Capítulo Quarenta e cinco

136 31 6
                                    

|Frederick|

O dia mal começa e já sinto o peso da responsabilidade sobre meus ombros. Há dias Charles está à solta, e cada segundo que passa com ele livre é uma ameaça maior para Catherine, para nosso bebê e para tudo que amo. Hoje, decido que isso termina. Custe o que custar, vou encontrá-lo.

Levanto-me da cama antes do amanhecer, com o céu ainda escuro e o castelo envolto em um silêncio profundo. Ao olhar para Catherine, que dorme serena ao meu lado, meu coração aperta. Ela tem sido mais forte do que eu jamais imaginaria, mas sei que o medo a consome. O medo de que Charles nos encontre antes que eu o encontre. O medo de que ele destrua o que estamos construindo.

Eu me inclino sobre ela, planejando sair sem acordá-la, mas, como se sentisse minha ausência, sua mão se estende e me agarra com força. Seus olhos se abrem lentamente, ainda sonolentos, mas sua expressão se transforma quando percebe o que estou prestes a fazer.

— Fred... — Sua voz sai rouca e baixa, mas o tom é firme. Ela me segura com uma força surpreendente, e lágrimas começam a se formar em seus olhos castanhos. — Volte vivo para mim. Para nós.

Seu olhar me atravessa, cheio de medo e determinação. Eu sinto o nó se formar em minha garganta, mas me mantenho firme. Não posso deixá-la assim, não agora. Me inclino para beijar sua testa, sentindo a suavidade de sua pele sob meus lábios, e depois desço para seu ventre arredondado, onde nosso filho cresce, uma promessa de futuro.

— Eu prometo — digo, minha voz carregada de emoções que tento manter sob controle. — Vou cuidar de tudo e voltar para vocês dois. Não se preocupe.

Ela me solta, relutante, e vejo as lágrimas escorrerem pelo seu rosto enquanto me afasto. Cada passo que dou para fora do quarto me pesa como uma montanha, mas não posso hesitar. Não agora.

Me reúno com Felipe, Deklan e o restante dos homens no pátio do castelo. Nossas expressões estão endurecidas, todos cientes da missão à nossa frente. Não será uma caçada fácil, mas eu sei que a força que me move é maior do que qualquer obstáculo que Charles possa colocar em nosso caminho.

Partimos ao amanhecer. As buscas se intensificam, seguimos todas as pistas, exploramos cada canto da floresta, interrogamos aldeões e caçadores. O tempo parece se arrastar, e as horas passam sem que encontremos qualquer sinal concreto de Charles. No entanto, uma sensação no meu peito, uma espécie de intuição sombria, me impulsiona a continuar. Algo me diz que estamos perto, que o fim dessa caça está próximo.

No final do dia, já exaustos e cobertos de suor e terra, finalmente encontramos o que parece ser uma trilha diferente. Sigo à frente, meus instintos me levando até uma área mais densa da floresta, onde o terreno é acidentado e cheio de armadilhas naturais. Um buraco oculto entre as árvores chama minha atenção.

— Aqui — murmuro para Deklan e Felipe, que estão logo atrás de mim.

Nos aproximamos com cuidado, e ao verificar o buraco, vejo um movimento lá dentro. Minha raiva ferve no instante em que percebo quem é... Charles.

O verme está escondido como o rato covarde que sempre foi. Seus olhos se arregalam quando me vê, mas ele logo tenta se recompor, com aquele sorriso cínico que sempre detestei.

— Finalmente me encontrou, Frederick — ele diz, a voz carregada de desprezo. — Achei que demoraria mais.

Ele tenta correr, mas antes que consiga dar um passo, já estou sobre ele. Agarro-o com força, meus punhos cerrados, e o empurro contra uma árvore. Ele grita, tentando se soltar, mas não há escapatória.

— Você não vai a lugar nenhum, Charles — rosno, minhas palavras carregadas de ódio.

Ele começa a cuspir insultos, sua voz cheia de veneno.

— Ela te enganou, Frederick. Catherine, a rameira... a bastarda de Valois. Você vai ver, ela vai te trair, assim como traiu a própria família!

Essas palavras são o que quebram o controle que tenho sobre mim. Não é a primeira vez que ouço essas mentiras, mas ouvir Charles falar assim de Catherine, da mulher que amo, faz algo dentro de mim estalar. Meu punho encontra o rosto dele com tanta força que sinto o impacto até meus ossos. Ele cai no chão, mas eu não paro.

— Nunca mais fale dela — grito, batendo nele novamente, enquanto ele continua a gargalhar, mesmo ensanguentado.

Ele tenta se levantar, mas o empurro de volta ao chão, meu pé em seu peito, impedindo-o de se mover.

— Catherine não é como você — digo, a voz baixa e cheia de fúria. — Ela é melhor do que todos vocês juntos.

Cada palavra dele me enfurece mais, mas me forço a parar antes que perca o controle completamente. Eu poderia matá-lo ali, agora, acabar com essa ameaça de uma vez por todas. Mas não. Isso seria um alívio muito fácil para ele. Charles precisa pagar pelos crimes que cometeu, e Navarra precisa ver sua justiça sendo feita. Respiro fundo e olho para Deklan, que já está ao meu lado, pronto para me ajudar.

— Amarre-o — ordeno, a voz mais calma agora, mas ainda cheia de fúria contida. — Ele vai para a guilhotina, onde pertence.

Deklan faz o que peço, e Felipe se aproxima para ajudar. Charles, ferido e humilhado, ainda tenta lançar insultos, mas já não me afetam. A decisão está tomada. Ele será levado de volta, arrastado pelas ruas de Navarra como o traidor que é, e enfrentará a justiça que tanto tentou escapar.

Quando voltamos ao castelo, o sol está se pondo. Sinto o cansaço em meus músculos, mas minha mente está em paz. Fiz o que precisava ser feito. Ao entrar em nossos aposentos, encontro Catherine sentada na cama, o olhar ansioso e tenso. Ao me ver, ela se levanta, seus olhos escaneando meu rosto, procurando por qualquer sinal de ferimento ou dor.

— Fred... você está bem?

Eu sorrio, cansado, mas satisfeito.

— Estou — digo, me aproximando dela e a envolvendo em meus braços. — Encontrei Charles. Ele está a caminho da guilhotina. Acabou.

Ela me abraça com força, e eu sinto o alívio em seu corpo, como se um grande peso tivesse sido tirado de seus ombros.

— Prometi que voltaria... — sussurro em seu ouvido. — Para você e para o nosso bebê.


🗡🗡🗡

Olá, filhos da Luz! Deixe sua estrelinha e comentário!

Olá, filhos da Luz! Deixe sua estrelinha e comentário!

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.
A Sombra do Passado [Completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora