YALIN
Eu e Deniz levantamos cedo e fomos correr no calçadão na beira do Bósforo. O clima estava ótimo, o dia lindo, tudo perfeito e muito revigorante. Chegamos em casa e após o banho descemos para o café. Quando cheguei na sala de jantar, Aysell estava terminando de arrumar a mesa e sorriu para mim. Ela me abraçou forte e disse:
A: Ah, meu menino! Que bom que você voltou, senti tanto a sua falta. - Ela segurou meu rosto com as duas mãos e beijou minhas bochechas... Ela cuidou de nós, quando crianças, pois mamãe trabalhava. Ela foi nossa babá, nossa 2ª mãe. É muito querida!
D: Ah! Até você está me traindo? Esse cara tem mel, todos o querem. - Falou provocando-a.
A: Ah, meu garoto ciumento. Você sabe que eu amo os dois... - Todos sorrimos, inclusive mamãe que é super ciumenta. Mas Aysell é sua cúmplice!
Conversei um pouco com ela, perguntei de sua família, ela me contou sobre a irmã e meu coração estava quentinho, por tê-la em nossas vidas.Fui com Deniz para o escritório e no caminho liguei para Kiraz, convidando-a para ir conhecer o projeto "Nova era" comigo. Sugeri que ela nos encontrasse na Empresa, para vermos juntos e, mais tarde, se tivéssemos tempo, poderíamos ir no local. Ela aceitou.
Chegando na Empresa, eu peguei os portfólios e todo o material do projeto e fui para a sala de reuniões estuda-lo. O condomínio de casas seria construído numa área, que havia sido desmatada anos atrás.
Durante o período de tramitação das licenças, nossa Empresa havia reservado uma parte dessa área, para a criação de um viveiro com diferentes espécies de árvores nativas da região, que estavam em extinção, ou até extintas. As árvores já estavam com, pelo menos, 2 anos e a área estava tomando forma.
Na construção das casas seriam utilizados materiais recicláveis, de preferência reutilizados, ou sustentáveis. Seria utilizada energia solar e água de reuso... dentre outras especificações e cuidados.
Quando Kiraz chegou, ela pareceu resistente e relutante em aceitar o projeto. Porém, a medida que ela foi estudando-o, foi se encantando. Ela deu algumas sugestões, bastante interessantes e plausíveis, que foram acatadas por Deniz e meus pais, que a essa altura vieram acompanhar a nossa avaliação.
Mamãe e papai, que a princípio estavam apreensivos com ela, ficaram encantados com suas sugestões e educação. Sim! Ela se posicionou de forma firme,sem perder a doçura. Eu observava sua habilidade em convencer meus pais de suas ideias e me surpreendi com sua inteligência e conhecimento. Todos os seus argumentos eram bem fundamentados e não algo vazio, sem lastro.
Almoçamos todos juntos e, em seguida, eu e ela iriamos até o local do empreendimento, com o carro de Deniz, pois ele, papai e mamãe tinham outro compromisso.
O almoço foi bastante descontraído, ela falou um pouco sobre sua estada na Inglaterra e a diferença de costumes, em relação aos nossos. Eu concordei com ela em alguns aspectos, considerando minhas experiências, mas logo percebi, que a família dela era mais tradicional e mais rígida sobre as tradições turcas.
Meus pais a adoraram, se divertiram muito com seu jeito leve e brincalhão, tanto que a convidaram para sua festa daqui a dois dias.
No caminho para o empreendimento, fomos conversando trivialidades, ela me contou que sua irmã mais velha, também era arquiteta e trabalhava na empresa da minha família e eu me surpreendi.
Y: É mesmo? Acho que nem Deniz sabe disso. - Falei pensativo.
K: Na verdade, eu só me dei conta, quando comentei que estaria com vocês, hoje pela manhã. - Ela riu, balançando a cabeça.
Y: O que foi? - indaguei curioso.
K: Eu estou rindo de mim, do quanto eu sou desligada. - Eu a observei atentamente e quando ela percebeu ficou desconcertada.
