Capítulo 70 - Ninguém chegou nem perto...

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KIRAZ
Assim que entramos no carro, Yalin falou:
Y: Vamos para o nosso apartamento? Acho que lá podemos ter mais privacidade, para conversarmos. - Eu assenti.
Durante todo o restante do trajeto de mais de 20 minutos, não falamos mais nada. Ele estacionou na vaga, descemos do carro e subimos no mais completo silêncio.
Eu entrei e fui até a varanda, o sol estava se pondo e as primeiras luzes salpicavam no horizonte. A vista daqui era realmente incrível.
Ele se aproximou e parou ao meu lado, respirou fundo e, após alguns minutos, que mais pareceram horas, falou:
Y: Essa vista é realmente um privilégio... Como ter você aqui! - Percebi que ele me olhava e eu baixei a cabeça. Ele colocou uma mecha do meu cabelo, que cobriu a lateral do meu rosto, gentilmente atrás da orelha, como se desejasse continuar vendo minhas expressões. - Eu sei que você tem todos os motivos para estar chateada, mas também podia facilitar um pouco... pelo menos, para que possamos dialogar, chegar num ponto em comum! Esse seu silêncio é desarmante. Eu, francamente não sei como agir. - Respirei fundo. Eu estava tão cansada, como se tivesse corrido uma maratona... Mas, era um cansaço emocional. Depois de alguns segundos, me virei de frente para ele e o encarei.
K: Sabe Yalin, eu entendo que essa distância física entre nós, por tantos meses, nos fez perder a totalidade um do outro. Quando eu digo isso, me refiro às reações no dia a dia, ao comportamento, ao funcionamento de cada um. Como se uma neblina nos dificultasse delimitar o outro, ou quem somos perante o outro. - Ele me olhava sem pronunciar uma palavra, ou expressão, porém seu o olhar era intenso. - Eu sei que tive uma reação intempestiva, quando o encontrei com Leyla no seu apartamento em Nova York, mas naquele tempo, eu não o conhecia tão bem e também desconhecia as ações ardilosas de Leyla. - Parei por um momento, para tomar fôlego. - Agora eu te pergunto, como você pode acreditar, que eu poderia ter ido para cama com o seu irmão? - Ele mordeu os lábios. - Digo tanto por mim, quanto por ele! Ele por ser seu irmão, melhor amigo e parceiro... E eu, você sabe que eu nunca estive com outro homem, além de você! Que eu "não sou uma mulher tão bem resolvida assim", - Falei sinalizando aspas. - para sair com outro cara, estando comprometida. Ainda mais sendo seu irmão!
Y: Kiraz, eu... - Eu o interrompi.
K: Eu até poderia compreender a força da situação, que de fato foi bem pesada... Mas, como explicar as suas atitudes posteriores? Como você permitiu a aproximação de Leyla? Como permitiu que ela o tocasse e o beijasse? Será que você vai correr para ela, ou para a primeira que aparecer, quando nós brigarmos, ou houver algum mal entendido?! - Eu sabia que estava sendo dura com ele, mas as últimas 24 horas tinha acabado com a minha sanidade. Era como se a saudades, aliada ao estresse da distância, reforma, tese, expedição... tivessem culminado, quase transbordando o copo e a gota d'água, para entorna-lo, foram os acontecimentos vividos desde ontem.
Y: Eu sei que eu fui um idiota, que eu jamais deveria sequer desconfiar de você e, principalmente, do meu irmão. Eu o conheço desde o nascimento, ele nunca me decepcionou, sei que é completamente apaixonado por Zeynep e jamais colocaria em risco nossa irmandade e amizade, por uma transa, principalmente com a melhor amiga da mulher dele e minha noiva. - Eu o encarei esperando o restante, mas não veio...
K: E eu Yalin? Não mereço sua confiança? - Questionei.
Y: Claro que sim! Eu sei o quão correta você é, que você nunca esteve com outro, que jamais machucaria sua melhor amiga, ficando com o namorado dela... que não me trairia.
K: Então, o que passou na sua cabeça Yalin?!
Y: Eu sou uma pessoa intensa, passional... Você, melhor do que ninguém, conhece a força devastadora de se deparar com uma cena tão vexatória... Você se lembra do que pensou, se é que pensou, quando me encontrou na cama com Leyla? - Ele passou as mãos pelos cabelos...- Eu não sei o que eu pensei, mas lembro bem do que eu senti... Dor muita dor... - Sua voz falhou. - Você e Deniz são minhas pessoas preferidas no mundo, além dos meus pais. Vocês são as pessoas que eu mais amo nessa vida, ser traído por vocês seria a morte para mim, uma perda que eu jamais seria capaz de lidar ou superar. Eu saí andando atordoado pelas ruas, em negação, desacreditando do que meus olhos tinham visto. Minha ansiedade nos últimos tempos é crescente e alcançando níveis bastante elevados, durante o vôo, no caminho até aqui... Aliada a minha expectativa de te rever e, finalmente tê-la em meus braços, abalado pela perspectiva de ficar mais alguns meses distante, caso você decidisse participar da expedição. Eu sei que parece injustificável...Mas, o que eu quero te mostrar é que eu era uma bomba, ou um campo minado, prestes a explodir. Qualquer passo em falso e tudo iria para os ares! E foi...
