KIRAZ
Levei Yalin para o aeroporto e ficamos juntos até o tempo limite para ele entrar, passar pela imigração e chegar ao portão de embarque. Pedi que me mandasse notícias, assim que o avião pousasse, e eu prometi, que avisaria sobre a confirmação do horário do meu vôo. Ele queria me buscar no aeroporto, mas eu decidi fazer uma surpresa, chegando um dia antes. Eu havia conversado com o meu orientador e ele me garantiu, que a reunião seria rápida, mas não poderia mudar a data e horário.
Consegui resolver tudo na segunda-feira pela manhã, conforme o previsto, e a assistente de Deniz havia me ajudado a mudar a passagem para o mesmo dia à noite, mas Yalin pensava que eu só iria na terça-feira à noite e que chegaria lá no dia seguinte cedo.
Falamos durante todo o final de semana, por chamada de vídeo e por mensagens, estávamos ansiosos e com muita saudade. Eu falei com ele na segunda feira à tarde, antes de ir para o aeroporto e, por causa do fuso horário, só nos falaríamos no dia seguinte.
Eu desembarquei no aeroporto JFK na terça feira pela manhã, Deniz já havia me passado o endereço e me explicou onde ficava a chave reserva do apartamento de Yalin. Como cheguei bem cedo, fui entrando, presumindo que ele estaria dormindo. Eu mal poderia esperar para ver a sua cara de surpresa, quando eu o cobrisse de beijos... Porém, nada me preparou para a cena, que eu veria a seguir, nem nos meus piores pesadelos imaginei, ou sequer esperei algo assim. Tudo estava acontecendo de novo, com o homem que eu mais confiei e me entreguei, pensando ser o amor da minha vida... Como eu fui idiota! Ele estava com uma mulher loira na cama, ambos nus, com as roupas espalhadas pelo quarto. Ainda era muito cedo, eles dormiam, mas logo acordaram com o meu grito de espanto e de dor. Eu fiquei tão transtornada, que travei por alguns segundos, sem conseguir sair do lugar, minha cabeça girava e meus ouvidos zumbiam. A cara de surpresa de ambos, especialmente a de Yalin ficou gravada na minha mente... Acho que nunca vou poder esquecer...
Assim que consegui respirar, virei as costas, peguei minhas coisas e sai pelas ruas, com as lágrimas rolando pelo meu rosto, a vista embaçada atrapalhava, que eu enxergasse com clareza. Fui até uma área, que parecia um parque na beira do rio, onde eu via as pontes do Brooklin e de Manhattan, bem como a ski line de Manhattan, na margem oposta, como eu via nos filmes e tanto sonhei em conhecer com Yalin.
Sentei num banco, perdida, sem saber para onde ir. Pensei em ir para o aeroporto, tentar adiantar minha passagem para Galápagos e para onde eu havia despachado grande parte da minha bagagem direto, já que eu ficaria meses por lá. Para NYC, eu trouxe uma mala pequena, pois eu permaneceria apenas alguns dias. Pensei "respira Kiraz, respira". Meu celular estava no modo silencioso e eu resolvi avisar meus pais da minha chegada "inteira". Havia várias chamadas de Yalin, Deniz e até de Zeynep, mas não retornei nenhuma.
Decidi buscar no Google um albergue para estudantes ou um hostel, porque os hotéis são muito caros e, provavelmente, fora do meu orçamento. Achei um próximo ao Flatiron Building e do Madison Square Park, o American Dream Hostel, com um excelente custo benefício. A localização era muito boa, possibilitando fazer várias coisas a pé e tinha metrô próximo. Depois de algum tempo, consegui um táxi e pedi para me levar para lá. Quando estávamos saindo, vi Yalin descabelado, descalço de bermuda e camiseta, vindo em nossa direção...assim que nossos olhos se encontraram, ele sinalizou para o motorista parar, mas eu o mandei acelerar.
O hostel era muito limpo e organizado, com um café da manhã excelente, apesar do quarto ser bem pequeno. Mas, para que eu queria algo espaçoso, se eu mal ficaria por lá?!
Depois de instalada, finalmente atendi a uma ligação de Zeynep, eu precisava pedir que ela não contasse nada aos meus pais e ela já deveria saber de tudo, por Deniz.
K: Oi, tudo bem? - Ela suspirou quando eu atendi.
