|Catherine|
Acordo cedo com um nó no estômago, sabendo que Frederick está tentando me proteger da verdade, mas já não sou mais ingênua. Ele pode esconder o quanto quiser, mas sei o que está acontecendo. Charles fugiu. A ideia desse homem à solta, após tudo o que fez, é um pesadelo constante em minha mente. Temo que ele busque vingança, e a ameaça paira sobre mim como uma sombra que não consigo dissipar.
Mesmo com o medo me corroendo por dentro, mantenho o semblante tranquilo. Não posso preocupar Frederick com isso. Ele já tem o peso do reino sobre seus ombros, não precisa carregar também meus temores. Além disso, a situação aqui no castelo já é tensa o suficiente, com as buscas intensificadas e as notícias do fracasso no primeiro dia. Ainda assim, não consigo afastar a sensação de que Charles está por perto, aguardando o momento certo para atacar.
Na manhã seguinte, arrumo-me para o desjejum com Luz e Francesca. O pequeno Félix, filho de Luz, está sentado no colo de Francesca, e sua energia contagiante ilumina o ambiente. Seus risinhos e gritos fazem todos ao redor sorrirem. Francesca, claro, faz questão de brincar com ele, chamando-o de "pequeno príncipe" e jogando-o para o alto de maneira que ele solta gargalhadas felizes. Ela se chama de "melhor tia do mundo" e Luz ri. Ver o menino tão alegre me ajuda por um instante a afastar as preocupações. Enquanto saboreio o chá, Luz e Francesca começam a brincar comigo, com olhares significativos para minha barriga já visivelmente arredondada.
— Em breve será você com seu filho ou filha nos braços, Catherine — diz Luz, com um sorriso suave. — Um bebê que será tão amado quanto Félix.
Francesca não perde a chance de participar da brincadeira, inclinando-se para me observar com um sorriso maroto.
— Já consigo ver Frederick todo orgulhoso e bobo com o bebê de vocês no colo — acrescenta ela, rindo. — Não vai demorar muito até que ele esteja correndo atrás do filho ou filha por todo o castelo, diferente do homem frio e turrão que sempre foi.
Sorrio para ambas, deixando que suas palavras aqueçam meu coração por um momento. A ideia de Frederick com nosso filho ou filha é reconfortante, mas o medo que carrego logo se infiltra, mesmo nesses momentos de leveza. Eu rio e brinco com elas, mas por dentro sinto que estou sendo sufocada por preocupações que não posso compartilhar.
Depois do desjejum, despeço-me delas e volto para o quarto. No caminho inesperadamente encontro ninguém menos do que Selin de Médice. Minha respiração acelera, não de medo, mas de raiva. Não há como esquecer o que ela fez, e eu já estou cansada de seu jogo. Então, sem pensar duas vezes, estendo a mão e seguro o braço dela com firmeza ao passar por ela, surpreendendo-a com minha atitude inesperada. Ela olha para mim, perplexa, e percebo o medo lampejando em seus olhos por um segundo.
— Se aproximar de Frederick novamente não será uma boa ideia — murmuro, as palavras saindo com dureza. — Se fizer isso, vou quebrar suas pernas.
Ela arregala os olhos, chocada com minha ameaça direta, mas ainda tenta manter a compostura. No entanto, não recuo, aperto ainda mais o braço dela, inclinando-me para mais perto.
— Além disso — continuo, mais baixo, para que ninguém mais ouça — posso muito bem contar a todos o que você fez. Só nós duas sabemos que foi você me sequestrou no dia do meu casamento, mas... mais pessoas podem ficar sabendo desse fato também.
Selin empalidece. A máscara de autossuficiência que ela usa se desfaz naquele instante. Sua expressão muda de raiva para medo, e eu sei que atingi o ponto fraco dela.
— Catherine... isso já passou, foi um erro — ela gagueja, tentando se recompor. — Não há razão para trazermos isso à tona agora. Eu... eu só queria perturbar príncipe Frederick, porque ele me humilhou publicamente, você sabe disso. Mas... não quero mais nada com ele.
— Então vá embora — ordeno, sem me alterar. — Vá, e nunca mais volte. Porque se continuar por aqui, não hesitarei em expor sua traição.
Ela me encara por um momento, mas vejo o medo tomando conta dela. Selin sabe que está encurralada e, finalmente, cede.
— Partirei em breve — diz ela, com a voz trêmula, dando um passo para trás.
Observo-a se afastar, e um alívio inesperado inunda meu peito. Pela primeira vez, sinto que retomei o controle de algo. E, mesmo que minhas mãos ainda tremam um pouco, sei que fiz o que era certo.
Quando Frederick retorna ao quarto naquela noite, seu semblante está pesado e cansado. Ele passou o dia todo nas buscas por Charles, mas ainda assim, ao me ver, seus olhos suavizam. Eu o cumprimento com um sorriso, mas ele percebe... Ele sempre percebe.
— O que foi? — Ele se aproxima de mim, e eu tento manter minha expressão neutra, mas não adianta. Frederick vê através de mim como se eu fosse um livro aberto.
— Nada — minto, desviando o olhar.
Ele não me deixa escapar tão facilmente. Em um movimento rápido, me encurrala contra a parede, sua mão firme, mas gentil, prendendo-me no lugar.
— Catherine, eu sei que você está preocupada. Não me esconda isso.
Seus olhos azuis me fitam com uma intensidade que me desarma completamente. Não posso continuar fingindo. Minha respiração se torna irregular, e sinto o medo transbordando de mim como uma onda que não consigo mais controlar.
— Tenho medo de Charles, Frederick — finalmente confesso, minha voz tremendo. — Ele pode vir atrás de mim... ou de você... ou do nosso filho. Ele pode se vingar. E se algo acontecer com você, eu... — Minha voz falha, e lágrimas queimam nos meus olhos.
Frederick segura meu rosto com as duas mãos, forçando-me a olhar diretamente para ele. Seus dedos são quentes, suas mãos fortes, e sua expressão está cheia de determinação.
— Não vai acontecer nada com você. Nem com nosso bebê. E nem comigo. Eu juro, Catherine, eu vou encontrar Charles. Nem que seja a última coisa que eu faça.
Ele me puxa para seus braços, e o calor de seu corpo me envolve. Sinto a força dele, a segurança que ele sempre me proporciona, e por um instante, meus medos recuam, como sombras diante da luz. Eu me agarro a ele, deixando que suas palavras se tornem meu escudo contra os terrores que assombram minha mente.
— Eu não vou deixar que ele toque em você — ele sussurra, sua voz baixa e cheia de promessas. — Nem que eu tenha que caçá-lo até o inferno. Charles não vai nos separar.
Eu fecho os olhos, deixando-me afundar no conforto de seus braços. Mesmo que o medo continue rondando, sei que, com Frederick ao meu lado, posso enfrentar os desafios que querem me fazer desistir e recuar.
🗡🗡🗡
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A Sombra do Passado [Completo]
Romance[livro 2] Série Amores Reais Frederick, príncipe herdeiro do trono de Navarra, não é como seus irmãos mais novos Felipe e Francesca. Considerado um homem de caráter duro e personalidade intransigente, não aceita nada além da verdade, como também é m...