Capítulo Dois

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"Nós geralmente descobrimos o que fazer percebendo aquilo que não devemos fazer

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"Nós geralmente descobrimos o que fazer percebendo aquilo que não devemos fazer. E provavelmente aquele que nunca cometeu um erro nunca fez uma descoberta."- Samuel Smiles

|Catherine|

Cath? 

O som daquela voz conhecida ecoa em minha cabeça como um sino que não para de bater insistentemente, sem parar, alto e repetitivo em minha mente. Cath... Cath... Cath... Me chama feito um sussurro levado pelo vento até aos meus ouvidos e cérebro, já exaustos e um tanto confusos, com tantos acontecimentos que têm ocorrido até agora. Quando foi que tudo virou uma grande bagunça? Quando a situação fugiu de controle e escapou por entre os meus dedos assim? Mas que raios! Por que tudo que eu faço sempre acaba dando errado ou pior ainda do que já estava?

E então eu me me pergunto internamente, será que finalmente estou ficando louca? Por acaso a minha mente se perdeu durante o caminho da cela até aqui? Eu estou imaginando coisas, certo? Por que só pode ser isso, pois é praticamente impossível encontrar Luz e Fred, os dois juntos e totalmente diferentes do que estou acostumada, justamente neste lugar e neste instante... tão perturbador e cruel. é surreal.

Não... isso não pode ser real... isso não pode estar acontecendo de verdade. Deve ser algum tipo de pesadelo muito louco o qual eu estou tendo nesse exato momento. Eu perdi minha mente, é isso... Eles não estão aqui, eu também não estou, nada disso é...

-Senhorita Catherine Bourbon? Senhorita!

Pelos céus! Isso realmente está acontecendo, o choque da verdade enfim me acerta como um tapa estalado no rosto, que arde e me faz acordar para a vida. Então paro de divagar ao notar que sou alvo de vários pares de olhos que me encaram neste instante, como se eu fosse algum tipo de aberração surda ou louca que não respondeu ao ser chamada pelo próprio nome. Confesso que realmente ainda é um pouco estranho ser chamada por meu nome de nascimento, após estar habituada com o apelido de Cath ,o qual tenho utilizado por tanto tempo. 

Entretanto, essa não é a hora ideal, para isso, por essa razão me empenho em me concentrar no que tenho que dizer. Minha atenção retorna imediatamente para a terra quando sou chamada por rei Ferdinando por duas vezes consecutivas, e percebo que ainda não o havia respondido em nenhuma delas devido a distração repentina. Pisco os olhos para situar onde estou neste instante, e tentar retomar a saninadade da minha mente, sabendo muito bem qual é o meu propósito aqui hoje e o que devo fazer. Eu devo proteger minha família acima de tudo e de todos. 

Se meu pai Louis, o rei de Valois, não conseguiu cumprir seu dever para com minha mãe, eu e meus irmãos pequenos, em todos esses anos, agora, eu irei fazer isso independentemente das consequências que tenha que enfrentar. Afinal de contas alguém em nossa linhagem podre e ruim tem que assumir os fardos e pecados cometidos através de muitas gerações. E se essa pessoa tem que ser eu, que seja. Contanto que as pessoas que amo estejam a salvo, então tudo bem. Eu posso me tornar uma pária para o meu reino, e revelar todas as tramas e segredos que fizeram com todos nós estivéssemos hoje aqui para enfrentar a justiça.

Ah Catherine, você nunca teve escapatória ou outra alternativa, e sabe muito bem disso, garota. É o que minha mente me recorda de modo amargo e infeliz, trazendo-me de volta a consciência para que eu jamais pense em voltar atrás. Este é um caso de vida ou morte para minha mãe e irmãos, por isso não posso vacilar. 

-Perdão, majestade. 

Enfim o respondo, inclinando-me com reverência em sua direção, e em seguida me ergo novamente para fitá-lo atentamente a espera do que ele fará a seguir. Rei Ferdinando meneia a cabeça de forma sutil e então dá prosseguimento aos seus dizeres oficiais para o início do julgamento, o qual todos estão aguardando ansiosamente. É um dia crucial, um momento de justiça e reparação do orgulho de um povo marcado pelas cicatrizes de uma batalha sofrida. 

