|Frederick|
O silêncio no castelo está mais espesso que o ar nesta noite sombria. A cada passo, o peso em meu peito parece esmagar-me ainda mais, um fardo que não posso dividir, pois o mundo espera que eu seja forte, inabalável. Mas estou destruído. Sinto-me traído por mim mesmo, incapaz de proteger Catherine, de proteger meu próprio filho. Prometi que nada lhes aconteceria e falhei miseravelmente.
Me encosto na parede fria de pedra e respiro fundo, tentando conter o grito que se forma em meu peito. Meus punhos estão cerrados, a dor palpável em meus ossos. Encolho-me em um canto deserto, longe do olhar de qualquer um, e ali permito que a dor me domine. Meus joelhos tocam o chão com força, e me sinto como um garoto perdido, incapaz de compreender o motivo de tanta dor. Uma pergunta escapa por entre os dentes trincados.
-Por quê?- murmuro, a palavra repetindo-se como um eco. -Por quê... por que isso teve que acontecer?
Lágrimas, antes contidas, agora escorrem sem controle. Eu me curvo, impotente, incapaz de segurar a avalanche de emoções que me destrói. Penso em meu filho, em cada momento que sonhei viver com ele, cada esperança que alimentei para seu futuro... e agora, tudo não passa de poeira ao vento. Mas preciso seguir, preciso ser forte para ela. Dou um último suspiro profundo e limpo meu rosto. Quando me recomponho e volto ao quarto onde Catherine descansa, meu coração se aperta ao vê-la tão abatida, com o olhar vazio. Tento me aproximar, saber como ela está, mas ela recua, uma dor fria no fundo de seus olhos castanhos e opacos.
-Não deveria se preocupar com o que sinto. -ela murmura, a voz quebrada. -Isso... isso é o meu próprio castigo.
Tento argumentar, tentando alcançá-la, mas ela me interrompe, o rosto manchado de lágrimas.
-Foi culpa minha, Frederick! Fui imprudente, cometi um erro e nos condenei a isso...
Sinto meu coração se despedaçar em milhares de pedaços ao ouvi-la falando desse jeito.
-Não, Catherine. Não diga isso. -tento protestar, mas ela insiste, afundada em um mar de culpa e dor que a consome por completo.
-Você não entende. -ela diz, sua voz carregada de desespero. -Eu o matei quando me coloquei naquela situação. Quando o desobedeci e agora... nosso filho... eu o destruí. Neste momento você deve estar arrependido de ter se casado comigo e... de tudo.
-Nunca! -protesto segurando suas mãos, tentando trazê-la de volta, tentando segurar algum resquício do que éramos antes. -Eu te amo, Catherine. Nada mudará isso. O nosso filho... ele se foi, mas nós ainda estamos aqui. Podemos... podemos superar isso juntos.
Mas, ao sentir o calor das minhas mãos, ela as puxa de volta, com olhos que me evitam.
-Eu não mereço seu amor, Frederick. Não mereço seu perdão.
As palavras dela são como facas no meu coração, rasgando cada fibra do meu ser. E, mesmo com a força que reúno para resistir à dor, ela sussurra com lágrimas nos olhos.
-Eu... Preciso ficar sozinha.
Concordo relutante, mas respeitando o espaço que ela pede. Beijo sua testa, um gesto quase automático de quem já não tem forças para mais.
-Eu te amo. -murmuro, mas recebo apenas o vazio como resposta.
Saio do quarto e a cada passo que dou, a dor aumenta de forma cruel. Quando finalmente alcanço um canto escondido próximo das escadas, caio em lágrimas. Porém, entre uma lágrima e outra, algo acende em mim. Recordo de alguém que conhece esse sofrimento profundamente, alguém que também passou pela mesma perda.
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A Sombra do Passado [Completo]
Romance[livro 2] Série Amores Reais Frederick, príncipe herdeiro do trono de Navarra, não é como seus irmãos mais novos Felipe e Francesca. Considerado um homem de caráter duro e personalidade intransigente, não aceita nada além da verdade, como também é m...