Capítulo 40 - Muita calma nessa hora...

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DENIZ
Eu gostaria de saber, quem poderia ter armado essa situação. Porque nada bate com nada! A falta dessa licença, que não notamos, assim como o órgão emissor também não... sendo que se trata de uma etapa da tramitação do processo, sem falar da tal denúncia.
Papai sabiamente tirou Kiraz de lá. Eu mesmo o faria, se não tivesse que lidar com Yalin. Mamãe ficou desnorteada, com medo da reação de Yalin. Não que ele pudesse ser violento, ou pôr tudo a perder, mas medo dele se fechar novamente e "ir para a caverna"... 
Yalin é como uma ostra, o grão de areia, que o feriu, fez com que ele se fechasse e o transformasse numa linda pérola. Agora que ele estava se abrindo novamente, mostrando sua pérola, aconteceu isso.
Eu ainda não consegui visualizar toda a situação, nem os possíveis responsáveis! Mas posso enxergar a inocência de Kiraz. Quanto a Yalin, estou ao seu lado, tentando prever e conter reações, das quais ele possa se arrepender depois. Eu sei o quanto ele é viceral e impulsivo.
Chegamos em casa e ele quase não falou no caminho. Fomos para a biblioteca e eu lhe ofereci uma dose de whisky.
D: Cara, fala alguma coisa. Bota para fora o que você está sentindo. Só assim eu vou poder te ajudar. - Ele me olhou.
Y: A Kiraz, que está dentro de mim, seria incapaz de algo assim... - Falou com voz fraca.
D: Exatamente! E? - Finalmente um pouco de lucidez.
Y: Mas quem disse, que a Kiraz real, é a mesma pessoa, que está dentro de mim? - Suspirei.
D: Você está duvidando da sua capacidade de análise, sobre as pessoas? Você acha que não conhece a mulher que vive com você, o tempo todo, há 2 meses?
Y: Eu não sei, eu estou tão confuso... Eu achava que conhecia a Leyla, mas ela me surpreendeu, sendo totalmente diferente do que eu percebia. Eu me enganei por anos, com ela, até ela se revelar. Então, o que são 2 meses?
D: Você era um garoto inexperiente, agora você é um homem vivido. Em relação a Leyla, nós te alertamos várias vezes, sobre quem ela era. Mas, você estava tão apaixonado, que não conseguia ver... No caso de Kiraz é totalmente diferente...
Y: Qual a diferença? Eu estou completamente apaixonado, por ela e não consigo ver defeitos... - Eu suspirei cansado...
D: A diferença é ela! Ela é totalmente diferente de Leyla. Nós não vemos nela, alguém capaz de algo assim e nós não estamos apaixonados, por ela. Ela não poderia enganar a todos assim! Concorda?!
Y: Eu não sei... Eu estou perdido, porque eu não consigo sequer imaginar, como seria ficar sem ela... Eu fico doente só de pensar. Parece que vão arrancar um pedaço de mim!
Eu o abracei...
Y: Você me entende? Eu não sei como isso aconteceu, mas eu amo essa mulher e, a hipótese de perdê-la, está doendo... muito!
D: Você se permitiu, se abriu...
Y: Será que valeu a pena? Ela é tudo o que eu vejo, ou uma ilusão?
D: Segundo Fernando Pessoa, "tudo vale a pena se a alma não é pequena!"... E a sua não é pequena! Você é um cara sensível, amoroso, carinhoso. Kiraz te trouxe de volta... Eu me pergunto, como você pôde represar isso durante anos? Para onde você canalizou isso? Qual foi o ganho? E as consequências?! - Ele respirou fundo.
Y: Eu estava no controle dos meus sentimentos e da minha vida! Olha para mim agora! O que você vê? Alguém fora de si, que não consegue ter um raciocínio lógico, coerente, que sente faltar o ar...
D: Yalin, eu vejo alguém com um brilho nos olhos, com uma motivação e uma felicidade, que eu não via há anos. Eu vejo o meu irmão, irradiando uma energia, que eu não sentia mais. Você nunca percebeu o quanto você estava apagado, apenas sobrevivendo? Você não enxerga a diferença?
