Capítulo Trinta e sete

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|Frederick|

Estou cansado. Cada fibra do meu corpo está tensa, como se uma corda estivesse prestes a se romper. Faz semanas desde o desaparecimento de Cloud, e a tensão parece crescer a cada dia. Todos no castelo estão à beira de um colapso, mas o que me atormenta é o silêncio. Um silêncio que me corrói, enquanto imagino o que pode estar acontecendo lá fora. Cada dia sem notícias é um lembrete cruel de que, a qualquer momento, algo terrível pode acontecer.

Felipe, meu irmão, é a única coisa que ainda me impede de explodir de vez. Ele, sempre mais sensato, tenta me acalmar. Diz que a paciência é a melhor arma agora, que não podemos perder o controle. Mas como posso me acalmar? A incerteza me assombra. Ele não entende, ou talvez apenas lide com isso de forma diferente. Felipe consegue ver além da tormenta, mas eu... eu estou no meio dela.

Hoje decido que preciso falar com o único homem que pode aliviar essa pressão. Meu pai. Rei Ferdinando. Ele é o único que pode dar um direcionamento, a única pessoa que pode me fazer entender por que, diabos, ainda não encontramos Cloud e porque ele mandou cessar suas buscas.

Caminho pelos corredores do castelo, minhas mãos fechadas em punhos enquanto tento manter uma expressão neutra. Ao passar pelos guardas, sinto seus olhares, atentos, como se esperassem que eu perdesse o controle a qualquer momento. Não posso culpá-los. Estou à beira disso. Mas não hoje. Hoje, tenho que ser mais forte do que minha raiva.

Ao chegar à porta dos aposentos reais, faço uma breve pausa antes de bater. Meu coração bate forte, e meus pensamentos estão a mil. Quero manter a compostura, quero que esta conversa seja produtiva. Não posso deixar minha frustração tomar conta.

— Entre — a voz grave de meu pai ecoa do outro lado.

Empurro a porta e entro, fechando-a atrás de mim. Meu pai está sentado em sua cadeira habitual, com os olhos fixos em um pergaminho, mas sei que ele já percebeu minha presença antes mesmo de eu cruzar a soleira.

— Pai — começo, minha voz um pouco mais dura do que eu pretendia. — Precisamos conversar.

Rei Ferdinando ergue os olhos lentamente, dobrando o pergaminho e colocando-o de lado. Seu rosto é impassível, mas noto o cansaço em seus olhos. Ele também está sentindo o peso dessa situação.

— O que está em sua mente, Frederick? — Ele me pergunta, e há uma leveza forçada em seu tom, como se soubesse que esta conversa não será fácil.

Dou alguns passos em direção à mesa dele, as palavras presas em minha garganta. Eu as ensaio na minha mente, tentando encontrar uma forma de dizer o que me atormenta sem parecer desesperado. Não quero parecer fraco, mas a verdade é que estou esgotado.

— É sobre Cloud — começo, tentando manter a calma. — Faz semanas, e ainda não temos nenhuma pista. Nenhuma indicação de onde ela possa estar ou o que está planejando. Como... como pôde mandar parar as buscas?

Meu pai não reage imediatamente. Ele me observa por alguns segundos, como se estivesse escolhendo suas próximas palavras com cuidado. Finalmente, ele se levanta e caminha até a janela, de onde pode ver os jardins do castelo.

— Eu entendo sua frustração, Frederick — ele começa, ainda olhando para fora. — Não pense que essa decisão foi fácil para mim.

Eu dou um passo à frente, minha raiva começando a subir.

— Não é só frustração, pai. Eu estou preocupado. Preocupado com a segurança do reino, com a segurança da nossa família! Como podemos ficar parados enquanto Cloud está solta? Ela sabe segredos demais, pode estar tramando algo, e nós aqui, de braços cruzados.

Ferdinando vira-se para mim, seus olhos fixos nos meus.

— Você acha que eu não estou preocupado? Você acha que não penso, todos os dias, no perigo que estamos enfrentando? Mas mandar mais homens para fora, gastando os poucos recursos que temos, quando cada busca tem sido infrutífera... não é uma solução.

— Mas e se... — Eu interrompo, mas ele levanta a mão, pedindo silêncio.

— Eu sou o rei, Frederick. Não posso agir com base no medo. Não posso deixar que a angústia me consuma e guie minhas decisões. Eu também temo pelo reino, por você, por Felipe, Francesca... e por sua esposa, Catherine. — Ele pausa, e posso ver a dor em seu olhar quando menciona minha família. — Eu também temo por meu neto. Mas como líder, preciso tomar decisões racionais, mesmo que isso signifique parar as buscas, por enquanto.

As palavras dele me atingem com força. Eu entendo o que ele está dizendo, mas ainda assim, a frustração dentro de mim cresce.

— E se algo acontecer? Se ela voltar? Se alguém da nossa família se machucar por causa disso? — pergunto, minha voz finalmente começando a trair o medo que tenho mantido preso por tanto tempo.

Meu pai caminha até mim e coloca uma mão firme em meu ombro. O peso dessa mão carrega anos de sabedoria e liderança.

— Eu compartilho de suas preocupações, filho. Mas este é o fardo de um líder. Precisamos fazer escolhas que nem sempre são populares, nem sempre são fáceis. E precisamos viver com elas. — Ele faz uma pausa, e sinto o peso de suas palavras. — Esta é a vida que escolhemos. Carregar o fardo de um reino inteiro nas costas. Não apenas por dias ou semanas, mas por toda a vida.

Fico em silêncio, absorvendo o que ele está dizendo. Ele não está errado. Eu sei que ele também sente o peso dessas decisões, que ele também se preocupa. Mas o medo em mim é tão profundo, tão forte, que é difícil de ignorar.

— Eu só... — começo, minha voz mais baixa agora. — Eu só quero proteger minha família.

Ferdinando suspira e me puxa para um abraço. Um gesto raro entre nós, mas necessário. Eu sinto o calor de seu corpo, o peso de sua mão nas minhas costas, e pela primeira vez em semanas, sinto algo próximo de consolo.

— Nós faremos isso juntos, Frederick. Você, eu, Felipe. Protegeremos nossa família, nosso reino. Mas precisamos ser inteligentes. Não podemos nos deixar consumir pelo medo. — Sua voz é suave, mas firme, e sinto a força que sempre admirei nele.

Quando ele me solta, há um novo entendimento entre nós. Pai e filho, unidos pelo peso da coroa, compartilhando o fardo de liderar Navarra. Eu ainda estou preocupado, ainda estou com medo, mas agora, sei que não estou sozinho. Meu pai está ao meu lado, e juntos, enfrentaremos o que vier.

— Obrigado, pai — digo finalmente, minha voz mais firme.

Ele apenas sorri, um sorriso cansado, mas cheio de orgulho.

— Vá. Cuide de sua família, Frederick. O resto, enfrentaremos quando for o momento certo.

Saio dos aposentos reais sentindo-me um pouco menos tenso do que antes, mas com a consciência de que essa batalha está longe de terminar. Essa víbora tem que ser capturada logo!


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