ela precise de pontos!
— Nada disso, Acsia - eu não conseguia parar de sorrir. — Eu preciso falar com meus pais, tenho algumas exigências a serem cumpridas para o retorno seguro de Flora para Londres, assim como nosso sigilo em relação ao que ela fez.
— Exigências? - ela me olhou curiosa.
— Algo que vai machucar Flora e meus pais mais que uma surra - eu sussurrei.
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À PROVA DE BALAS
Romance"Proteja seu Coração" Virgínia Caccini nem sempre foi a mulher culta que podia correr em seus scarpins em meio a um tiroteio. Virgínia - antes - Laurent, não foi criada para ser uma esposa troféu. Durante toda a sua vida, ela treinou para se torna...