Memórias do anjo - IX

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Jerusalém | Cidade Antiga

Solstício de Verão

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─ Abaddon - Catra disse em um murmúrio enquanto colocava vestes largas e felizmente secas após se livrar das peças manchadas pelo sangue do falso profeta ─ Bastarda, mas filha de Lúcifer, como eu - Sua cabeça pendeu para o lado enquanto ela apertava as mãos com força pela raiva que estava sentindo ─ Quatorze anos de existência apenas, não me interprete mal, não estou dizendo que gostava dela, mas compartilhamos da paternidade do diabo.

─ Você se sentiu mal porque ambas têm uma ligação - A entidade andou de um lado para o outro, mas ainda estava ouvindo Adora falar sobre a cama ─ Sentiu a morte dela.

─ Isso não importa. Não evitei que acontecesse, Lúcifer deve estar proporcionando o maior dos pesadelos de Daniel agora, mas depois ele virá até mim e vai questionar a razão por eu não estar lá.

─ O que vai dizer? - Adora franziu as sobrancelhas, sua feição expressava clara preocupação

─ Eu não sou mãe dela, não era a minha responsabilidade. Não tenho que evitar que irmãos bastardos mais jovens morram porque Lúcifer não os dá o direito de se defender.

─ Não estou defendendo seu pai, Catra, mas humanos diante de tudo que tenho visto não são exatamente cuidadosos com algo que lhes dá o poder sobre algo. Abaddon eventualmente poderia ser um grave problema para ambos mundos.

─ Ainda não seria o meu problema - A incubus suspirou

─ Por que você parece tão sentida se não se importava com ela?

─ Eu não sei! Estou tentando fazer parar mas é impossível, sequer estive perto dela mais do que dezesseis vezes em todos estes anos. Ela não é como Scar, não era brilhante, não era maldosa e nem perspicaz. Ela era gentil e... irritantemente bondosa com as pessoas, ela cuidava de um coelho e o chamava de "bom menino" - Os picos de emoções da morena estavam oscilando, ela parecia completamente destruída pela morte da irmã enquanto se forçava a acreditar que não se importava com isso ─ Ela... não fez nada de errado

Adora permaneceu em silêncio enquanto verificava Catra olhando para as próprias mãos, em sua lembrança era como se aquelas cordas ensaguentadas com os rastros de Abaddon jamais pudessem deixar sua mente.

─ Você está sentindo uma perda significativa, está reagindo mal ao luto e isso está bem, Catra. Não precisa ter grandes laços com Abaddon. Ela é sua irmã e isso é o suficiente para que se sinta vulnerável com a sua partida.

─ Não fale besteiras, princesa - Catra gargalhou cinicamente ─ Eu não sinto essas coisas. Nunca fico vulnerável, não pense que vou me sentir mal porque a pirralha do papai foi assassinada. Ele não a protegeu.

─ Está negando - Adora disse com cautela ─ Você está processando que ela se foi.

─ Você não pode saber.

─ Você não para de olhar para as próprias mãos - Ela pontuou ─ Havia muito sangue quando retornou ao templo, eu imagino que você tenha interferido novamente na vida de alguém para que pudesse vingar a vida dela no primeiro instante.

Catra se manteve em silêncio.

─ Você também está com raiva. Está com raiva porque apesar de não gostar da maneira que ela foi concebida, ela era uma criança, havia muito pela frente, ela tinha alegria. Isso chama sua atenção, talvez por serem filhas do mesmo pai e ela definitivamente ter a oportunidade de viver uma vida normal, enquanto nós fomos lançadas neste mundo com responsabilidades que humanos não podem compreender. Abaddon não tinha que se preocupar com as pessoas que assassinaria, que amaldiçoaria ou que eventualmente puniria. Era pura de alma e jovem demais.

The Devil's Touch - Catradora (G!P)Onde histórias criam vida. Descubra agora