KIRAZ
O domingo passou arrastado, Yalin foi ver seus pais e ficar um pouco com eles e eu com Yildiz, que estava arrasada e muito abatida.
Na 2ª Feira fui até a universidade e fiz a inscrição do pós doutorado, conforme eu havia me programado. Eu decidi isso no sábado, quando fiquei horas divagando nas pedras. Minha ideia era ganhar tempo e, caso eu decidisse não ir, trancaria o curso, ou faria outro tipo de pesquisa. Isso me trouxe um certo alívio, pois tirou o peso que eu estava sentindo.
Encontrei com meu orientador no campus e ele veio me dar um abraço, mais longo do que eu esperava, ou gostaria. Ele nunca agiu assim... Estranhei, mas não comentei nada.
OF: Acabei de saber que você se inscreveu para o pós doutorado. Excelente decisão! - Falou animado e eu fui franca com ele.
K: Eu fiz para ganhar tempo, pois estou numa fase conturbada e não queria deixar de ter essa opção. - Ele me olhou sério. - Caso eu mude de ideia, posso desistir da expedição e fazer outro tipo de pesquisa. - O sorriso foi morrendo em seu rosto. - Você acha que eu estou errada?
OF: Não. Acho que é uma opção, mas você poderia ter conversado comigo. Especialmente se está com alguma dúvida. - Comentou.
K: Eu não tenho dúvidas sobre a expedição e nem mesmo sobre as portas, que se abririam. Minhas dúvidas são relacionadas a questões pessoais, momento de vida. Eu e meu noivo estamos tentando conciliar nossas vidas e, principalmente, nossas agendas e essa viagem nesse momento, é um fator de conflito. Como teríamos pouco tempo para conversar, antes do final das inscrições, decidi me inscrever, inclusive para ganhar tempo.
OF: Eu entendo! Não permita que isso atrapalhe a sua carreira. Oportunidades como essa não surgem todos os dias, podendo ser única em sua vida. - Falou em tom de aviso, misturado com repreensão. - Você está segura sobre esse relacionamento?
K: Sim! Talvez em algum momento, eu tenha que fazer uma escolha e, certamente, essa será baseada no quesito de maior importância na minha vida. Agora, considerei que essa seria a minha melhor opção e prioridade.
OF: Você quem sabe! Se precisar conversar, estarei à disposição. Porém, continuo torcendo para que você vá! - Reforçou e eu sorri.
K: Obrigada por tudo! Daqui a dois dias irei para Cambridge, onde passarei os próximos 15 dias. Minha aula da defesa está quase pronta e te enviarei nos próximos dias, se houver alguma crítica ou sugestão, marcamos uma reunião on-line. Pode ser?! - Ele assentiu.
OF: Não sabia que você estava indo para Cambridge?! - Falou parecendo surpreso.
Y: Sim! Fui convidada a ministrar algumas aulas na graduação e na pós. - Ele sorriu.
OF: Nossa! Que legal! Você está ficando importante! - Eu sorri. - Como eu previa... - Baixando a voz, como se falasse para si mesmo. - Sucesso!
K: Seu apoio tem sido fundamental. Muito obrigada! - Respondi sinceramente.
Eu me despedi e pretendia voltar para casa, quando o Yalin me ligou.
Y: Bom dia! Tudo bem?! Onde você está?
K: Bom dia! Eu vim até a Universidade. - Eu não conversei com ele sobre a minha decisão, ainda, e preferia falar pessoalmente. - Eu precisava resolver umas pendências da tese. - Justifiquei.
Y: Hoje é último dia de inscrição do pós doutorado, não?! - Perguntou.
K: Sim! Mas, depois falamos sobre isso! - Tentei finalizar o assunto.
Y: Você se inscreveu, é isso?! - Questionou. Eu fingi que a ligação estava ruim, para não ter que responder.
K: Yalin? Alô?! Está me ouvindo?! - Silêncio. - Oi, você está aí?! - Desliguei e não atendi mais, como se estivesse em um local sem sinal da operadora. Para amenizar, após um tempo, enviei uma mensagem de texto, propondo que almoçássemos juntos, para conversar.
Marcamos num restaurante no Galataport, com uma vista sensacional do Bósforo. O dia estava lindo contribuindo e muito para o visual. Eu cheguei primeiro e ele logo a seguir.
Y: Essa escolha foi maravilhosa! Eu ainda não tinha vindo aqui, após a revitalização. Ficou muito lindo! - Sorriu e me abraçou. Ele se sentou a minha frente e segurou minhas mãos, me encarando. - Acho que precisamos conversar. - Eu suspirei.
Fizemos nossos pedidos e voltamos nossa atenção um para o outro.
