KIRAZ
Passei os dez dias em NYC sozinha e vim para Galápagos... Já me instalei no meu novo lar e a dor só aumenta. Talvez porque agora, eu tenho mais tempo para refletir sobre tudo o que aconteceu, estando mais consciente da falta que ele me faz...
Zeynep, Deniz e Yalin tentaram falar comigo de todas as formas, por várias vezes, mas eu estava irredutível em não querer escutar ninguém...Fiz algumas novas amizades, que apesar de não conhecerem minha história, me incentivavam a sair para me divertir! Íamos com frequência a um bar com karaokê e eu cantava algumas músicas, para relaxar. Uma noite o proprietário veio conversar comigo, pois gostou da minha voz e me convidou para cantar, por um cachê razoável, que me ajudaria nas despesas.
Eu estava trabalhando bastante na pesquisa durante o dia e, não queria ter um compromisso todas as noites, mas combinei com ele, que iria alguns dias da semana.Numa 6ª Feira à noite, eu estava no bar me apresentando, quando vi entrar um grupo de pessoas, que não costumavam frequentar o local. O lugar era escuro, dificultando a visualização, mas um dos caras me chamou a atenção... Não, não podia ser... O que Yalin estaria fazendo ali, ou eu estava alucinado?
Continuei minha apresentação, com uma música do Whitesnake, que representava muito do meu momento atual, do quanto preciso ser forte, para aceitar o meu destino e seguir em frente."...Here I go again on my own
Going down the only road I've ever known
Like a drifter, I was born to walk alone
But I've made up my mind
I ain't wasting no more timeI'm just another heart in need of rescue
Waiting on love's sweet charity
And I'm gonna hold on for the rest of my days
'Cause I know what it means
To walk along the lonely street of dreams..."(...E aqui vou eu de novo, sozinho
Seguindo pela única estrada que conheço
Como um andarilho, eu nasci para caminhar sozinho
Mas eu me decidi
Eu não vou perder mais tempo
Sou apenas outro coração que precisa de resgate
Esperando pela doce caridade do amor
E eu seguirei firme pelo resto de meus dias
Porque eu sei o que significa
Caminhar ao longo da rua solitária dos sonhos...)Here I Go Again
(Aqui Vou Eu De Novo)
Whistesnake
Composição: Bernie Marsden / David CoverdaleEu queria muito viver um amor verdadeiro, e eu achei, que o tinha encontrado em Yalin. Eu estava tão feliz! Mas, a vida prega algumas peças na gente, que nos fazem cair, as vezes num poço tão escuro e profundo, que nos dificulta submergir... Talvez, eu tenha nascido para caminhar sozinha pela vida. Então, eu preciso ter forças para aceitar e seguir em frente.
Eu estava compenetrada cantando de olhos fechados, com toda a minha alma, sentindo cada acorde e cada verso da música... Quando eu reabri os olhos, eu o vi, numa mesa, bem próxima ao palco... Então, eu não estava alucinando. Era ele em carne e osso. Mas o que ele fazia ali? Continuei cantando, olhando em seus olhos, algumas vezes, como se endereçasse a música a ele..
No final da música, anunciei o intervalo e desci do palco, me dirigindo ao bar. Pedi um whisky sem gelo e bebi de uma vez, sentindo aquele líquido âmbar descer queimando tudo por dentro de mim. O barman ficou surpreso e sinalizou, para que eu bebesse mais devagar... Eu coloquei o copo no balcão, pedi outro e estava virando, quando senti sua presença inconfundível, atrás de mim. Meu coração errou a batida.
Y: Kiraz... - Suspirou. Eu podia sentir sua respiração na minha nuca. Fiquei imóvel, por alguns segundos e virei a bebida. - Posso falar com você? - Respirei fundo, me imbuindo de coragem, para encara-lo, e me virei.
K: Será que existe algo a ser dito? - Ele me encarou, com os olhos tristes, como se suplicasse minha atenção.
Y: Eu sei que a cena que você viu, só depõe contra mim, mas eu te peço que me deixe explicar... - Eu o cortei.
K: Explicar o inexplicável? - Questionei.
Y: Digamos, explicar o aparentemente inexplicável. Parece mentira, mas eu não dormi com Leyla... Na verdade, eu não fiquei com nenhuma outra mulher, desde que estou com você. Eu...
K: Como diria Hegel, "contra fatos não há argumentos..." - Eu disse com veemência.
Y: Por favor, me escuta?! Eu jamais trairia você... Eu te amo! Estou vivendo um verdadeiro inferno sem você, sem falar da frustração de não ter compartilhado tudo o que eu preparei para te receber em NYC. Leyla... - Eu me virei e pedi outra dose de whisky, sob os protestos do barman e de Yalin...