Eu não me atrevo a sequer mover meus olhos para outra direção que não seja a figura de poder máximo que fala para todos os presentes, enquanto aguardo pelo momento em que terei realizar a minha parte do acordo, ser a delatora acerca de tudo o que envolve o reino de Valois e os culpados por provocar uma guerra desnecessária e sangrenta contra Navarra. Uma grande e impiedosa tragédia que trouxe muita dor e sofrimento para ambos os lados. 

Sei que estou em meio a uma linha de fogo cruzado, ninguém aqui deseja o meu bem. Por diversas partes há pessoas querendo fervorosamente minha cabeça pendurada em uma bandeja de prata. Tanto da parte de Navarra, que odeia o que o sangue real Bourbon e o que minha família representa neste tribunal, quanto da parte da minha própria "família", com a qual tenho uma ligação apenas de laços de sangue, e que deseja me impedir de revelar e expor publicamente as faces obscuras por trás da realeza de Valois. 

E ainda há mais que isso... ainda há Luz e Fred. Ah, esse dois são os piores para mim. Eu posso sentir, mesmo sem me virar na direção deles, os olhares deles sobre mim, queimando minha pele nua, apesar da grande distância que existe entre nós três. Eu sinto tudo... o olhar de desaprovação, de raiva, de ressentimento e de decepção que eles devem estar sentindo agora em relação a mim, após a descoberta sobre quem eu sou. Meu peito se aperta com uma leve sensação de palpitação que me deixa meio tonta, minha garganta está seca e arranhando, como se estivesse cheia de areia, além da imensa dor no peito, da falta de ar, e do suor frio que corre por minhas costas.

Eu estou perdida, receosa, triste e desapontada comigo mesma nessa hora. Uma esmagadora sensação de vergonha, de culpa, medo e de desamparo me assolam, enquanto me preparo para fazer o juramento perante rei Ferdinando, segundos antes de enfim me pronunciar. 

-Estamos reunidos na presente data de hoje, no tribunal superior da casa real de Navarra, para iniciar o processo de julgamento contra o reino de Valois pelos crimes de guerra cometidos contra nossa nação. E a primeira testemunha chamada para depor é a senhorita Catherine de Valois. Senhorita, por favor aproxime-se e profira o juramento diante deste juiz que vos fala, do juri do conselho de sentença, das testemunhas e do povo que assite a esta solene reunião.

Engulo a saliva com dificuldade ao me ajoelhar diante dele, minhas pernas estão tremendo mais do que duas varas verdes, mas me forço a permanecer firme até o fim. Então ergo a mão direita para o alto e para jurar na frente de todas esaas pessoas que estão atentamente me fitando nesse exato segundo de tensão. Não há um ruído sequer quando eu abro minha boca e começo a dizer as palavras que tive que decorar perfeitamente cerca de uma dezena de vezes.

-Eu, Catherine Bourbon, filha de Louis Bourbon rei de Valois, e princesa do reino de Valois, juro por Deus Todo Poderoso, que meu testemunho para o tribunal superior da casa real de Navarra, neste caso, será a verdade, toda a verdade e nada além da verdade. Juro pela minha vida ser sincera, verdadeira e jamais mentir ou omitir qualquer fato essencial para este tribunal, ou para os que hoje estão aqui presente. Expresso seguramente que farei o que é correto e dentro da realidade apresentada, de acordo com as leis de Navarra e as leis de Deus.

Pronto. Agora está feito. Eu dei minha palavra e não posso quebrar ou descumprir com uma promessa sagrada como essa. Minha família depende de mim neste instante e eu farei qualquer coisa por ela. Inclusive abrir mão da minha própria vida se for necessário...

🗡🗡🗡

Hello, filhos da Luz! Não esqueçam suas estrelinhas e comentários 

A Sombra do Passado [Completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora