DEZENOVE

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ÂNGELO

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ÂNGELO

Embarcamos no nosso jatinho sem muitos problemas, a viagem não seria longa, então usei o tempo de voo para verificar alguns documentos sobre a destruição de armas, parecia que estava havendo uma incoerência nos dados de compra e venda, algo que estava deixando nosso Capo um tanto irritado.

Não era meu dever como futuro consigliere cuidar de algo assim, mas eu gostava de saber o que estava acontecendo e saber como resolver. Como herdeiro do posto agora ocupado por minha mãe e antes por meu falecido pai, eu tinha certas limitações, mas as coisas mudariam quando eu me casasse e me tornasse o Consigliere. Eu estava ansioso por isso.

Minha mãe, mais ainda. Ela vivia dizendo que estava cansada demais e que já tinha trabalhado mais que o necessário.

A viagem toda se deu no mais silêncio.

Notei que Virgínia cochilou algumas vezes, mas acordava rapidamente, sempre em alerta, diferente da minha mãe que bebeu o champanhe que foi oferecido pela aeromoça e depois de quase metade da garrafa, desabou na poltrona.

O único totalmente acordado, além de mim, era Raul, que não perdia a oportunidade de comer a aeromoça com os olhos. Ela era bonita, tinha que assumir, mas, Virgínia era muito mais, por isso, nem me dei ao trabalho de olha-la demais.

O único contente com isso era Raul. Ele a levaria para um banheiro qualquer assim que o jatinho pousasse e então, ele espalharia sua semente pelo mundo, como minha mãe gostava de dizer enquanto nos dava lições sobre responsabilidade e sobre o quanto filhos bastardos eram problemáticos.

Chegamos a Palermo e eu tive certa dificuldade em fazer minha mãe acordar, eu tive que gritar, o que a deixou irritada e de mau-humor. Ela saiu do jatinho praguejando como um marinheiro de cinquenta anos que nunca teve boas maneira durante toda a vida.

Virgínia parecia surpresa com sua atitude.

— Ela sempre fica assim quando está irritada - eu expliquei — O que não é algo tão raro de se acontecer. Na verdade, acontece com mais frequência do que eu gostaria, mas não dura muita, ela só precisa achar um bom vinho.

— Acho que ela devia maneirar com o álcool - Virgínia comentou enquanto desciamos as escadas do jatinho.

— Ela deve . Mas não vai, ela não quer, e, se ainda quer que ela goste de você, nunca diga isso a ela. Minha mãe é bastante sensível quando o assunto é esse. 

Virgínia assentiu, parecendo absorver todas as informações que eu dava a ela. Ela parecia tensa, mas não tanto quanto ela ficava tensa com os pais e a sua irmã insuportável. 

— A chave do seu carro, senhor - Jean disse se aproximando e me entregando. — A senhora Acsia já está sendo levada pelo motorista.

— Certifique-se de que ela descanse e coma alguma coisa antes disso, ela comeu pouco no brunch  - eu disse e ele assentiu, se afastando rapidamente.

— Nós não vamos ir encontra-la? - Virgínia perguntou.

— Vamos dar uma volta na cidade antes - eu disse jogando a chave para o alto e a pegando, repetindo o movimento enquanto andávamos. — Você precisa de muitas coisas...

— E Raul? Não vem? - voltou a perguntar e eu lhe lancei um olhar avaliador.

— Impressão minha ou você parece com medo de ficar sozinha comigo, anjo? - ergui a sobrancelha em desafio, Virgínia revirou os olhos cinzentos.

— Seu ego é inflado demais, Ângelo - ela resmungou e eu ri. Seria tão divertido irrita-la. 

— Vamos - eu estendi a mão para ela quando estávamos prestes a entrar no aeroporto. Virgínia ergueu a sobrancelha, pensando se aceitaria ou não. — Virgínia, aqui você não é ninguém sem a minha proteção, não antes de se tornar minha esposa e ter meu sobrenome, então, é melhor segurar minha mão. Nós já passamos a noite juntos, não seja tímida.

— Você é tão infantil - ela disse colocando sua mão sobre a minha. Apertei seu dedos entre os meus e seguimos para entrar no aeroporto.

— Sim, faz parte do meu charme - eu pisquei pra ela — E sobre Raul, ele deve estar fodendo a aeromoça no banheiro do nosso jatinho agora mesmo.

— Ângelo! - ela disse horrorizada e eu ri.

— Você perguntou - dei de ombros. — Eu apenas estou sendo um noivo prestativo. 

— Prestativo minha bunda... Você vai me enlouquecer antes do fim do dia - ela disse deixando um suspiro escapar — Que tipo de coisa eu fiz pra merecer esse castigo? Deus, por favor, seja qual for, saiba que eu estou arrependida.

— Você não é nada engraçada, anjo - eu falei mesmo que estivesse com vontade de rir do seu drama exagerado.

Após alguns minutos atravessando o Aeroporto Internacional de Palermo, onde o jatinho da família geralmente ficava guardado, nos chegamos ao estacionamento privativo. Virgínia tentou soltar minha mão, mas eu não permiti, a puxando até ela estar sentada no lado do passeio do meu Bentley.

— Coloque o cinto - avisei entrando do lado do motorista e encaixando a chave para ligar o carro, que entre os que eu tinha, era um dos meus favoritos. Talvez eu comprasse um para Virginia, se ela gostasse da ideia. 

— Pra quem ameaçou me matar, você está muito preocupado com minha segurança - Virgínia disse me lançando um olhar acusador, mas colocou o cinto logo em seguida e eu fiz o mesmo.

— Você é muito rancorosa, anjo - eu disse abrindo um sorriso calmo.

— Você nem imagina o quanto - ela devolveu — Onde estamos indo? - ela perguntou.

— Um passeio por Palermo - eu respondi — Pensei em te apresentar a cidade antes que eu não tenha tempo para isso, e nem você, depois que souberem que você está aqui, vai ser um pouco complicado te tirar de casa em segurança - eu expliquei — Mas se você estiver muito cansada, podemos ir pra casa agora.

— Tudo bem... - Virgínia me olhou pensativa — Quero conhecer a cidade antes de me tornar uma prisioneira.

— Não foi isso que eu falei...

— Eu entendi o que você quis dizer - ela disse — Por isso, estou falando para irmos logo.

Sorri satisfeito por sua escolha, eu estava com medo de que ela acabasse não querendo ir apenas por teimosia, mas pelo visto, Virgínia estava curiosa sobre o local que seria sua casa pelo resto das nossas vidas.

À PROVA DE BALASOnde histórias criam vida. Descubra agora