Memórias do anjo - X

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Jerusalém | Cidade Antiga

Solstício de Verão

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Adora observou as nuvens espessas de chuva no horizonte se aproximarem do templo. Fez parecer que uma maldição estava caindo sobre as terras de Jerusalém. Apesar de toda a aparência climática, tudo parecia um jogo divertido para as entidades angelicais.

Todos os humanos imploraram por chuva, ela parecia estar vindo, mas nunca veio.

A princesa do paraíso teve que enxergar as coisas pelo lado mais sombrio. Crianças começaram a morrer de fome, muitos investiram na sorte de uma longa viagem em busca da própria salvação, como se tivessem certeza que havia algo de bom em outra localidade.

Mal sabiam que Uriel estava castigando amargamente toda população onde a princesa permanecia, tudo para que pudesse tê-la de volta.

Ela também nunca retornou desde a última briga onde a filha do diabo a defendeu de seu irmão.

Era quase noite e a princesa permaneceu sentada nas escadas empoeiradas por muito tempo, mais do que a própria planejava. Ela precisava pensar e definitivamente não conseguia fazer isso perto da entidade infernal.

Catra notou que a loira permanecia ali, olhando para o céu como se buscasse respostas, respostas que jamais viriam. A incubus temeu que ela estivesse pensando em todas as coisas que deveria fazer, de forma devida ao menos. Ela teve medo que Adora resolvesse voltar ao paraíso para salvar as pessoas.

─ Algo atormentando você, anjo? - Catra perguntou, sentando-se atrás da mulher, permitindo que Adora pudesse recostar-se contra ela ─ Está aqui há um bom tempo.

─ Apenas pensando - A loira virou seu rosto para olhar nos olhos da morena ─ Algo a me dizer?

─ Estou preocupada com você, princesa. Me diga o que está pensando - Catra murmurou e se inclinou cuidadosamente para deixar beijos castos na bochecha do anjo

─ Vê as coisas que Uriel é capaz de fazer, não é? - A filha do diabo sabia perfeitamente do que o braço direito de Deus era capaz, muito mais depois que pôde ver de perto a tamanha audácia que ele teve de pôr as mãos na princesa do paraíso ─ As pessoas estão morrendo-

─ Adora, não é nosso problema…

─ É o meu - Catra suspirou quando a loira se afastou um pouco ─ Você sabe que é.

─ Reconheço isso - Foi difícil para a entidade admitir, mas ainda o fez ─ Mas não é seguro.

─ Não é preciso ser seguro. Uriel está me usando como uma praga para justificar as atrocidades que está fazendo com essas pessoas-

─ Ele está impondo uma responsabilidade que não é sua. Ele quem está matando essas pessoas, não você.

─ Mas faz parecer…

─ Adora - Catra fez com que o anjo a encarasse dessa vez, segurando em seu rosto ─ Sei que se importa, acredite princesa, eu entendo melhor agora… mas, você não pode salvar todo mundo. E não estou contando pessoas nos dedos, você pode salvar dez pessoas, mas não uma cidade inteira, não desse jeito. Não quando um louco está matando toda uma população porque é obcecado por você.

─ E o que eu deveria fazer? É o meu dever manter a ordem e a vida. Às vezes eu só consigo pensar no que estou fazendo… enquanto estou com você eu promovo apenas o desespero e mortes em massa.

─ O que quer dizer?

─ Ele está fazendo essas coisas porque estou perto demais de você, Catra - A loira não conseguiu manter o olhar sobre a entidade e se ergueu, afastando-se dos degraus enquanto abraçava o próprio corpo ─ Sabe que não deveríamos.

The Devil's Touch - Catradora (G!P)Onde histórias criam vida. Descubra agora