KIRAZ
No dia seguinte eu estava simplesmente arrasada. Eu sabia que toda aquela confusão era fruto de algo plantado. Na parte de Yalin, certamente tinha o dedo de Leyla, mas e aqui? Eu não conseguia aceitar que Furkan, que é meu professor há anos, estivesse envolvido nisso. Se bem, que ele insistiu muito para eu vir e teve aquela história de plano B... Eu tinha chorado tanto e estava tão nervosa, que logo após o café da manhã, vomitei tudo e passei boa parte da manhã enjoada. Margareth ficou preocupada e veio falar comigo.
M: Kiraz, você já pensou que pode estar grávida? - Furkan estava entrando no quarto e arregalou os olhos...
OF: Existe essa possibilidade, Kiraz? Quero dizer, você tem outros sinais? - Eu o encarei pensativa.
K: Bem, eu uso chip, mas nenhum método é infalível. Certo?! - Respondi reticente.
M: O pior é como faremos um teste aqui? Talvez indo no posto médico. - Falou pensativa.
OF: Vou me informar! - Ele saiu do quarto, parecendo apreensivo e eu fiquei conversando com Margareth.
M: Você está tão pensativa. O que se passa nessa cabecinha? Ehn? - Perguntou preocupada.
K: Bem, minha vida está uma confusão, acabei de ter uma discussão com o meu noivo e meus pais vão me matar, se eu estiver grávida. As tradições na Turquia são complicadas, é um país machista e meus pais são rígidos... - Respirei fundo.
M: Você acha que seu noivo a abandonaria?
K: Eu acredito que não! No mínimo, assumiria a paternidade... Não tenho dúvidas quanto a isso! - Suspirei. - Se ele me deixar, eu estarei em maus lençóis, porque nem emprego eu tenho... - Refleti.
M: Se você quiser viver em Nova York, você tem uma vaga na Universidade, no meu departamento. Eu queria ter conversado com você, antes da viagem e te fazer uma proposta, mas Furkan me convenceu de falarmos na expedição, assim poderíamos nos conhecer melhor. De toda forma foi bom, porque com a nossa convivência, eu ganhei uma amiga. - Ela refletiu.
K: Então você teria me convidado, mesmo que eu não viesse a expedição? - Perguntei incrédula.
M: Sim! Eu venho acompanhando seu trabalho, li a maioria dos seus artigos e, quando você me convidou para a sua banca fiquei lisonjeada. Eu havia entrado em contato com o Dr. Furkan, para saber mais sobre suas pesquisas em Galápagos e ele me falou um pouco sobre você. Ele me disse, que você estudou em Cambridge e que você pretendia morar em Nova York. Depois de uns dias, recebi seu convite para a banca e desde a sua defesa, que eu estou determinada a convida-la para o meu departamento. Eu conversei muito com ele sobre isso. - Eu sorri, tentando entender o que havia por trás das atitudes de Furkan. Qual seria a relação disso com as fotos? Ele não poderia estar interessado em mim, pois jamais tentou algo. Além disso, era casado e com uma história tão difícil... - Kiraz? Tudo bem? - Eu assenti.
K: Eu acho que toda essa situação me deixou atordoada. A discussão com Yalin, essa história das fotos, eu dormi mal, chorei muito, passei mal... Enfim, acho que preciso relaxar um pouco.
M: Descanse um pouco e converse com seu noivo. Hoje ele deve estar mais calmo e tudo ficará mais fácil de cabeça fria. - Eu concordei e me deitei um pouco. Depois escutei ela conversando com Furkan, mas não consegui entender o que diziam.
Eu tinha tido uma noite péssima e logo peguei no sono.YALIN
Minha noite foi péssima e o dia não estava sendo diferente, se eu não tivesse marcado uma sessão de fotos, eu nem sairia de casa. Eu não gosto de discutir com Kiraz, especialmente quando estamos tão distantes um do outro.
Chegando ao local, Leyla estava lá e a imprensa também.
Y: O que está acontecendo aqui? - Ela veio para o meu lado, toda altiva, pegajosa e cheia de sorrisos, mas eu me afastei.
L: Eles querem fazer uma entrevista, com a dupla do momento nas redes sociais. - Eu a encarei com uma cara de poucos amigos.
