Capítulo Vinte e Seis

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|Frederick|

O dia foi um inferno. A reunião com o Conselho Real parecia durar uma eternidade, cada um dos conselheiros mais impertinente que o outro. Meu pai sempre disse que ser príncipe herdeiro de Navarra era uma honra, mas ninguém menciona o peso da coroa antes de realmente senti-la sobre a cabeça. Meu sangue ainda ferve enquanto os conselhos deles ecoam na minha mente. Eles acham que eu deveria me separar de Catherine. Eles pensam que nossa união está manchada por desconfiança e que uma esposa assim não é digna de um futuro rei... a filha do nosso pior inimigo.

Malditos tolos. Como ousam sugerir tal coisa? Como ousam duvidar da minha decisão, da minha escolha? Catherine é minha esposa e, acima de tudo, é meu dever protegê-la. Mesmo que ela tenha seus segredos, mesmo que ela me desafie e me provoque, não sou homem de ceder. Não me divorciarei dela e não deixarei meu herdeiro sem um pai e a proteção do meu nome.

Meus pés movem-se pesadamente enquanto cruzo os corredores do castelo, sentindo a dor latejante em minha cabeça. A pressão de carregar todo o reino em minhas costas, a constante necessidade de provar que sou o líder que todos esperam que eu seja... Hoje, tudo parece demais. E, ainda assim, sei que não posso ceder. Não diante do Conselho, não diante de ninguém.

Mas, quando tudo já parecia ruim, as coisas saem ainda mais do meu controle com aquela cena infernal...

Foi então que meus passos cessaram abruptamente. Algo, ou melhor, alguém, capturou minha atenção ao final do corredor. Catherine. Ali, ao lado da escada que leva ao andar inferior do castelo, rindo de forma despreocupada... com um homem. Um soldado raso e que eu não faço a mínima ideia de quem seja. Meu corpo paralisa na hora, mas minha mente, não. Não naqueles segundos que mais pareciam uma eternidade torturante.

Então cada pensamento lógico desaparece e é substituído por uma onda crescente de raiva e ciúme. Ela está fora de nosso quarto, a esta hora, conversando... não, sorrindo para um homem que não sou eu. Como ela ousa? Como pode ser tão despreocupada, tão à vontade, quando sabe que está sob o olhar de todos? Quando sabe que tudo que faz reflete em mim, em nós?

Sinto meu estômago virar. Minha mente grita perguntas, dúvidas. Por que ela está sorrindo? Por que parece tão íntima, tão próxima desse soldado? Ele é apenas um homem comum, um soldado raso. Nada comparado ao meu status, à minha posição. E, no entanto, ela está ali, se permitindo esses momentos de risos com ele.

Cada fibra do meu ser deseja marchar até ela, arrancá-la de perto dele, confrontá-la, exigir respostas. Mas sei que estou à beira de perder o controle. Estou tão furioso que temo fazer algo que não poderei desfazer. Respiro fundo, meus punhos cerrados, e, num esforço hercúleo, viro-me e caminho em direção aos meus aposentos. Cada passo é pesado, como se a raiva dentro de mim estivesse empurrando contra mim, implorando para explodir. Mas não. Eu sou Frederick, príncipe herdeiro. Não posso ceder a impulsos.

Entro no quarto sem ser visto, fechando a porta atrás de mim com mais força do que pretendia. A tensão no meu corpo é insuportável. Vou até a mesa onde o vinho me espera e despejo uma taça. Não é suficiente. Bebo uma segunda, depois uma terceira, tentando sufocar a imagem de Catherine com aquele soldado. Mas quanto mais bebo, mais aquela cena infernal toma conta da minha mente. A risada dela, o jeito como ela parecia tão... livre. Como se nada importasse. Como se eu não existisse.

O tempo passa. Não sei quanto tempo, mas o som da porta se abrindo atrás de mim me faz virar. Catherine entra, e por um momento, tudo ao meu redor se silencia. Ela sabe que algo está errado. Seus olhos me estudam, mas ela não diz nada de imediato. Ela sabe, sente a tensão no ar.

— O que houve? — Ela pergunta, com um tom calmo, se fazendo de inocente.

Mas eu vejo por trás daquela fachada. Ela sabe exatamente o que está fazendo. Minha mão treme, segurando a taça de vinho. Olho para o líquido rubro e depois para ela, incapaz de esconder minha raiva.

— O que você estava fazendo? — Minha voz sai mais baixa do que eu pretendia, mas o tom é afiado. Ela sabe a resposta, mas esconde. Isso me irrita ainda mais.

— Eu estava apenas... conversando. — Ela responde, como se fosse a coisa mais comum do mundo. Como se fosse perfeitamente aceitável que a esposa do futuro rei estivesse rindo com outro homem nos corredores do castelo.

— Conversando. — Repito, minha voz carregada de incredulidade. — Conversando com um soldado raso. Acha que isso é apropriado, Catherine? Acha que eu não veria? Que ninguém veria?

Ela me encara, mas não recua. A teimosia dela sempre foi um traço que eu admirei e detestei em igual medida. Ela cruza os braços e me desafia com o olhar.

— Não acho que precise justificar cada uma das minhas ações para você, Frederick. Eu sou sua esposa, não sua filha.

Aquele comentário acende algo dentro de mim. Dou um passo à frente, e ela dá um para trás, recuando até que suas costas toquem a cama. Minha mão se aperta em volta da taça, que estala sob a pressão.

— Cuidado com suas palavras. — A voz sai baixa, quase um rosnado. — Você é minha esposa, Catherine. E deve tomar muito cuidado com o que faz. Com quem conversa. E com quem... sorri.

Ela não recua mais, mesmo quando estou tão próximo que sinto o calor do corpo dela contra o meu. Há um brilho desafiador nos olhos dela, e isso me enfurece ainda mais. Como pode me provocar dessa forma? Ela sabe o que está fazendo? Sabe o efeito que tem sobre mim?

— Eu sei muito bem o que estou fazendo, Frederick. — Ela sussurra, quase como uma provocação. — E talvez... você deveria prestar mais atenção no que realmente importa, ao invés de se preocupar com meros detalhes sem tanta importância.

Minha respiração se acelera, o sangue correndo quente pelas minhas veias. O ciúme, a raiva, o desejo, tudo se mistura de uma maneira que eu nunca experimentei antes. Minhas mãos tremem de tanta tensão reprimida. Quero beijá-la. Quero provar que ela é minha agora, que ninguém mais pode ter sua atenção desde que nos casamos. Mas também sei que, se me entregar a esse impulso agora, pode ser perigoso. Não confio em mim mesmo neste estado. Catherine percebe a batalha interna que estou travando e, com um sorriso de canto de boca, provoca ainda mais.

— O que foi? Está com medo de perder o controle, Frederick?

Ela me testa. Sabe que estou no limite. Mas eu não vou ceder. Não vou cair em suas provocações, não agora...

— Você vai me contar a verdade. Mais cedo ou mais tarde. — Declaro, afastando-me dela e dando um passo atrás, controlando-me. — Mas não esta noite.

Ela me encara por alguns segundos antes de virar o rosto. O clima entre nós está insuportável, mas nenhum de nós cede. Afasto-me e deito na cama, de costas para ela, sem uma palavra a mais. Sinto quando ela se deita também, mantendo a mesma distância. Estamos em lados opostos da cama, física e emocionalmente, sem dar o braço a torcer um ao outro nessa batalha pesada e silenciosa.

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