Capítulo Trinta

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|Frederick|

A tensão está no ar, sufocante, como uma sombra que se estende por todo o reino de Navarra. Ninguém está tranquilo. Cada aldeia, cada vilarejo, cada floresta próxima foi vasculhada, mas Cloud, a traidora, permanece fora de alcance. O anúncio da recompensa pela captura dela só fez o caos aumentar. As pessoas se tornaram mais desconfiadas, com olhares ansiosos, esperando que algum sinal ou palavra sobre o paradeiro da fugitiva apareça. Mas nada. Nenhum vestígio.

Eu também estou em constante estado de alerta. O cansaço tomou conta de mim, mas minha mente não para. Não consigo dormir direito. Cada vez que fecho os olhos, imagens de Cloud, tramando contra minha família e contra Navarra, me assombram. Ela já nos traiu uma vez. Eu não permitirei que isso aconteça de novo.

Quando penso em Catherine e no filho que acredito estar crescendo em seu ventre, o medo me domina. Não falo nada a ela sobre isso. Não deixo transparecer, mas minha missão pessoal é clara: manter minha família segura. Cloud é uma ameaça real, e meu dever é proteger Cath e nosso bebê a qualquer custo.

Felipe também está agitado. Meu irmão não disfarça o nervosismo. Ele sabe, talvez até melhor do que eu, o que essa traidora é capaz de fazer. Cloud esteve envolvida diretamente no sequestro de Luz, a esposa de Felipe, quando ela ainda estava grávida de Félix. O desespero dele naquela época... Eu me lembro como se fosse ontem. Felipe quase perdeu a razão. Ver a mulher que amava, grávida, nas mãos de inimigos, foi uma provação que o deixou marcado para sempre. Eu sei que, secretamente, temo passar pelo mesmo. O medo de perder Cath e nosso filho para os inimigos é algo que não consigo afastar.

Mas não vou permitir que isso aconteça. Não permitirei que Cloud, com seus esquemas e traições, destrua minha família.

Formamos equipes de busca para rastrear todos os cantos do reino. Felipe lidera uma equipe, Deklan Fraser outra, e eu estou à frente da minha própria unidade. Cada grupo tem sua missão, e dividimos os territórios em áreas bem definidas. Florestas, vilarejos, tudo está sendo vasculhado. Passo o dia inteiro cavalgando, lidando com informações desencontradas, cruzando trilhas e ouvindo boatos. Mas, no final, quando a noite cai, não temos nada. Nenhuma pista. Nenhuma vitória. Apenas o cansaço.

O retorno ao castelo é um alívio físico, mas uma tortura mental. O fracasso em encontrar a fugitiva me frustra mais do que posso expressar. Onde essa raposa astuta está escondida? Em que buraco no inferno ela se enfiou para que ninguém consiga encontrá-la?

Estou perdido nesses pensamentos, tão absorto que mal percebo quando entro no corredor que leva aos meus aposentos. A quietude do castelo à noite me atinge, um contraste gritante com o tumulto dentro de mim. Mas, então, sou abruptamente interrompido.

— Frederick.

A voz é familiar, um som que eu preferia não ouvir. Meu corpo trava, e me viro lentamente. A senhorita Selin de Médice está parada à minha frente, seu olhar firme sobre mim. Não a vejo há algum tempo, e honestamente, preferia continuar assim. Ela parece estar sempre à espreita, esperando por um momento em que possa me confrontar.

Suspiro internamente, já sem paciência para isso. Eu a machuquei, e sei disso. Rompi nosso contrato de noivado de forma abrupta, sem aviso ou consideração, e me casei com Catherine logo em seguida. Foi uma escolha feita pela razão e pelo coração, mas não fui justo com Selin, e uma parte de mim sente culpa por isso.

— O que deseja, Selin? — pergunto, mantendo a voz neutra, mas meu corpo tenso.

— Falar com você — ela responde, a voz carregada de algo que não consigo identificar completamente. Seu olhar azulado está fixo em mim, e há algo... estranho em sua expressão. Algo que me deixa desconfortável.

— Agora não é o momento — digo, tentando manter a calma. — Estou exausto. Amanhã teremos mais buscas. O reino está em alerta, e eu...

— E você me deve uma explicação — ela me interrompe, sua voz mais firme, quase acusatória.

Meus olhos se estreitam, e o desconforto aumenta. Sei que devo explicações, mas isso já deveria ter sido resolvido há tempos. Tento me afastar, passo por ela, mas sinto sua mão segurando meu braço, firme e insistente.

— Você me causou um grande dano, Frederick. Rompeu nosso noivado sem sequer se importar com as consequências para mim e para minha família. — Sua voz tem um tom de amargura, mas o que me incomoda é a forma como ela me olha, com algo mais do que ressentimento. Há esperança oculta, há uma intensidade que eu não esperava, e isso me deixa inquieto.

— Eu sei que o que fiz foi errado — admito, tentando me desvencilhar com delicadeza. — Mas minha vida mudou, Selin. Eu fiz o que precisava ser feito, embora você nunca vá entender minhas razões.

Ela se aproxima mais, seu corpo muito perto do meu. O ar parece ficar pesado entre nós. Seu olhar não é mais o de uma mulher ferida, mas de alguém que quer algo mais.

— E agora você tem que me compensar pelo que perdi — suas palavras são quase um sussurro, mas cheias de implicações.

Sinto o choque percorrer meu corpo. Seu toque em meu braço é inapropriado, e minha mente imediatamente se volta para Catherine. Como me deixei cair nessa situação? Meu coração acelera, mas não é por desejo. É por medo e raiva. Raiva por Selin estar tentando usar um momento de fraqueza, medo de que minha própria história de traição e dor possa começar agora.

— Selin, isso precisa parar — minha voz sai mais fria do que eu esperava. — Já te disse, não há mais nada que eu possa fazer por você agora. É tarde demais.

Ela me encara, mas há algo predatório em seu olhar agora, algo que me deixa ainda mais desconfortável.

— Você pode negar agora, mas você ainda me deve — ela sussurra, os olhos cravados nos meus. — E algum dia, príncipe Frederick, você pagará pelo que fez a mim.

Me afasto com um movimento brusco, o braço queimando onde ela me tocou.

— Já disse que não há o que possa ser feito, Selin. Sinto muito, mas é melhor aceitar isso logo de uma vez. — minha voz é dura agora, um reflexo da raiva que está se acumulando dentro de mim.

Saio de perto dela, a passos rápidos, o corpo inteiro tenso. Ela fica parada no corredor, e não olho para trás. Minha mente está um caos, uma mistura de frustração pelas buscas infrutíferas e esse encontro inesperado e desagradável. Penso em Catherine, no filho que ela pode estar carregando, e sinto o peso do mundo sobre mim.

Eu já enfrentei inimigos no campo de batalha, já comandei homens em guerras sangrentas, mas há uma batalha interna acontecendo dentro de mim agora. Preciso proteger minha família. Preciso encontrar Cloud. E preciso, de alguma forma, lidar com tudo isso sem deixar que as sombras do passado me sufoquem.


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A Sombra do Passado [Completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora