Epílogo

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4 anos depois...

Depois de 4 anos entre Nova York e Istambul, diante de uma nova gestação de Kiraz, estava chegando a hora de decidir onde eles fixariam residência. Yasemin estava próxima de ingressar na escola, sendo inviável mudar de país a cada 6 meses.
Eles viviam esse impasse, analisando todos os aspectos, para eleger a melhor decisão, quando Kiraz passou mal no 3º mês de gestação. Passado o susto e com ela ainda em repouso, eles conversaram.
Y: Acho que não poderemos mais adiar nossa decisão, especialmente com você precisando de repouso. Ainda bem que estávamos em Istambul e pudemos contar, no mínimo com nossas mães. - Kiraz sorriu.
K: Sim! Como eu poderia ficar sozinha com Yasemin, sempre que você precisasse sair?!
Y: Teríamos de contratar uma babá, além de alguém para cuidar da casa! Em Nova York isso é um pouco mais complicado. Mas...
K: Mas?! - Questionou.
Y: Nessa hora ter e estar próximo da família, pode ser importante! Eu... - Ela meneou a cabeça tentando entender onde ele queria chegar.
K: Diga? Em que está pensando? - Ele respirou fundo.
Y: Eu vivi muitos anos longe da minha família, mas é difícil, porque os dias não são iguais e nem todos são bons. A gente passa por muitos altos e baixos, fica doente... E quando estamos sem ninguém é mais difícil. Nós temos um ao outro e, só de viver esses últimos anos com você, eu tenho certeza de que nunca mais quero ficar sozinho. Além disso, eu quero que nossos filhos convivam com a família. Temos uma família maravilhosa, que se ama. Se temos uma opção de escolha... - Ele para, pensa e ri de lado. - Eu jamais pensei que diria isso, mas eu voto em Istambul. - Kiraz sorriu.
K: Eu sempre vivi rodeada da família e amigos. Gosto dessa coisa de andar em bando... - Ela ri e estende os braços para ele. Ela estava recostada não cama e quando ele se sentou, acariciou sua barba, olhando-o nos olhos. - Eu seria feliz em qualquer lugar, estando com você. Mas, concordo com a importância de criar laços e conviver com a família. Acho que nossos filhos merecem conhecer e conviver com seus avós e tios, ainda mais sabendo que são pessoas especiais. - Eles se abraçaram por um bom tempo.

