TRÊS

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VIRGÍNIA LAURENT

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VIRGÍNIA LAURENT

— Você está com uma cara péssima... - minha mãe comentou enquanto me acompanhava pelas araras de roupas da loja em que havíamos entrado, Flora já estava no provador experimentando cinco ou seis vestidos. — Não dormiu bem a noite?

— Levantei cedo para treinar - respondi.

— Eu estava acordada quando desceu - ela disse, deixando claro que sabia que eu havia mentido. — O que te preocupa tanto? - indagou séria — Esta chateada com Flora? Eu sei que o que ela fez foi errad-

— Mãe - a interrompi rapidamente, antes que ela entendesse errado — Eu não me importo se Flora vai se casar com o italiano, se é o que ela quer, eu estou bem com isso. Minha única preocupação é que os italianos não gostem de como ela agiu.

— Você é uma boa irmã - ela tocou meu ombro, me surpreendendo, não lembrava da ultima vez que ela havia tido um gesto tão carinhoso comigo — Mas saiba que não apoio a decisão de Flora. Ângelo Caccini é seu noivo, não dela.

 Assenti sem saber o que falar. Eu esperava que ela apoiasse Flora. Talvez ela estivesse falando isso por que sabia que eu não iria lutar por nada com Flora. Talvez ela só estava tentando me fazer me sentir um pouco melhor... Mas, porquê?

— O que acham desse? - Flora perguntou saindo do provador com um vestido amarelo florido, muito parecido com todos os outros que ela já tinha, mas manti o comentário pra mim. Flora não lidava muito bem com críticas.

— Parece uma princesa... - minha mãe disse, voltando toda sua atenção pra ela. — Podemos levar esse e o azul que vestiu antes do vermelho, o que acha?

— Por mim perfeito! - Flora exclamou dando pulinhos animada — Mamãe, ajude Vivi a escolher alguns vestidos também. - ela disse voltando para o provador.

Minha mãe me olhou sugestiva.

— Vai dar sua opinião ou eu posso escolher ao meu gosto? - indagou e eu dei de ombros, se eu fosse escolher, seria outro tubinho preto e as duas reclamariam por eu estar usando o de sempre.

***


No meio da tarde, estávamos todos indo para a casa dos Caccini. Meu pai com um dos seus melhores ternos, minha mãe, com um vestido novo cinza, a cor que mais usava, Flora com o vestido cheio de flores que ela amou e eu completamente desconfortável com um vestido azul cobalto curto e apertado demais, suas mangas chegavam ao meu pulso, mas o decote em "V" jogava meus seios para fora.

— Sejam simpáticas... - meu pai disse após limpar a garganta — Principalmente você, Virgínia. - ele me olhou ríspido — E quanto a você Flora, vai pedir desculpas pelo que aconteceu ontem assim que tiver a oportunidade.

— Desculpas? - minha irmã estava incrédula —Como assim desculpas?

— Ângelo é o noivo da sua irmã -  minha mãe interviu — Não viu a expressão da senhora Caccini? Ela não gostou de como se comportou. O certo a fazer é pedir desculpas e afirmar que ontem agiu pensando na sua irmã, que não estava falando serio e-

— Mas eu estava - Flora interrompeu — E eu estou falando serio. Eu gostei dele e eu tenho certeza que ele deve ter se sentido atraído por mim também.

— FLORA! - meu pai exclamou e pela primeira vez na vida eu o vi falar daquela forma com minha irmã, a única pessoa que estava mais surpresa que eu era ela mesma. Flora. Seu olhos verdes se encheram d'água e meu pai pareceu notar o que tinha acabado de fazer.

 O resto do trajeto até os Caccini foi um silêncio esmagador.

 Quando descemos do carro, já na propriedade rodeada por um enorme jardim, cheio de rosas vermelhas, fomos recebidos pelo homem que se intitulou o mordomo e nos levou até a sala de estar, onde mãe e filho estavam, e ao lado dele, outro rapaz, que parecia tão jovem quanto Ângelo Caccini.

— Chegaram bem a tempo. - Acsia Caccini disse se levantando para nos receber.

— É sempre um prazer responder a um convite seu. - meu pai respondeu, obediente, como um cachorro domesticado.

— A propriedade é linda. - Flora disse exibindo um sorriso monumental, mas que foi sumindo aos poucos ao notar o olhar de desaprovação do nosso pai.

 A senhora Caccini apenas sorriu, um sorriso forçado, que ela nem fez questão de esconder e se voltou para o filho, como se dissesse para uma criança emburrada de cinco anos para receber as visitas.

— É um prazer revê-los. - ele disse abrindo um sorriso amável, até demais. - Esse é meu amigo, Raul Espósito.

— É um prazer conhece-los. - Raúl disse e eu notei seu olhar avaliador sobre mim e Flora, me deixando incomodada.

 Sem mais conversa afiada, o chá foi servido e eu assisti Flora manusear todo aquele aparato com maestria, enquanto eu fingia estar gostando da água quente com gosto de mato. Chá nunca foi minha bebida favorita, eu preferia café. Eu sempre bebia café, me ajudava a manter o fico e ficar em alerta.

— Senhorita Virgínia? - a voz de Acsia quase me fez derrubar a xícara.

— S-sim, senhora? - tossi tentando disfarçar o susto que levei.

— O chá não é do seu agrado? - indagou e eu pensei bem antes de responder.

 Eu podia simplesmente sorrir e mentir, mas decidi ajudar Flora a ficar com o italiano que ela tanto queria. Eles provavelmente queriam uma esposa gentil, delicada e submissa. Eu seria o contrário disso. Apenas seria eu mesma, assim, eles me descartariam como noiva e Flora conseguiria realizar seu desejo. Todos ficaram felizes e satisfeitos. Eu principalmente.

— Na verdade... - devolvi a xícara de volta ao pires. — Não é meu forte.

 Diferente do que eu esperava a mulher sorriu, mostrando os dentes, de forma quase assustadora.

— Ótimo. - ela também deixou sua xícara de lado. — Que tal me acompanhar até a adaga para procurarmos um vinho de sua preferência?

Assenti meio sem reação. E a segui sem olhar para trás ou para os lados quando ela se levantou e saiu andando.

— Virgínia... - ela me chamou, me fazendo dar uma pequena corrida até chegar ao seu lado. — É um belo vestido, mas não me parece gostar dele, da próxima vez, vista algo que realmente gosta. Não dê ouvidos aos outros.

— Obrigada, senhora.... - respondi sem saber o que dizer. Eu não estava entendendo o que estava  acontecendo ali, então eu iria fazer de tudo para manter minha cabeça no lugar.

— Se eu puder te chamar só de Virgínia, acho que seria justo você também me chamar apenas de Acsia. - ela disse me olhando de forma gentil. — Em breve seremos da mesma família e os títulos não serão necessários, não acha?

— Do jeito que preferir, Acsia. - me forcei a falar, a vendo sorrir satisfeita. Um sorriso de  verdade.









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