YALIN
As coisas entre eu e Kiraz parecem estar se acomodando, apesar de todas as intercorrências que temos vivido no último ano. Eu espero sinceramente, que Leyla tenha desistido de nos importunar.
Kiraz fez a inscrição a despeito de minha opinião e isso me deixou chateado, mas compreendo seus motivos, no meio de todo o estresse com o meu retorno à Istambul. Não queria mais me ocupar disso, perdendo tempo precioso de estar com ela. Nosso apartamento ficou lindo e com a nossa cara! Impressionante como o trabalho de mamãe, Deniz e Kiraz foi perfeito, apesar de ter participado pouco, dentro do que a distância nos permitia, eu me sinto absolutamente em casa! Nós ainda não estamos morando nele, mas passamos boa parte do nosso tempo livre por lá. Os pais dela jamais permitiram isso antes do casamento, apesar de saberem, que moramos juntos no tempo em que estivemos em Galápagos e Nova York.Os dias em Cambridge e Londres foram maravilhosos e eu sentia, como se estivéssemos juntos há anos. Estarmos juntos é algo tão natural e perfeito, como se nos completássemos e nos sentíssemos plenos.
Fiquei muito orgulhoso, nesse período em que acompanhei minha mulher, bem como no dia da defesa da tese dela. Apesar da defesa ser presencial, havia dois membros internacionais na banca, que eram professores em Cambridge e Nova York, por isso participaram remotamente, via internet. Ela foi perfeita e competente, tirando nota máxima, com louvor, recebendo muitos elogios da banca. Meus sogros não cabiam em si, assim como Yildiz e a minha família. Até Zeynep acompanhou a defesa on-line, emocionada com o desempenho da amiga.
O melhor de tudo foi conseguir surpreende-la com a oficialização do nosso noivado, no mesmo dia a noite. Eu já havia combinado tudo com Yildiz, antes do meu retorno e, devido às circunstâncias, tivemos de adiar e juntar com a comemoração da defesa da tese, pois foi a melhor forma dela não desconfiar de nada!A única coisa, que ainda pairava como uma nuvem negra entre nós, era a eminência de sua viagem na expedição. Ela parecia indecisa e dividida, apesar de verbalizar que sua prioridade era a nossa relação. Eu queria muito estar com ela o restante do ano em Istambul e me programei para isso. Eu só aceitaria algum trabalho, se fosse algo que me permitisse estar por aqui. Porém, não podia induzi-la, ou tomar nenhuma decisão por ela, mas ninguém passa impune a uma situação dessas.
Y: Kiraz, acho que temos de conversar sobre a expedição. Qual é o seu desejo? Por favor, seja honesta com você mesma e me diga o que você pensa e quer? - Ela respirou fundo.
K: Mas eu tenho sido franca com você! Eu...- Eu a interrompi.
Y: Eu preciso que você me diga, não o que você pensa que eu quero ouvir! Eu quero que você me diga o que está no seu coração, a despeito de me agradar ou não. - Ela acariciou minha barba e me olhou por um longo tempo.
K: Você sabe que eu te amo, não?! - Eu assenti. - Eu estou tão dividida... Porque, se por um lado, a minha razão me diz, que seria importante estarmos esse tempo juntos. Por outro lado, acho que participar da expedição, seria importante para eu fazer contatos, que talvez viabilizariam eu conseguir uma vaga para lecionar em uma universidade renomada, como em Nova York, por exemplo.
Y: Você acha que a expedição, te ajudaria muito nisso?! Mesmo com esses professores, que participaram da sua banca? Você poderia conversar com ela, sobre desenvolver algum trabalho na Universidade, ou para informar você quando do surgimento de novas vagas, para professores... - Eu fui refletindo, na medida que ele falava!