Y: Não precisa ficar tímida. - Ela sorriu e me olhou de soslaio. - Mas me fala. Quer dizer que você canta? - Ela assentiu. - Mas, já cantou profissionalmente?
K: Sim... - Sorriu. - Eu já cantei como backing vocal na banda do meu ex noivo e como vocalista reserva, ou alternativa em uma banda de uns amigos em Cambridge.
Y: Você já foi noiva? - Ela assentiu e percebi que ela enrijeceu. - E por que não deu certo?
K: Ele me traiu... - Disse com simplicidade e mágoa?
Y: Sinto muito... Quanto tempo juntos?
K: Coisa arranjada. Fui prometida ao filho de um amigo de papai ao nascer... Sabe?! - Eu assenti.
Y: Faz tempo que acabou?
K: Cerca de 4 anos... Eu estava no último ano da faculdade. A ideia era casarmos, após minha formatura. Mas, como vê não aconteceu.
Y: Que bom! - Ela me olhou com estranheza. - Que bom que você descobriu antes do casamento. - Corrigi. - Quem ama, não trai.
K: Esse tipo de casamento imposto pela família, é complicado... Hoje eu percebo, que eu o amava como irmão. Fomos criados e estávamos sempre juntos, ele cuidava de nós, pois é 10 anos mais velho que eu. - Ela suspirou. - E você? Já teve, ou tem alguém? Foi casado?
Y: Sim, já tive alguém na época da faculdade, nunca me casei e estou sozinho, atualmente. - Respondi com simplicidade, tentando ver sua reação.
K: E como você foi parar em Nova York? - Perguntou curiosa.
Y: Eu fui fazer um curso de cinematografia em Los Angeles, no final recebi uma proposta de trabalho em Nova York e já moro há quase 10 nos nos EUA. - Expliquei. - Você conhece Nova York?
K: Adoraria, mas não tive oportunidade... ainda!
Y: Quem sabe você não vai me visitar? - Brinquei. Ela sorriu.
K: Você trabalha com o que?
Y: Com fotografia, produção de vídeos, documentários... Várias coisas relacionadas a fotografia e vídeo, amo captar a forma, o movimento... - Olhei para ela, que me observava intensamente. - Mas, sou arquiteto de formação.
K: Você usa Savage da Dior, não? - Ela perguntou de repente.
Y: Sim, você gosta? - Perguntei rápido...
K: Eu am... Gosto! - Eu sorri.
Y: Que bom! - Completei...- Espero que não seja o perfume do seu ex, ou de algum pretendente. - Ela riu.
K: Não! Eu gosto desse perfume, acho másculo e...
Y: E!? - Ela revirou os olhos.
K: Combina com você. - Respondeu me observando.
Y: Você é uma mulher muito interessante! - Comentei.
K: Por que você diz isso? Você me conhece tão pouco...
Y: Além de muito bonita e inteligente, é surpreendente, pois fala as coisas sem freio, sem medo de ser feliz. Gosto dessa franqueza. - Falei sinceramente.
K: Isso pode ser muito ruim... Voce não acha? - Questionou.
Y: Não necessariamente! Num mundo de tantas falsidades, a transparência faz toda a diferença. Não? - Eu a observo. Ela meneou a cabeça, considerando.Quando finalmente chegamos, andamos por tudo, visitamos o viveiro, curtimos a natureza, bebemos água na fonte e deitamos na grama conversando, brincando... Ela é uma companhia muito agradável!
Eu a olho ali, deitada ao meu lado, apontando as coisas, fazendo comentários e rindo... Ela me traz leveza e paz, como há muito tempo eu não sentia.
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Caminhos Cruzados
RomanceSerá que após uma grande decepção, atrelada à imposições sociais, o amor pode prevalecer? Quais os desígnios para cada um? A vida pode nos mostrar novos caminhos, com outras encruzilhadas? Nós devemos correr atrás? Ou será que nossos caminhos já est...