Y: O preço é muito alto, a dor e o medo também! - Falou com a voz embargada.
D: Cara, vou te dizer, que essa situação foi o estopim, para você deixar vir a tona, todos os seus medos e fantasmas... Mesmo que você não queira admitir nem para si!
Y: Como assim? Onde você quer chegar? - Questionou.
D: Que você está usando essa situação, para fugir de si mesmo, de todos os seus medos... Mas, escute bem o que eu vou te dizer, você pode ir embora agora, voltar para sua rotina, sem olhar para trás, mas você não vai conseguir se livrar de si mesmo. Não adianta fugir...
Y: Eu não sou um covarde! Eu só quero ter as rédeas da minha vida. - Argumentou.
D: Você não é um covarde, mas precisa ter muita coragem para se permitir e se entregar, para viver esse amor... Porque amar, você já ama e, isso não tem mais volta, falta você querer viver isso! Você quer? - Ele ficou me olhando, como se não estivesse compreendendo, mas no fundo, eu sei que ele entendeu muito bem!
Y: Você já amou alguém por acaso? - Questionou, como se o que eu disse fosse um absurdo. Eu respirei fundo.
D: Acho que eu nunca tinha amado uma mulher, antes... Mas, nunca senti nada parecido, com o que eu sinto por Zeynep. E eu confesso, que ela me tira do eixo, me deixa fragilizado muitas vezes e, apesar de tudo isso, eu não vejo um caminho de volta. Dá um frio na barriga, eu sei que posso quebrar a cara muito feio, mas não quero ficar sem ela... vai doer mais! É como uma droga, gera dependência, mas sem ser algo doentio... Ela está no controle, porque eu não quero abrir mão do que eu sinto, quando estou com ela. Isso é muito novo para mim, assusta, falta o ar, mas não vou deixar passar. Eu quero me abrir e deixar ela entrar, percorrendo todos os caminhos que eu desconheço dentro de mim. - Ele deu uma risada nervosa, negando com a cabeça...
Y: Kiraz tem percorrido muitos caminhos desconhecidos dentro de mim... Ela entrou em alguns lugares, que estavam empoeirados e cheios de teias de aranhas, por fazer muito tempo que eu não frequentava, mas também adentrou em lugares jamais transitados e outros ocultos... Ela tem uma capacidade de descobrir lugares escondidos, que eu sequer sabia que existiam. Na primeira vez que eu a beijei em Cambridge, acendeu uma luz no âmago do meu ser e, na dúvida, eu virei as costas e fui embora, sem olhar para trás.
D: E adiantou? - Perguntei sério.
Y: Por um tempo sim! Eu achei que não a veria novamente, não sabia quem ela era e continuei levando a minha vida... Quando eu a revi, não dimensionei. Mas quando eu a beijei... eu queria tudo com ela, ali mesmo... - Eu sorri.
D: Eu percebi que a vontade de vocês, é viver no quarto... - Brinquei com ele.
Y: É mais do que isso! Claro que eu tenho um tesāo por ela, que eu nunca tive por outra mulher. Mas, eu tenho uma necessidade de estar com ela, que transcende a coisa física. Como se houvesse uma conexão em outro nível. Eu estou completamente perdido... - Eu ri.
D: Perdido de amor... Yalin, com essa conexão, que você diz ter, você deveria saber que essa mulher, jamais faria isso!
Y: E se ela estiver nos enganando?
D: Mesmo que ela fosse uma excelente atriz e estivesse nos enganando o tempo todo, eu vou te perguntar de novo: O que ela ganharia com isso? - Ele me encarou. - Além de perder todo o trabalho, que vocês fizeram, não receberia por ele. E, sendo tão ardilosa, como seria tão descuidada ao ponto de deixar aparecer o seu nome na denúncia? Você não acha que o cara falou o nome do denunciante muito facilmente? Isso é uma informação sigilosa, sujeita a investigação. - Ele mordeu os lábios e respirou fundo...
Y: O que nós vamos fazer? Como vamos agir?
D: Antes de mais nada, vamos pensar, analisar todos os ângulos e agir com muita calma. Promete não tomar nenhuma decisão precipitada? - Ele respirou fundo e assentiu. - Ufa!

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