How not to talk to God

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Los Angeles - Morningstar House

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Samael encarou a paisagem vazia diante de seus olhos sobre a varanda da mansão. Já não tinha mais como contar nos dedos quantos cigarros havia fumado no curto espaço de tempo que esteve alí.

Não que isso fosse matá-lo no final das contas.

O diabo normalmente não tinha que se preocupar com toda a bagunça no mundo humano, havia caos e desespero por toda parte, teoricamente o que humanos costumavam dizer que havia suas mãos na maioria das coisas ruins acontecendo. No fim, ele não fez nada realmente.

Sua preocupação em torno de sua herdeira estava aumentando com o passar dos dias, era como se fosse a única coisa a atingi-lo de verdade desde a morte de Abbadon, aquilo estava o atormentando profundamente. Não poder verbalizar o que estava sentindo trazia à tona a sensação de estar morrendo por dentro.

Até mesmo um ser milenar poderia ter problemas na família.

Ao bater seus dedos sobre o cigarro ele ouviu passos suaves em sua direção, mesmo sabendo que havia alguém se aproximando, não se atreveu a virar-se para se defender. Poderiam enfiar uma lâmina em suas costas, ele não poderia se importar menos naquele momento.

─ Continua com os péssimos hábitos de sempre - A voz soou como se estivesse o repreendendo, mas ainda parecia tão suave quanto ele se lembrava ─ Se fosse um humano estaria a 7 palmos abaixo da terra.

─ Não muda muita coisa quando se está no inferno - Lúcifer riu e finalmente se virou para encarar o homem ─ Como você está?

─ Não me faça perguntas, sabe que não há nada de novo. Mas tenho visto que você está com problemas - O homem ergueu as sobrancelhas ─ O que está te deixando aflito?

─ Você não sabe tudo? - O diabo zombou e virou-se de costas novamente ─ Se veio até aqui para zombar do meu péssimo controle familiar pode ir embora. Não está ajudando.

─ Sabe o que eu acho? Você passou toda a sua arrogância para aquela garota. Agora não sabe mais lidar com seu próprio problema, gerou isso em outra pessoa.

─ Certo, então me diga como resolver isso. O que você quer que eu faça?

─ Não há nada que possa fazer, Samael. Mas as coisas estão se repetindo, não podemos fazer parar - Lúcifer sentiu a mão do homem sobre seu ombro ─ Sinto muito-

─ Como pode continuar usando as pessoas como se fossem peças de xadrez? - Samael o contrariou, empurrando-o para longe ─ Você podia fazer parar.

─ Não, eu não posso. Você sabe.

─ Por que?

─ Samael, não me questione-

─ Uma vez na merda da sua existência finja que se importa e responda! - O diabo gritou ─ Se quer me deixar por toda eternidade no maldito inferno, faça. Eu farei parte do seu teatro do mal contra o bem enquanto eu viver, mas por que a Catra e a Adora? Você sabe que o mal existe no paraíso também. Você sabe quem está fazendo as coisas saírem do controle-

─ Samael-

─ Por que não faz nada seu cretino? - Lúcifer voltou a gritar, agora diante do homem ele parecia uma criança birrenta em busca de respostas, como se estivesse de volta ao início de sua existência ─ Como pode ser a esperança de tantas pessoas? - Dessa vez ele murmurou ─ Você não passa de uma farsa.

─ Você não entende ainda - Samael não recuou quando recebeu o afago das mãos do homem em sua cabeça ─ Há muitos, muitos pedidos de ajuda neste lugar, mas não podemos alterar o rumo das coisas. As coisas tem propósito, filho. Pode duvidar de mim, como quiser, é a sua escolha. Mas a mudança já aconteceu.

─ O que quer dizer?

─ Sei que está assustado, o tempo tirou muito de você. É a maldição do envolvimento ao mundo humano. Mas não tema por sua filha e por Adora.

─ Você vai tirar ela de mim também? - Os ombros do mais jovem se encolheram ─ Como fez com a Abbadon...

─ Olhe, Samael - O homem apontou para o horizonte ─ Está escurecendo, é solitário e frio. Nada aconchegante. Mas amanhã o sol irá nascer novamente. Tão certo quanto o canto dos pássaros, o calor de seus raios e o aconchego por uma nova oportunidade.

─ Eu odeio suas filosofias - O diabo resmungou

─ O que quero dizer é que as coisas voltam ao seu lugar em algum momento, filho. - Ele recebeu o dedo do homem apontado contra seu peito ─ Até aquilo que parece ter partido há muito tempo. Deixe as coisas voltarem ao ponto de partida primeiro, depois elas retornam para onde realmente pertencem.

O homem demoníaco ficou em silêncio, sem questionar o que havia sido dito por alguns minutos.

─ Peço que me ouça - Desta vez, o diabo sentiu seus braços presos contra as mãos firmes de Deus, como se estivesse preso e imobilizado ─ É a única coisa que direi sobre o assunto. Não deixe que Catra cruze os portões do Paraíso.

─ O que está dizendo?

─ Como eu disse, as coisas já mudaram seu rumo. Mas não posso salvá-la se cruzar o domínio, Samael.

─ Não pode me pedir isso, Catra me mataria para buscar Adora onde quer que a levem.

─ Então impeça, lute com ela se for necessário. Se permitir, terei que fazer algo horrível.

─ Não pode machucá-la por tentar salvar a humana-

─ Não se trata dela, se trata de você - Lúcifer ficou estático ao ouvir o que seu pai estava dizendo ─ Samael, se deixá-la cruzar os portões vai estar arruinado. Não vão me restar alternativas.

Quando seus braços foram soltos, Lúcifer demorou algum tempo para digerir o que ouviu, o homem já estava caminhando para o lado oposto quando se deu conta.

─ Pai! - Ele tentou chamá-lo, nada adiantou. Até mesmo o diabo se assustou ao se lembrar da feição aterrorizada de Deus, como se soubesse exatamente cada rumo de decisão tomada a partir das consequências.

Se Adora fosse capturada para ser levada ao paraíso, Catra não poderia intervir.

E ele devia garantir que isso fosse cumprido.

The Devil's Touch - Catradora (G!P)Onde histórias criam vida. Descubra agora