Z: Finalmente você atendeu, estávamos muito preocupados por aqui, Yalin já revirou a cidade atrás de você. E... - Eu a interrompi.
K: Zeynep me escuta, eu não quero mais ouvir falar no nome desse cara. Você já deve saber o que aconteceu. - Ela tentou falar, mas eu continuei. - Eu estou bem e não quero que você diga nada aos meus pais. Eu enviei mensagem, para eles, dizendo que cheguei bem e que vou atualiza-los diariamente. Eu vou ficar uns dias, já estou hospedada num local seguro e agradável. Eu estou bem, dentro da medida do possível.
Z: Kiraz, me escuta. Estamos todos muito preocupados, me diga onde está?! Yalin está desesperado, Deniz está quase pegando o avião e indo para aí...- Eu a interrompi.
K: Zeynep, eu não quero nunca mais ouvir o nome dele, ele que pensasse com a cabeça de cima e não com a de baixo! Eu o vi na cama com uma mulher, ambos nus, com as roupas espalhadas pelo quarto e pela sala, ninguém me contou... - Respirei fundo, tentando conter as lágrimas. - Eu vou conhecer o que for possível, por aqui, e seguir em frente, como o fiz da outra vez, já estou vacinada... - Falei com a voz embargada. - Eu estou bem, sou maior de idade, já morei na Inglaterra sozinha, falo inglês fluentemente e vou aproveitar minha estadia. Não vou dizer onde estou, porque não quero ser encontrada, quero ficar sozinha comigo, organizar meus pensamentos... Não insista. Por favor?! Você pode ligar quando quiser, para constatar que estou bem. Te amo amiga. - Desliguei o telefone, sem deixá-la falar.
Fiquei 10 dias, conforme o programado, conheci alguns lugares, andei muito, mas não vi mais Yalin. Graças a Allah!
Fui ao Metropolitan e ao MOMA, caminhei pela High Line Park, visitei o memorial de 11 de setembro, o One Word Observatory e o Oculus, caminhei pelo Battery Park, 5th Avenue, Central Park, subi no Empire State Building, fiz a Circle Line, andei pelo centro financeiro e pelo Soho. Não voltei ao DUMBO e nem fui ao Brooklin, para evitar de encontrar o Yalin, mas atravessei a Brooklin Bridge a pé, tirando várias fotos no final da tarde. Fui comer no Le District, no Eataly e no Chelsea Market. Tem um Eataly próximo ao hostel e outro no Oculus, estive em ambos. Fiz algumas compras e visitei a Columbia University. Foram dias intensos.
Fui assistir algumas peças na Broadway, consegui ingressos com desconto, comprando na tickets próximo do horário do espetáculo e, em geral, me sentei na orquestra, onde estão os melhores lugares. Um dos meus sonhos era assistir o "Fantasma da Ópera", que eu amei e me debulhei em lágrimas... Assisti também "A Bela e a Fera", que é maravilhosa, especialmente na parte em que os utensílios da casa começaram a dançar... eu perdi o fôlego, com todas aquelas luzes. Em "Mama Mia" me diverti e ri muito, mas foi impossível não me emocionar quando eles cantaram The winner takes it all (O vencedor leva tudo)... A letra era perfeita para o meu momento...
Durante grande parte do tempo, procurei não pensar muito nele, como se isso fosse possível... Porém, como eu andava muito e o dia todo, o cansaço me ajudava a dormir mais rápido, mesmo que eu chorasse todas as noites, sozinha no meu quarto, sentindo meu peito dilacerado.
Jamais pensei que voltaria a passar por isso, novamente, especialmente com Yalin. Ele parecia me amar tanto... Desta vez, a dor foi muito pior, porque Ozan praticamente nunca me tocou, enquanto com Yalin eu me entreguei de corpo e alma. Eu podia sentir o seu cheiro, os toques dele, a textura de sua pele, ele dentro de mim... As lembranças de tudo o que vivemos, de todas as vezes que fizemos amor, estavam muito vivas! Era como se ele estivesse impregnado no meu corpo, na minha mente, na minha alma...
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Caminhos Cruzados
RomanceSerá que após uma grande decepção, atrelada à imposições sociais, o amor pode prevalecer? Quais os desígnios para cada um? A vida pode nos mostrar novos caminhos, com outras encruzilhadas? Nós devemos correr atrás? Ou será que nossos caminhos já est...