Y: Quer começar?! - Eu assenti.
K: No sábado eu passei muito tempo sentada nas pedras, olhando o Bósforo... O dia estava lindo como hoje e isso me relaxa, mais do que qualquer calmante. Eu me sentia numa situação extremamente delicada, considerei que nesse momento, não precisávamos de mais um ponto de pressão e fiquei pensando como reduzir, ou pelo menos minimizar, os possíveis fatores de estresse. - Ele me ouvia em silêncio. - Então, decidi que me inscreveria... - Ele mudou a expressão, respirando fundo, visivelmente incomodado, mas se segurou. - Antes que você questione. Eu decidi fazer a inscrição, para ganhar tempo. Eu posso trancar a matrícula, ou desistir da expedição e investir em outra pesquisa... Eu não preciso levar essa viagem adiante. Acho, que nesse momento, eu e você temos coisas muito mais importantes para conversar e nos ocupar. Você não acha?!
Y: Muito bom! Compreendo seu raciocínio. Mas, por que você não me disse?! - Parecendo triste, por não ter participado da minha decisão.
K: Eu esperei até onde eu podia, para decidirmos juntos, pessoalmente. Mas, depois do ocorrido na 6ª feira, achei prudente deixar essa decisão difícil, mais para frente. Afinal, já estávamos sob tanta tensão. Não precisávamos de mais uma... - Ele pareceu ter suavizado a expressão em seu rosto e eu decidi ir para o próximo assunto. - Depois de amanhã, eu irei para Cambridge! Você virá comigo?!
Y: Pretendo! Você quer que eu vá?! - Eu meneei a cabeça e sorri para ele.
K: Muito...Acho que será importante termos esse tempo para nós! Se bem que eu vou para trabalhar... - Olhei em seus olhos e sorri!
Y: Eu posso esperar pelas horas vagas... Tenho esperado por tanto tempo, para estar com você, que sou capaz de suportar isso! - Ele sorriu de canto. - Você acha que eu posso assistir suas aulas? Ou ir como seu assistente?!
Naquele momento havia uma sintonia tão grande entre nós, que eu tive vontade de abraçá-lo, mas nós estávamos num restaurante, sentados à mesa, com muitas pessoas ao redor. Então eu sorri, com cumplicidade e segurei suas mãos.
K: Posso verificar isso! - Sorri.
Y: Sabe Kiraz, eu acho que jamais poderei explicar o que eu sinto por você e, muito menos, a sintonia existente entre nós. Eu só posso te dizer, que eu quero estar com você, onde quer que seja, que você é a razão, a atriz principal, todo o resto é complemento. Eu entendo, que se estivermos juntos, tudo pode ser ajeitado, ou resolvido. - Eu fiquei olhando para ele. - Você acha que eu estou errado? - Eu neguei com a cabeça e ele beijou minhas mãos.Fomos juntos para Cambridge e foi maravilhoso. Ele assistiu muitas das minhas aulas e até participou. Muitos alunos e professores o reconheceram, como fotógrafo e cinegrafista famoso, que ele é, fazendo muitas perguntas sobre sua opinião, principalmente do ponto de vista ecológico. Houve alguns dias, que ele fez sua própria programação, ou ficou no hotel resolvendo assuntos de trabalho.
Antes de voltarmos, ficamos alguns dias em Londres. Caminhamos bastante, fizemos programas de turistas, outros nem tanto e namoramos muito. Claro!Quando retornamos a Istambul, finalizamos as pendências do nosso apartamento, enquanto eu fazia os últimos preparativos para a minha defesa.
Em meio a toda essas demandas, Yalin fez uma surpresa para mim... Na noite após a defesa da minha tese, que por sinal foi um sucesso, ele preparou uma comemoração em família, na casa dos meus pais, onde aproveitou para oficializar nosso noivado. Seguindo todas as tradições, o senhor Carlo fez o pedido de casamento aos meus pais. Yildiz me ajudou a preparar o café e a salgar o de Yalin, que o tomou, sem esboçar qualquer careta, mostrando o quanto estava pronto para enfrentar sua vida comigo.
Acho que desde o início, de alguma forma, nós soubemos que estávamos destinados um ao outro, principalmente depois de tantas surpresas do destino, nos propiciando encontros não planejados e coincidências... Só não estávamos preparados para os obstáculos, que teríamos de superar, para nos mantermos juntos!
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Caminhos Cruzados
RomanceSerá que após uma grande decepção, atrelada à imposições sociais, o amor pode prevalecer? Quais os desígnios para cada um? A vida pode nos mostrar novos caminhos, com outras encruzilhadas? Nós devemos correr atrás? Ou será que nossos caminhos já est...