K: Aquela mulher era Leyla? - Ele assentiu. - O que ela estava fazendo em NYC? - Ele me olhou, como se me incentivasse a dar continuidade ao meu raciocínio. A bebida começou fazer efeito e eu me senti tonta, com os pensamentos confusos. - Não importa! E você? O que está fazendo aqui? - Com minhas palavras saindo mais lentas, denunciando o quanto eu estava alta... - Preciso ir ao banheiro... - Disse me virando. Ele me seguiu. Quando eu me voltei para ele, para protestar, perdi o equilíbrio e ele me segurou em seus braços, ficando muito próximo de mim. Eu o encarei séria, mas logo comecei a rir...
K: Se for cair, que seja em braços fortes, para não ir direto com a cara no chão... - Ele sorriu. Quando me dei conta do quão próximos estávamos, fechei os punhos e comecei a bater em seu peito, ele segurou meus pulsos, me encostando na parede. Fiquei me debatendo, para que ele me soltasse. Ele suspendeu meus braços, segurando-os com uma das mãos sobre a minha cabeça, enquanto com a outra enlaçava a minha cintura, me puxando contra o seu corpo. - Yalin... - Eu respirei ofegante, levantando meus olhos em direção aos dele e vendo sua boca descer e capturar os meus lábios, impedindo que eu me mexesse, ou falasse... Ele me beijou suavemente, no início e, com violência depois, como se necessitasse ardentemente daquilo. Paramos para recuperar o fôlego e ele encostou a testa na minha, sem tirar os olhos dos meus.
Y: Como eu senti falta dessa boca... - Sussurrou... Ele soltou meus pulsos e eu fiz menção de fugir dali, mas minhas pernas fraquejaram. Ele me pegou no colo e saiu comigo para a parte externa. Meu estômago revirava e eu apaguei...Quando acordei no dia seguinte, estava com uma dor de cabeça horrorosa, numa cama, que eu não conhecia... Olhei para baixo e me vi só de calcinha, com uma camiseta enorme. Sentei depressa, olhando em volta e o vi sentado numa poltrona me observando.
K: Onde eu estou? Como eu vim parar aqui? Onde estão minhas roupas? Nós... - Ele esboçou um sorriso.
Y: Você está no meu quarto, no hotel em que estou hospedado. Você vomitou e sujou suas roupas, eu as tirei, enviei para a lavanderia e vesti uma camiseta minha em você.
K: Você me viu nua? Nós ... - Ele me interrompeu e continuou...
Y: Nada que eu já não tivesse visto. - Falou malicioso. - E não. Nós não fizemos sexo, apesar da saudade que eu estou de você, do seu cheiro, do seu corpo, eu jamais o faria, com você fora de si... - Eu me joguei nos travesseiros e respirei fundo. - Tome o comprimido e o suco de laranja, para você melhorar. - Falou em tom de repreensão, me oferecendo o copo e a pílula. - E jamais beba demais, estando sozinha. Qualquer cara mal intencionado, poderia se aproveitar da sua situação. - Eu me mantive muda, porque ele tinha razão...
Após tomar o remédio, eu me sentia tão indisposta, que cochilei novamente. Quando acordei, não o vi no quarto, mas escutei o barulho do chuveiro. Vi minhas roupas lavadas na poltrona, que ele estava sentado mais cedo. Fui até o espelho e constatei, que minha aparência estava péssima. Ele saiu do banheiro com uma toalha na cintura e outra secando os cabelos. Pequenas gotas de água, desciam pelo seu tórax e eu me senti impregnada pelo seu cheiro e pela bela visão.
Y: Quer tomar um banho, para curar a ressaca? - Eu assenti indo em direção ao banheiro. - Se precisar de ajuda é só chamar... - Imbecil.
Tomei banho, coloquei minhas roupas e sai para o quarto.
K: Eu vou indo! Muito obrigada...
Y: Eu vou levar você! Não adianta argumentar. - Concordei.
Chegando em minha casa, eu agradeci e estava descendo, quando ele falou.
Y: Kiraz, eu ficarei aqui, por um mês, pelo menos. Vou fazer umas fotos e vídeos, para um canal especializado em preservação ambiental. Minha ideia era fazer uma surpresa para você, antes daquele fatídico dia. Então, por tudo o que nós vivemos, eu gostaria que você ouvisse a minha versão dos fatos, eu te quero demais, sinto muito a sua falta. - Eu fiquei olhando para ele, respirei fundo e disse.
K: Vou pensar... - Seu olhar era de súplica.
Y: Eu sinto muita pena de estar perdendo, tanto tempo longe de você, por um motivo torpe como esse, decorrente da maldade de alguém, que quer nos separar. Não permita, que terceiros interfiram no nosso amor, na história linda que vínhamos construindo. Lütfen (Por favor)... - Ele colocou a mão no meu braço, eu olhei para ela e depois para seus olhos e desci do carro.
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Caminhos Cruzados
RomanceSerá que após uma grande decepção, atrelada à imposições sociais, o amor pode prevalecer? Quais os desígnios para cada um? A vida pode nos mostrar novos caminhos, com outras encruzilhadas? Nós devemos correr atrás? Ou será que nossos caminhos já est...