K: Eu compreendo, ainda mais depois de tudo o que você me relatou... Mas, nossa relação nos faz viver no limite! Sempre será assim? Será que isso é bom? Será saudável esse estresse? As coisas não deveriam fluir mais? Será que todas as vezes, que você atingir o seu limite, você vai sair por aí e cair nos braços dela, ou de qualquer outra?!
Y: Onde você quer chegar Kiraz? - Perguntou apreensivo.
K: Eu não sei! Hoje eu passei grande parte do dia nas pedras, olhando para o Bósforo. Eu estive pensando, sobre todas as lutas que travamos todos os dias, nadando contra a maré, para estarmos juntos. É natural isso, ou estamos forçando uma situação? A gente tinha que ser?!
Y: Eu não estou acreditando no que você está me dizendo! Eu te amo, mais do que a mim mesmo, como jamais amei ninguém. Eu não tenho nenhuma dúvida disso e moveria céus e terras, para estar contigo. Mesmo que eu tenha de nadar contra a maré, mudar de país e adaptar tudo ao redor, para tê-la em minha vida! - Ele segura o meu rosto com as duas mãos, fazendo eu encarar seus olhos e soletrou com ênfase: Eu te amo!
As lágrimas corriam dos meus olhos e eu me sentia cansada e impotente. Ele enxugou as lágrimas as com os polegares e me abraçou. Um abraço tão forte e apertado, como se fossemos nos fundir um no outro.
Y: Ah! Como eu precisei desse abraço e sei que ainda vou precisar muitas vezes... - Falou no meu ouvido.
Eu sentia o cheiro dele invadindo minhas narinas e me entorpecendo, como uma droga. Eu não conseguia raciocinar, mas também não sabia lidar com as cenas dele com Leyla, circulando em minha cabeça. Então desabafei...
K: Yalin, eu não aceito, não consigo lidar com as cenas, que eu vi hoje na internet! Não suporto ver aquela mulher te tocando, beijando sua boca, eu não aceito dividi-lo com ninguém... Você compreende? Isso é um ponto muito frágil para mim...
Y: Então, somos dois! Porque eu também não sei dividir você com ninguém... e não pretendo estar com ninguém, além de você! Eu quero só você! - Ele sorriu de canto. - Além de toda a saudade e falta que você me faz, você acha que é fácil um homem da minha idade, permanecer quase cinco meses sem sexo? Hein? - Eu o encarava, pensando que não foi fácil para mim também! - E sabe por que eu consegui? Porque sexo, para mim, não faz mais sentido, se não for com você! Por que eu não transo, não é só sexo o que eu faço com você, eu faço amor com você, que é algo muito mais intenso e sublime do que qualquer transa gostosa, que eu já tenha experimentado. Nunca ninguém chegou nem perto do que eu sinto, quando é com você. Eu sei que você não esteve com outros para comprar, mas eu te digo é algo muito, muito  especial o que nós temos. - Ele me beijou nos lábios, um beijo urgente e possessivo, algo tão intenso, que até esquecemos de respirar. - Nunca duvide disso... Nunca! - Ele desceu as mãos pelas laterais do meus quadris e agarrou firme as minhas coxas me suspendendo. Eu enlacei minhas pernas na sua cintura, segurando em seus ombros, enquanto ele sussurrava em meu ouvido.
Y: Eu preciso de você! Agora... - Beijando meu pescoço. - Eu preciso fazer amor com você... - Fiquei toda arrepiada. - Você quer? Ahn?! - Eu segurei o seu rosto com as duas mãos e o beijei,  enquanto ele me levava para dentro. Ele me encostou na parede e me olhou com os olhos turvos de paixão e desejo. - Você não me respondeu... - Falou num sopro quente, com os lábios no meu pescoço. 
K: Quero... quero tudo de você! - Sussurrei. - Eu te amo tanto, que chega a doer... - Depois disso não nos seguramos mais e nos amamos... O prazer que me invadiu foi tão forte e intenso, que eu apaguei. Quando eu acordei, estávamos no sofá da sala de TV, abraçados, com ele acariciando meus cabelos...

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