YALIN
Acordo cedo e ligo para Kiraz, meu coração estava apertado e eu sentia que precisava falar com ela! Mandei mensagem, para ver se ela estava disponível, eu precisava vê-la. Ela respondeu que sim, que estava em casa. Estranhei, será que ela não está bem?#Chamada de video on#
Y: Oi, meu amor. Tudo bem?! - Perguntei preocupado.
K: Bom dia para você! Tudo certo e com você!
Y: Tudo certo. Aconteceu alguma coisa? Estranhei você estar em casa!? - Questionei.
K: Eu ia te ligar, mas você foi mais rápido.
Y: Eu dormi mal, tive um sono agitado e acordei com o coração apertado... Ela me interrompeu.
K: Precisamos conversar! - Eu fiz menção com os olhos para ela continuar. - Eu recebi uma proposta para o pós doutorado...
Y: Sim, já falamos sobre isso!
K: Mas, dessa vez ele me ofereceu para participar de um grupo de pesquisas, com os melhores professores, pesquisadores e alunos das Universidades mais renomadas do mundo. Esse grupo participará de uma expedição na Antártida e eu sou uma das "mentes brilhantes", fez sinal de aspas com os dedos, como meu orientador gosta de falar. - Eu respiro fundo e a observo, sem conseguir emitir uma palavra. - Ele disse, que com isso, eu poderia lecionar em qualquer grande Universidade, inclusive em Nova York... - Ela fez uma pausa, suspirou. - Eu sei, que combinamos, que eu esperaria uma ano, até organizarmos nossas vidas, mas...
Y: Você está pensando em aceitar! - Concluí por ela...
K: Eu pensei, que precisávamos decidir isso juntos, porque é uma oportunidade minha, que interfere muito na nossa relação. Mas... - Ela enxugou uma lágrima.
Y: Mas?! - Perguntei.
K: Mas, eu pensei que poderemos fazer um sacrifício agora, para que no futuro possamos escolher onde queremos viver. Imagine se eu conseguisse lecionar na Columbia, por exemplo? - Eu fico encarando-a sem palavras. - Porém, eu não quero tomar nenhuma decisão sozinha.
Y: Você me pareceu bastante convencida do que quer! Estou enganado? - Perguntei ironicamente.
K: Eu estou tentando te mostrar os diferentes lados, porque se não houvesse pontos positivos, eu nem cogitaria. Mas, se você achar que não... - Eu a interrompi novamente.
Y: Eu te digo para não ir, você acata e, daqui há alguns anos, vai me dizer que eu a impedi de viver um sonho? O seu sonho?! - Eu respiro fundo e só consigo continuar, após alguns segundos. - Como eu poderia fazer isso com você? Com nós? Eu...
K: Eu sei, que não é algo para se dizer assim, que o ideal seria falarmos pessoalmente... Mas, eu tenho 10 dias, ou melhor, 8 dias agora, para responder, por causa do período de inscrições para o pós doutorado.
Y: Eu não sei o que dizer, mas não posso interferir na sua decisão! Não posso pedir para não ir... Entende?! Isso teria um peso enorme na nossa relação no futuro... - Ela suspirou. - Vamos fazer assim, você pensa com calma e eu penso também, depois voltamos a conversar. Pode ser? - Ela assentiu. Eu te amo Kiraz. Quero muito você junto à mim, mas quero que você seja feliz, realizada e, principalmente, que esteja inteira do meu lado, de corpo e alma, sem restrições. - Suas lágrimas fluíam pelo seu lindo rosto. - Eu quero que você tenha um tempo, para que possa digerir isso tudo, que escute seu coração e, só então, voltaremos a falar de peito aberto, sem medos. - Ela concordou.
Falamos mais um pouco e desligamos.Esclarecida a razão do meu coração estar tão apertado. Não que nossa conversa tenha melhorado essa sensação. Eu ainda não conseguia compreender, que tipo de ligação nós temos, para que eu pudesse senti-la a distância, com todas as suas angústias...
Eu poderia pedir a ela, que não fosse nessa expedição, mas eu jamais o faria... por mais que sua decisão me doesse, por mais que tivéssemos de enfrentar outro período grande de separação, de estarmos longe um do outro fisicamente. Hoje eu tive certeza, que podemos estar longe dos olhos, mas sempre perto do coração... Sim! Meu coração sentiu, não se enganou. Ele simplesmente sabia!