Y: Para começar nós não somos uma dupla. Eu aceitei esse trabalho, porque estaria em Istambul para os preparativos do meu casamento e, por coincidência, algumas das casas sustentáveis foram projetadas pela senhorita Leyla. - Vi seu sorriso desvanecer.
Jornalista: Vocês vão se casar? Quando? - Com um cara filmando e vários flashes em nossa direção.
Y: Não, eu não vou me casar com Leyla. Minha noiva chama-se Kiraz. Ela é bióloga, especialista em sustentabilidade, preservação ambiental e das espécies. - Falei mostrando o anel. - Vejam meu anel de noivado. Eu não costumo falar da minha vida privada, mas não posso permitir que distorçam a realidade.
Jornalista: Quando vocês se casam? Já têm uma data?
Y: Até o final deste ano! - Falei com um sorriso vitorioso, diante de uma Leyla visivelmente furiosa.
Jornalista: Então, não existe mais nada com a senhorita Leyla? Vocês já foram namorados, não? - Cutucou.
Y: Que eu saiba, a bigamia acabou há tempos! Se eu estou dizendo, que estou noivo e vou me casar com Kiraz, significa que não tenho nada mais com Leyla. Aliás, não temos nada há mais de 10 anos. - Falei sarcástico. - Vocês querem perguntar algo sobre o nosso projeto? Porque eu preciso trabalhar...
Eles fizeram mais algumas perguntas e se foram. Leyla tentou se aproximar, colocar as mãos em mim, mas eu me afastei, não permitindo sua aproximação.
L: Nossa! Por que você está tão arredio? Sua noiva não se garante e te impede de ser tocado, por suas amigas? - Questionou.
Y: Em primeiro lugar você não é minha amiga e eu já estou vacinado contra os seus joguinhos. Interessante essas fotos nossas, que apareceram nos sites de fofoca nos últimos dias. Não?! - Eu a encarei. - E sobre a minha noiva, ela sabe que eu a amo e só tenho olhos para ela. Então, não há concorrentes, ou com que se preocupar.
L: Ora Yalin, sobre as fotos a opinião pública nos quer juntos! Mas, tem gosto para tudo, o que eu posso fazer?! O pior cego é aquele que não quer ver! - Eu ri.
Y: Realmente, você não quer ver, que não existe nem sombra de possibilidade de eu estar com você! Nem que você fosse a última mulher na face da terra! - Falei taxativo. - Eu amo a Kiraz, ela é a mulher da minha vida. - Eu podia sentir faíscas de ódio vindo dos seus olhos. - Sabe o que eu não compreendo? Você que não me quis, porque achou mais vantajoso e preferiu ficar com outro, não nos vimos por mais de 10 anos e, de repente você resolveu que eu tenho que ser seu? Não é como se você tivesse se arrependido, depois de um mau passo, e viesse correndo para mim. Porque você esteve com o cara por muito mais tempo do que comigo e, só quando ele te trocou por outra, que você resolveu vir atrás de mim e pegar no meu pé. Que tipo de trouxa cairia numa história dessas. Ahn?! Francamente, chega a ser ofensivo, como você subestima minha inteligência e minha autoestima.
L: Então, tudo isso é orgulho ferido? Por isso, você não me quer de volta? - Questionou.
Y: Não! Eu realmente não sinto mais nada por você! Hoje eu sei, que eu nunca te amei, que foi apenas uma paixonite e que há males, que bem para bem! Eu sei bem a diferença. - Respirei fundo. - Depois que eu encontrei Kiraz, eu conheci o que é o amor, o que é amar e ser correspondido... Tudo é muito intenso, especial, diferente... Uma entrega de corpo e alma. - Falei com os olhos perdidos, buscando palavras para descrever as sensações referentes ao que estou dizendo. - Você deveria se permitir viver isso, tentar encontrar alguém que você ame de verdade. E, quem sabe um dia você me agradecerá, por não ceder às suas falcatruas e chantagens?! - Ela ficou com os olhos marejados, eu me virei e fui fazer o meu trabalho.
Mais tarde falaria com Kiraz, com mais calma...
VOCÊ ESTÁ LENDO
Caminhos Cruzados
RomanceSerá que após uma grande decepção, atrelada à imposições sociais, o amor pode prevalecer? Quais os desígnios para cada um? A vida pode nos mostrar novos caminhos, com outras encruzilhadas? Nós devemos correr atrás? Ou será que nossos caminhos já est...