KIRAZ
Eu e Yalin tivemos uma conversa franca sobre onde fixaríamos nossa residência, já que Yasemin está em idade de pensarmos em sua vida escolar! Vínhamos adiando essa decisão, mas estávamos num momento decisivo.
Além disso, minha segunda gestação é de risco e concluímos, que seria mais seguro estarmos ao lado da nossa família.
Na Universidade em Nova York existe a possibilidade de ministrar aulas EAD (educação à distância) e, com isso, eu poderia permanecer um tempo mais curto por lá, não havendo necessidade de ficar o semestre inteiro. Afinal, como não ministro aulas práticas, ou de laboratório, nem todas precisam ser presenciais.
Yalin é um super pai, paciente, carinhoso, participativo, me ajuda em tudo e tem uma relação muito especial com nossa filha. Eles são cúmplices, se entendem com um olhar e eu amo observá-los, escutar seus diálogos. Ele explica as coisas para ela de uma forma lúdica, conta histórias dentro do seu universo infantil, com a intenção de ensina-la e protegê-la. Ele é um talentoso contador de histórias, faz caras, bocas, altera a voz e emite sons, deixando Yasemin atenta, como se vivesse as situações narradas.
A noite sempre lemos um livro ou contamos uma história para ela, em geral algo que ilustre o que ela esteja vivendo, ou que aconteceu no seu dia. Muitas vezes ela dorme na metade, especialmente quando está muito cansada e temos de contar tudo de novo.
Hoje é o dia que tenho consulta médica e ultrassom. Talvez possamos saber o sexo dos bebê! Yalin está sempre comigo, não perde uma consulta! Ainda me lembro da emoção na primeira vez que escutamos o coração de Yasemin e agora, nesta gestação, não foi diferente. Nós curtimos cada consulta.
Eu fiquei quase 2 meses de repouso, inicialmente por conta de um descolamento de placenta. Agora, apesar de estar tudo mais tranquilo, a médica recomendou que eu não fizesse esforço, nem pegasse peso, o que significa não poder pegar Yasemin no colo. Yalin me olhou com empatia e disse:
Y: Eu a colocarei no seu colo, ou ela mesma virá quando quiser! Não fique chateada com isso! O importante é vocês estarem bem e saudáveis. Não?! - Eu assenti com os olhos marejados.
K: Não quero que ela pense, que está perdendo o colo para o bebê! Meu amor é igual... - Ele sorriu e enxugou um lágrima com o polegar.
Y: Querida, ela jamais se sentirá preterida, mas terá de aprender a dividir! - Falou acariciando meu rosto!
No ultrassom descobrimos que será um menino e ficamos muito felizes!
K: Mamãe vai ficar louca, quando souber! Agora é ela quem vai surtar, pois teve duas meninas! E com esses nossos irmãos, que não resolvem lhes dar netos... - Nós rimos.
Fomos para casa falando sobre possíveis nomes, que daremos para o nosso garoto.
Como eu previa meus pais enlouqueceram com a notícia e os de Yalin também. Com isso, nossa princesinha não perdeu seu reinado! Ela continuou sendo a única menina, por enquanto... Pelo menos até Deniz, ou Yildiz resolverem proliferar!

Passados alguns meses nosso bebê nasceu saudável, apesar de eu ter uma gravidez cheia de restrições, pelo risco de perder. Seu nome é Can, que significa alma. Ele é bastante parecido com o pai, assim como Yasemin parece uma miniatura minha. Ela é a ídola dele, quando ele a vê correr pela casa, sorri e balança o bracinhos todo feliz.

YALIN
Quando Kiraz engravidou de Can e precisou de repouso, decidimos viver em Istambul, inclusive para que nossos filhos pudessem conviver com a família. Foi a melhor escolha que fizemos, pois temos uma vida harmoniosa, junto aos nossos entes queridos, e eu fico mais tranquilo de saber, que temos um suporte ao redor.
Muitas vezes não valorizamos essa convivência, mas esse dia a dia me parece essencial. Quando os vejo com seus avós e o quanto eles aprendem sobre coisas da vida e tradições, eu compreendo a importância desses detalhes, pontuando os diferentes momentos e crises.
Eu adoro vê-los dormindo e, muitas vezes, eles vêm para nossa cama e se espalham, fazendo com que eu seja "expulso" para a poltrona ao lado. Então, fico ali velando o sono dos meus amores. Assim que percebi que estão dormindo mais profundamente, eu os levo para suas cama e volto a deitar com o meu anjo.
Hoje não foi diferente da maioria dos dias, mas quando voltei, apesar de deitar sorrateiramente, Kiraz despertou assim que eu a beijei de leve.
K: Oi... - Ela abriu os olhos.
Y: Oi. Desculpe, não queria te acordar. - Ficamos nos olhando nos olhos, por um longo tempo.
K: O tempo vai passar e eu nem sei como vai caber tanto amor, dentro do meu peito, porque eu te amo cada dia mais. - Ela falou com voz sonolenta.
Y: Eu também! - Ela acariciou minha barba e beijou meus lábios de leve. - Eu jamais pensei, que alguém pudesse cruzar meu caminho e mudar tudo, incluindo a direção.
K: E olha que nós tentamos resistir, mas o universo conspirou e aqui estamos... Temos uma família linda. - Ela me abraçou deitando em meu peito e suspiramos. Eu não podia ser mais feliz e realizada, como mulher, mãe e profissional! 
Y: Eu também, meu amor! Eu também!;

FIM!

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