Decidi que faria o possível e o impossível, para terminar o meu trabalho e encontrá-la, assim poderíamos conversar pessoalmente. Nem que eu precisasse ir e voltar, para finaliza-lo.KIRAZ
Minha conversa com Yalin foi muito difícil, eu percebi o quanto doeu nele me deixar livre, para escolher, decidir... Numa luta interior gigante, ele mostrou essa nobreza de alma, que me liberou para eu fazer o que eu achasse melhor. Mas, o que poderia ser melhor do que estar com ele? Valeria a pena estarmos separados por tanto tempo, por causa desse título? Eu me perguntava constantemente, desde o dia em que conversei com meu orientador.Passados alguns dias, a reforma do nosso apartamento estava a todo vapor e estávamos em fase de finalização. Quando Yalin chegasse estaria tudo pronto. Nosso quarto ficou lindo, minha irmã e minha sogra estavam me ajudando na decoração. Deniz desenhou algumas peças exclusivas, que eu amei. Nós estávamos mais próximos a cada dia, um apoiando e dando força para o outro. Ele é um homem maravilhoso, menos intenso e menos passional que o irmão, mais centrado, como se um fosse fogo e o outro terra. Adoro a amizade, o amor e a cumplicidade, que existe entre eles.
O prazo para as inscrições foi prorrogado em 20 dias. Mas, eu ainda não tinha conseguido tomar uma decisão e Yalin evitava o assunto. De certa forma, ele queria que eu decidisse e eu o compreendia, pois achava que isso teria um peso enorme no nosso futuro. Uma decisão, que poderia ser péssima a curto prazo, mas excelente a longo prazo. Mas, qual preço pagaríamos, nós estávamos juntos há tão pouco tempo... Será que essa distância nesse momento seria saudável para o nosso amor? Por outro lado, eu precisava estar muito segura na minha decisão, para que eu não me arrependesse mais tarde e condenasse a nossa relação, por desistir dos meus sonhos. Se eu aceitasse iria logo após a defesa da minha tese, ou seja, ficaria muito pouco tempo com Yalin e partiria novamente. Ele não sabia ainda, a data de sua volta e estava há poucos dias da minha decisão...
Certa noite, faltando dois dias para o término das inscrições, eu fui ao apartamento encontrar com Deniz. Eu tentei marcar diretamente com ele, para decidirmos algumas questões, mas como ele estava fora, pedi a secretária dele que confirmasse. Ela confirmou a tarde, por mensagem, eu estava na rua e fui direto para lá.
Chegando ao apartamento, havia ainda alguns profissionais finalizando umas coisas de elétrica e automação, eu entrei e fui verificar o andamento das coisas. A equipe deles era muito eficiente, pois fazia um ou dois dias, que eu não vinha e, muitas coisas estavam completamente diferentes. O quarto estava pronto, com as cortinas e a roupa de cama, que eu escolhi com Yildiz. Tudo muito lindo! Espero que meu amor goste. Como as janelas era grandes e o apartamento ensolarado, especialmente pela manhã, percebi que as cortinas não seriam suficientes e precisaríamos de um black out, para minimizar a claridade, ao menos no quarto. Estava compenetrada vendo e anotando os últimos detalhes e acertos, enquanto aguardava Deniz. Fui à cozinha beber água e quando eu ia pegar do filtro, um rapaz me sugeriu que eu pegasse da geladeira, pois estava mais fresca. Estávamos em abril, mas o tempo já estava bastante quente nos últimos dias, então a sugestão foi bem vinda. Tomei a água, Deniz chegou, também bebeu água e fomos para o quarto e foi uma das últimas coisas de que me lembro...Acordei no que seria o nosso quarto seminua, coberta com lençóis e Deniz deitado ao meu lado, também coberto pelo lençol até a cintura e sem camisa, aparentemente dormindo. Eu estava completamente atordoada, sem entender como eu tinha ido parar ali, olhando para ele assustada, com a visão embaçada, quando vi a porta se abrir e Yalin entrar sorridente, até presenciar a cena e seu sorriso morrer...
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Nota da autora: peço desculpas na demora para postar esta última semana, mas estou com um problema no braço direito, que dificulta minha escrita. Espero que gostem e comentem! Obrigada!
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Caminhos Cruzados
RomanceSerá que após uma grande decepção, atrelada à imposições sociais, o amor pode prevalecer? Quais os desígnios para cada um? A vida pode nos mostrar novos caminhos, com outras encruzilhadas? Nós devemos correr atrás? Ou será que nossos caminhos já est...