K: Eu imagino que sim, pois seria uma oportunidade para conhecê-los mais de perto... A convivência pode nos tornar mais próximos, ou até ficarmos amigos! - Ela suspirou. - Sabe, eu fico pensando, o que eu poderia fazer, no período em que estivermos em Nova York! No que eu trabalharia?
Y: Eu entendo você e quero que você se realize profissionalmente, mas o seu desejo é lecionar? Porque você pode trabalhar com outras coisas, como autônoma, por exemplo, ou escrever para uma revista... Não se prenda a apenas uma possibilidade, até para não se frustrar, caso não seja como você idealizou. Você entende?! - Ela assentiu. - No meu caso, por exemplo, eu prefiro ser autônomo, fazer as coisas no meu horário e não ter chefe. Não sei você!?
K: Eu gostaria de lecionar na graduação e no pós, mas posso estar idealizando. Eu queria manter o vínculo com a Universidade, continuar pesquisando, mas a minha experiência é como estudante, ou estagiária, não sei como seria, sendo funcionária.
Y: Também me pergunto, se você está interessa da nessa expedição? Passar meses num lugar isolado, sem muita civilização e muito frio. É diferente de morar em Cambridge, ou em Galápagos. - Ela ficou me olhando. - Veja, eu não estou te dizendo isso, para fazê-la mudar de ideia, mas para você ampliar o olhar.
K: Sei! Você está fazendo o papel de advogado do diabo! - Eu sorri.
Y: Agora vamos pensar por outro lado. Se você resolver ir, você deverá embarcar quando?!
K: Eles partirão no final de junho, pararão em alguns portos e, aproximadamente após um mês estarão parando no último porto, mais ao sul da América Latina. Eu posso partir daqui, ou nesse último porto e ganharíamos um mês!
Y: Então, vocês ficarão cerca de 4 meses e retornarão? - Ela assentiu. - E você pode vir antes, se quiser?!
K: Não sei se seria possível! - Eu a encaro.
Y: Eu vejo que você está bastante inclinada a ir... Então, vá! - Incentivei com o coração na mão.
K: Achei que decidiríamos juntos, mas... - Eu a interrompi.
Y: Eu não posso te pedir para não ir. Isso poderá afetar nossa relação no futuro. - Percebi que seus olhos ficaram marejados. - Eu posso te ajudar a pensar sobre todos os ângulos, ponderar sobre as vantagens e desvantagens... Mas, a decisão tem de ser sua! Você entende?! - Ela me abraçou.
K: Mas eu não quero ficar longe de você!
Y: Eu também não! Mas você percebe, que você é quem deve avaliar tudo isso é decidir?
K: Você vai ficar triste comigo? Eu posso te perder?! - Eu sorri e acariciei seus cabelos.
Y: Bem... Na vida nada é definitivo. Então... - Brinquei.
K: Yalin... - Falou de um jeito manhoso.
Y: Você ainda tem dúvidas sobre isso?! - Ela me olhou intensamente nos olhos.
K: Como assim?!
Y: Kiraz, eu sou o cara que mudou toda a sua rotina e agenda, para ficar parte do ano em Istambul, depois de morar 10 anos em Nova York, com a vida estabelecida... Eu preciso mesmo te responder essa pergunta?!
Nessa altura ela já tinha montado no meu colo, segurando meu rosto, distribuindo muitos beijinhos...
Y: Você está brincando com fogo... - Avisei apertando-a e fazendo cócegas, enquanto ela se contorcia em meus braços.
K: É que eu estou querendo tanto me queimar... Falou de maneira sugestiva e foi a deixa, para que eu a puxasse para um beijo apaixonado e com muitas carícias e prazer. - Como eu vou fazer para ficar longe de você novamente?! Hum?!
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Caminhos Cruzados
RomanceSerá que após uma grande decepção, atrelada à imposições sociais, o amor pode prevalecer? Quais os desígnios para cada um? A vida pode nos mostrar novos caminhos, com outras encruzilhadas? Nós devemos correr atrás? Ou será que nossos caminhos já est...