Capítulo 56 - Prova de fogo

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KIRAZ
O pedido de Yalin me pegou de surpresa. Não que eu não esperasse, já que ficamos noivos, mas tudo estava acontecendo tão rápido, que eu me sentia numa montanha russa. É claro que eu o queria mais do que tudo, mas aquilo tudo era tão novo e repentino, que me tirava o fôlego! Respirei fundo...
Y: Kiraz?! Tudo bem? Você precisa de mais tempo? Está insegura sobre seus sentimentos? Por que... - Eu o interrompi com um beijo, naquela boca gostosa... e ele correspondeu. - Oh, gata. Você quer me matar do coração? - Falou acariciando meu rosto e olhando dos meus olhos.
K: Evet (Sim), eu aceito ser sua esposa, sua mulher, sua amante... - Ele me pegou no colo e eu coloquei minhas pernas na sua cintura. Ficamos ali nos beijando no maior amasso, inicialmente com ele me prensando contra parede e, depois ele se sentou comigo no colo numa poltrona na sala. Ele me olhou sério, passando as mãos nos meus cabelos, no meu rosto, segurando-o com as duas mãos e disse cheio de carinho.
Y: O que você está fazendo comigo? Hein? Eu já não sou dono do meu corpo e muito menos da minha mente. Isso às vezes me sufoca, noutras é a minha redenção.
K: O que eu posso dizer... ou como eu posso explicar, se não é diferente para mim? Que estamos juntos nessa? - Ele sorriu para mim, um sorriso tão lindo e franco. - Eu já não posso ficar sem tê-lo comigo, em mim... Já estou sofrendo por ter de retornar a Istambul e deixá-lo aqui. Não é só por sexo, é você, seu cheiro, seu gosto... - Fui acariciando-o e distribuindo beijos. Ele me apertou.
Y: Eu sei... - Deu um sorriso de lado, com jeito safado e continuou... - Não sei se continuo com a programação prevista, ou se faço uma imersão na cama com você nos próximos dias? - Eu o abracei e ficamos ali, por um tempo namorando.

No dia seguinte, fiz uma reunião com meu orientador da tese, juntamente com o meu co-orientador de Cambridge, por vídeo conferência. Eu havia enviado o material coletado em Galápagos, para ambos, e tudo o que eu já havia escrito. A reunião foi muito boa, mas eu deveria estar de volta na segunda quinzena de janeiro, para retomar os trabalhos presenciais na Universidade, sem falta.
A princípio, eu pretendia voltar, para passar o natal e ano novo em Istambul, com minha família. Porém, o canal de TV para o qual Yalin estava fazendo o trabalho sobre Galápagos, que eu também participei com os textos, marcou uma reunião presencial, na primeira semana de janeiro. Então, decidi mudar minha passagem para logo depois disso.
Meus pais não ficaram nada satisfeitos, não só por eu estender minha estadia em NYC, mas porque a essa altura, já supunham que eu e Yalin dormíamos juntos, o que é completamente fora das nossas tradições. Fizemos uma chamada por vídeo conferência, onde contamos que estávamos noivos e pretendíamos nos casar, sendo que assim que possível, Yalin iria oficializar tudo diante de nossas famílias. Ele fez questão de falar com papai primeiro, mas mesmo assim tive de pedir uma ajuda para mamãe. Ela sabia de tudo o que eu tinha passado no noivado anterior e, certamente me ajudaria junto ao papai.
Falamos também com a família de Yalin e eles ficaram felicíssimos, com a possibilidade de nos dividirmos entre Istambul e Nova York.
Zeynep foi para Milão fazer o curso e Deniz com ela, boa parte desses três meses.

Os dias passaram muito rápido e fazia muito frio em NYC, com nevascas, que nos impediam de circular pelas ruas, ou limitavam bastante nossas saídas.
Estar em Nova York no natal, foi mágico, parecia que eu estava sonhando. A cidade ficou toda decorada com motivos natalinos, as grandes lojas tem pequenos shows nas vitrines, várias vezes ao dia, a circulação de pessoas do mundo inteiro aumentou muito, sem falar da pista de patinação no gelo no Rockefeller Center, onde tem gente até de madrugada. Andar na 5th avenida era uma verdadeira aventura e parecia que estávamos na "torre de Babel", pois se ouvia diferentes línguas, conhecidas ou não. Os sons de NYC com músicas natalinas e essa diversidade cultural era, no mínimo, pitoresco. O Central Park ficou lindo todo branco, coberto pela neve, apesar de eu amar as cores do outono, que eu vi no início de dezembro, quando cheguei. Muitas vezes saíamos andando pelas ruas, mas o vento frio era tão cortante, que tínhamos de ir parando, para um chocolate quente ou mocaccino, na expectativa de nos aquecermos.
Passamos as vésperas de natal e de ano novo no restaurante de Edmond, com alguns amigos deles e membros da equipe de Yalin, que como nós, estavam distantes de suas famílias. Parecíamos um casal recém casado e, assim que as festas passaram, começamos a nos ressentir da eminente separação que viveríamos, com o meu retorno a Istambul.
A reunião aconteceu numa quinta-feira e no sábado eu estaria voltando para casa. O lado positivo foi que gostaram muito do nosso trabalho. Eles estavam acostumados a trabalhar com Yalin em outros projetos e, disseram que pretendiam me contratar para projetos futuros. Eu fiquei muito feliz, pela possibilidade de ter um trabalho nesse vai e vem, que seria minha vida de casada. Essa questão, era a que mais estava me preocupando, pois eu tinha estudado tanto e queria exercer minha profissão e colocar meus estudos em prática, mas com uma vida itinerante, seria difícil. Fazer esses trabalhos avulsos poderia me ajudar a ter uma independência, mas não sei o quanto eu me realizaria.
Y: Estou muito orgulhoso de você! Sabia que você não me decepcionaria. Eu quero que você se realize profissionalmente, já que tem investido tanto. - Eu sorri e pensei "esse é o homem que eu amo". - O que foi? Que sorriso é esse? Você anda meio calada, tem algo te incomodando? - Eu dei um beijo estalado em sua bochecha.
K: Eu estava pensando, que essa promessa de trabalho vai me ajudar nessa nossa vida itinerante, mas eu gostaria de colocar meus conhecimentos em prática, tecnicamente faiando. Sabe? - Ele assentiu. - E eu estava pensando nisso quando você me falou... - Ele sorriu.
Y: Você sabe, que pode falar sobre tudo comigo. Certo? Temos de decidir as coisas juntos. Então, se houver algo que você discorda, ou acha que tem de ser diferente, não deixe de me dizer. - Ele acariciou meus cabelos.
Mesmo com toda essa cumplicidade, eu estava apreensiva, pois dessa vez, Yalin estava cheio de compromissos em NYC e não conseguiria estar comigo nos próximos 60 ou 90 dias. Talvez este seja o maior período em que estaremos distantes um do outro.
Eu fiquei o máximo que pude estar com ele em NYC, mas essa será nossa prova de fogo...

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