Capítulo 65 - Como assim?

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YALIN
Eu consegui terminar meu trabalho uns 15 dias antes do previsto. Então, decidi voltar para Istambul e surpreender a todos! A única pessoa que sabia da minha volta era Yildiz, a irmã de Kiraz. Temos nos falado, com certa regularidade, pois eu pedi ajuda a ela, para eu administrar a surpresa, que eu estava organizando. Eu sabia que Kiraz iria para Cambridge e eu queria oficializar o nosso noivado, junto a família, como manda a tradição.
No dia anterior, eu havia falado com a secretaria de Deniz e ela me disse, que ele vai ao nosso apartamento, praticamente todos os dias, no final da tarde, mas que eu poderia ligar quando eu aterrizasse, que ela me daria uma posição mais precisa. Pedi a ela também, que guardasse segredo, pois queria surpreendê-los, já que nenhum deles sabia da antecipação da minha volta.
Assim que o avião pousou, falei com ela, que me confirmou sobre a presença de Deniz e Kiraz em nosso apartamento, para decidir alguns detalhes, que estavam pendentes. Fiquei feliz, pois encontraria com os dois e ainda veria o andamento das obras. Ela me informou, que caso eu chegasse antes, eles costumavam deixar uma cópia das chaves na portaria, que eu poderia subir direto e aguardá-los por lá. O rapaz da portaria não soube dizer se Deniz e Kiraz estavam no apartamento, pois ele tinha iniciado seu turno há poucos minutos e eu preferi não ser anunciado, mas informou que a equipe da reforma tinha acabado de sair.
Quando entrei no apartamento pela entrada de serviço, estava tudo aceso e silencioso. Estranhei não ouvir ruídos, ou sequer as vozes deles. Talvez não tivessem chegado.
Fui olhando em volta e gostando, por estar tudo praticamente pronto. Nós fomos escolhendo as cores e discutindo funcionalidades, para cada ambiente, juntos. Kiraz tinha feito um escritório para ela, com paredes acusticamente tratadas para tocar teclado e outros instrumentos, ou cantar sem incomodar os vizinhos. Eu também havia pedido, que preparassem um dos quartos para ser meu escritório e mini estúdio, quando estivesse por aqui e precisasse trabalhar. A home teather ficou sensacional, com um sofá enorme e aconchegante, cheio de almofadas. Já imaginei nós dois namorando ali... Aí que saudades da minha gata.
Estava tudo perfeito, muito clean e de excelente bom gosto. A varanda estava uma delícia, com plantas, flores e uma parede verde, com espreguiçadeiras e um espaço gourmet integrado com a sala de jantar. Eu podia ver o "dedo" de mamãe, Deniz e Kiraz nos diferentes espaços. Tinham detalhes personalizados, excluindo qualquer impessoalidade, dando uma identidade ao local, que evidenciava o meu jeito e o de Kiraz. Captar o gosto do cliente e materializa-lo é um talento, que poucos arquitetos têm e, modéstia a parte, nossa família conta com Deniz e mamãe, que são maravilhosos.
Já havia visto tudo e só faltava a suíte principal. Segui pelo corredor, ansioso com a representação do nosso lugar mais íntimo, nosso ninho de amor... Abri a porta sorrindo, mas quando entrei presenciei a pior cena da minha vida. Meu coração ficou acelerado e minha alegria desvaneceu...
Kiraz estava deitada no peito de Deniz, ambos aparentemente nus, sob os lençóis, com as roupas espalhadas pelo chão do quarto. Ela acordou primeiro e me olhou surpresa. Eu fiquei atônito e não conseguia me mover, ou acreditar no que via. Meus olhos ficaram marejados e eu respirei fundo...
Deniz despertou atordoado, sorriu quando me viu, mas ao olhar em volta, pareceu perdido, enquanto Kiraz puxava os lençóis se cobrindo e encolhendo as pernas, para junto do peito. Ele olhou por baixo dos lençóis e voltou a me encarar.
Y: Que porra está acontecendo aqui?! - Consegui gritar, após algum tempo, com a respiração ofegante.
D: Yalin? Eu... - Respirei fundo.
Y: Não precisa explicar... Tudo está claro. Não?! - Controlando a intensidade da voz.
K: Yalin, não é o que parece! Raciocina, por favor?! - Eu mordi os lábios e fiquei movendo a cabeça em sinal afirmativo, tentando manter o ritmo da respiração. - Eu e Deniz...
Y: Kiraz... - Gritei, mal me controlando. - Eu devia ter adivinhado, que duas pessoas jovens e carentes não deveriam ficar sozinhas por tanto tempo.
K: Cuidado com as palavras, você pode se arrepender depois... - Falou em tom de advertência.
Y: Você está me ameaçando?! - Questionei. - Eu confiei tanto em você, me entreguei como nunca havia feito... Eu pensava que você era única, diferente de todas que eu conheci, a mulher da minha vida... - Falei completamente alterado.
D: Chega! - Gritou. - Será que você não percebe, que isso é uma armação?! Você acha que eu seria capaz de fazer algo assim com você, com nós?! Eu sou seu irmão! - Falou me encarando.
Y: Isso é o que mais me dói... - Eu virei de costas e fui saindo do quarto.
D: Yalin... Espera. - Veio atrás de mim, colocando a roupa. - Eu sou apaixonado por Zeynep, não tenho olhos para outra mulher! Kiraz é louca por você e você é meu irmão. Jamais magoaria você, nunca vou querer te perder... Por favor?!
Sentia meu peito dilacerado.. Tudo o que ele dizia era coerente, mas não combinava com o que eu vi...
Y: Eu preciso sair, tomar um ar... Estou sufocando! - Respirei fundo.
K: Yalin, nós já vimos esse filme antes... Yalin?!  - Sai batendo a porta, a despeito dos chamados deles. Andei atordoado pela rua, seguindo pela orla, sem rumo... Após um longo tempo, me sentei com o olhar perdido, olhando o Bósforo ao cair da tarde. O céu alaranjado e as primeiras luzes acesas... Seria uma noite longa.

