Capítulo 2 - Quando tudo muda...

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KIRAZ
Nunca fomos ricos, mas sempre tivemos uma boa condição financeira, digamos que éramos classe média alta. Estudamos em escolas particulares, fizemos cursos de línguas, dança, música. Porém tudo mudou quando papai foi "traído" por seu sócio e quase perdeu tudo.
O sócio e amigo de infância de papai, Sr. Ferrat sempre foi muito correto e respeitável, porém quando ficou viúvo desandou... Inicialmente, ficou inconsolável, mas depois de alguns meses, começou a sair com mulheres, beber demais e se envolveu em jogos de azar. Ele acabou usando dinheiro da empresa deles em suas apostas, o que quase os levou a falência. Eles tinham uma rede de cafés e doces turcos (confeitarias) em vários pontos de Istambul, sendo que de 10 lojas, salvaram-se 2. Uma ficou com papai e a outra, com a filha do Sr Ferrat, Yesin.
Ela tinha se formado em administração de empresas há cerca de 3 anos e, após um corte na empresa, ficou desempregada. Ela estava trabalhando com eles, fazia poucos meses. Foi ela, quem percebeu os desvios de dinheiro do pai dela, e falou com papai.
Na maioria das lojas, o prédio era deles! As 3 primeiras a fechar, foram as que eram alugadas, dentro de shoppings. Quanto as demais, eles tiveram de vender os imóveis e a estrutura, para pagar as dívidas e se livrarem das ameaças de morte, que o Sr. Ferrat e, até papai, vinham sofrendo. O saldo foram duas lojas próprias.
Em nome da velha amizade e a contragosto dos nossos advogados, papai conseguiu sanar as dívidas e aceitou essa separação, onde cada um ficou com uma loja.
Com isso, cada um ficou com sua casa e uma loja. Yesin ficou muito agradecida aos meus pais, conseguiu interditar o tio Ferrat, para que ele se tratasse da depressão e dos vícios, especialmente o de jogar.
Depois disso, nossas famílias se afastaram e o único contato mais próximo é entre minha irmã e Yesin.
Ozan também vemos pouco e, recentemente, ele se mudou para um bairro mais distante. Talvez, para evitar que sua família descubra sobre sua orientação sexual e venha a causar mais desgosto ao seu pai.
Yesin se casou com um rapaz do nosso bairro e é feliz, segundo minha irmã. Sr. Ferrat continua morando na mesma casa, que é próxima à casa dela e trabalham juntos na confeitaria.
O esposo dela é médico, tem consultório e trabalha em um hospital.
Papai conversa com o Sr. Ferrat, quando se encontram, mas a amizade esfriou, já não frequentam a casa um do outro, como antigamente, nem fazem programas juntos.
Eu fico com pena, pois sinto que papai sente falta, mas acho que o próprio tio Ferrat, se envergonha de seus erros e prefere se manter afastado. Imagine se ele soubesse o que houve de fato entre eu e Ozan, ou sobre sua orientação sexual.
Eu estou mais refeita, porém ainda me ressinto de tudo isso, pois nossa vida mudou completamente. Nossos dias são mais silenciosos e sérios, não existe mais o entra e sai de uma casa para outra, nem as longas conversas, que eu tinha com Ozan, ou o colinho, que ele me dava quando eu estava triste.
Estou cada dia mais ciente de que sempre houve muito amor entre nós, mas um amor de irmãos. E está sendo difícil perder isso. Apesar da mágoa que ele me causou, sinto falta do seu abraço. Ele poderia ter sido honesto comigo, e jamais teríamos perdido a relação especial, que sempre houve entre nós...
Tudo isso mexeu demais na minha confiança nas pessoas, eu questiono minha capacidade de discernir as verdadeiras intenções das pessoas, para comigo. Será que eu vou conseguir me entregar a uma nova relação? Será que um dia amarei e serei amada? Era o meu maior desejo, mas também meu pior medo.

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