DENIZ
Eu olhei para Kiraz, já completamente vestida e ficamos refletindo sobre como isso podia ter acontecido e nada nos ocorria.
D: Qual a última coisa que você lembra? - Perguntei, tentando montar o quebra-cabeças.
K: A última coisa de que me recordo, foi de tomar água gelada de uma garrafa, que tinha na geladeira. - Falou pensativa.
D: Sim! Eu bebi água da geladeira, assim que cheguei. - Completei...
K: Alias, eu bebi como sugestão de um dos rapazes, que estava trabalhando! Eu fui pegar no filtro e ele sugeriu a água gelada! - Nós nos encaramos e fomos até a geladeira procurar a tal garrafa, mas não estava lá! Para nossa surpresa...
D: Claro, a prova do crime precisava ser eliminada! - Conclui. - Mais uma razão para acreditarmos, que essa água está a batizada. - Eu entendo que a cena foi forte, mas meu irmão não deveria cair nessa armação. Afinal, já foi vítima de algo semelhante. A pergunta que não quer calar é: "Quem faria tal coisa e por que?"- Ela esfrega as mãos no rosto, em sinal de cansaço.
K: O que faremos? - Questionou.
D: Vou tentar encontrar meu irmão e descobrir quem fez isso! Seria Leyla? Não consigo pensar em outro nome. Ela ameaçou vingar-se... - Lembrei da conversa, que Yalin me contou que teve com ela. - Ele deixou a bagagem dele aqui. Vou levar tudo para o estúdio dele, que está prontos, caso não voltemos para cá, não estará no meio da bagunça da reforma da sala. - Ela concordou e me ajudou. - Eu vou atrás dele, tentar localiza-lo. Se você quiser ir para casa, eu te ligo.
K: Está bem! - Concordou. - Acho melhor eu falar com ele, com a cabeça mais fria.
D: Sim! - Eu a abracei. - Por favor, não diga nada a Zeynep...
K: Fique tranquilo! Ela está longe e seria mais uma preocupada. - Sorri de canto.
D: Ou muito brava também...

Eu saí de lá ainda entorpecido, talvez pelo efeito da droga, ou da situação em si... provavelmente, por ambos.
Fui andando pelo calçadão sem sucesso. Onde ele poderia estar? Ninguém some assim...
Eu há estava quase desistindo de procurar... Liguei para ele várias vezes, mas ele não atendeu. Eu não queria preocupar meus pais, ao menos por enquanto, eu não os alertaria. Respondi às mensagens de Kiraz, dizendo que ainda não o tinha encontrado... sentei em um banco, questionando onde ele poderia estar, tentando pensar nas diferentes possibilidades, quando o meu celular tocou. Era um amigo meu da adolescência, que eu não falava há muito tempo, mas não estava com cabeça de até ser nesse momento e rejeitei a ligação. Mas, ele insistiu e, por fim, me enviou mensagem de texto: "Retorne assim que puder!". O que poderia ser? Decidi retornar.
D: Sinam? Tudo bem? Desculpe, só vi sua mensagem agora! Aconteceu alguma coisa?
S: Fala meu velho! Comigo tudo certo, mas com seu irmão não! Ele está muito bêbado... Acho melhor você vir buscá-lo. - Ele me passou o endereço do bar onde eles estavam e eu sigo para lá de táxi, pois meu carro ficou no prédio, já que sai de lá a pé!
Cheguei em alguns minutos, meu amigo aguardava na porta.
S: Corre! Eu tentei tirá-lo de lá, mas tem uma loira grudada nele, que não me deixou levá-lo. A coisa está esquisita, ele está muito alto e até a imprensa já esteve aqui!
D: A imprensa?! Tiraram várias fotos... Daqui há pouco deverão estar na internet, nos sites de fofocas. - Mais essa agora! - pensei- Vou ter de lidar com isso também?!
Entro no bar e vejo Leyla pendurada no pescoço de Yalin, completamente fora de si. Como ele conseguiu se embebedar tanto, em tão pouco tempo? Como Leyla sabia de sua volta e como o encontrou? Como assim?

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Nota da autora: Peço desculpas pela demora, mas estou com um problema no braço dificultando a escrita.
Pretendo fazer 2 contos, um com a história de Deniz & Zeynep e outro de Yildiz & ...

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