Capítulo Cinquenta e nove

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|Catherine|

Acordo aos poucos, meus olhos piscando na tentativa de se adaptar à luz tênue que parece vir de uma abertura em algum canto. Minha cabeça roda, como se estivesse tentando se equilibrar em uma maré de náusea e dor. Tudo parece desfocado e estranho, até que percebo onde estou. Meu corpo, dolorido e fraco, está amarrado a uma cadeira velha, as cordas apertando meus pulsos e tornozelos. Sinto o ar úmido e quente ao meu redor, e só então entendo: estou em uma caverna, isolada de tudo e de todos.

Aos poucos, os eventos da noite anterior voltam para mim. Imagens dolorosas e confusas me atingem: Henry, seus olhos maníacos, a carroça, o tapa... o desmaio. Meu coração acelera, e um pavor novo invade meu corpo, tão gelado e paralisante que mal consigo respirar. O traidor, aquele que eu considerava um amigo, me trouxe para algum lugar muito distante, onde ninguém poderá me encontrar. Frederick... penso com desespero. Ele deve estar me procurando. Ele tem que estar. Tento imaginar que ele logo virá, mas meu peito aperta ao olhar em volta e ver a solidez opressiva da caverna, sem saída para mim.

A porta improvisada da caverna range, e minha respiração para ao ver Henry. Ele se aproxima com um sorriso que me enche de náusea, um sorriso que torce cada fibra do meu ser com o terror de que ele realmente me tirou de tudo o que amo. Ele se ajoelha e me observa de perto, inspecionando-me como se eu fosse sua posse, seu troféu.

— Finalmente acordou, minha doce Catherine. — Sua voz é suave, mas há algo de terrivelmente ameaçador nela, um tom doce e venenoso.

Ele tira a mordaça de minha boca com cuidado excessivo, como se isso fosse algum tipo de gentileza. A sede que sinto é esmagadora, então, quando ele levanta um cantil de água à minha boca, não consigo evitar. Bebo, mesmo engasgando e tossindo, pois minha garganta arde de secura. Mas, quando engulo, percebo que minha sede não é nada comparada ao pavor que me domina.

— Por que está fazendo isso? — minha voz sai rouca, carregada de incredulidade e horror. — Por que, Henry?

Ele sorri, e o brilho em seus olhos me deixa sem ar.

— Estou fazendo isso porque é a coisa certa a fazer, Catherine. Você devia agradecer. Tirei você de uma vida de engano e miséria. — Sua voz ganha uma nota de triunfo. — Frederick jamais te daria a segurança que eu posso te dar. Você me deve sua vida, Catherine. Me deve a própria felicidade.

— Mas eu amo Frederick — murmuro, minha voz fraca, mas carregada da dor da traição. — Ele é o pai do meu filho.

Seus olhos se estreitam, e o sorriso desaparece por um instante. Ele limpa o sangue seco em minha testa com um pano áspero, e sinto o ardor do ferimento. Ele observa minha expressão de dor com um prazer perturbador, como se se deliciasse em me ver frágil, rendida.

— Esse amor é passageiro — ele sussurra, aproximando seu rosto do meu, e sua voz me arrepia com o toque doentio que carrega. — Você vai me amar, Catherine, vai esquecer o príncipe. Seu futuro agora é comigo e ninguém mais.

Suas palavras, frias e carregadas de uma ameaça sutil, fazem meu coração gelar. Ele levanta um pedaço de pão seco à minha boca e me obriga a comer. Eu mastigo, quase sem sentir o gosto, ciente de que, para ter qualquer força para resistir, preciso me alimentar. A esperança de uma fuga permanece viva em mim, mas sinto a presença esmagadora de Henry, de sua loucura, tão perto de mim.

Ele então me dá mais um gole de água antes de amordaçar minha boca de novo, e inclina-se para beijar minha testa. O toque me enoja, e meu estômago se revira com a sensação de desespero e impotência. O ódio que sinto dele agora queima tanto quanto o medo. Eu confiava nele. Pensava que era um aliado, alguém com quem poderia contar. Henry se afasta e cruza os braços, observando-me com uma expressão calculista, o olhar fixo em mim como se me estivesse estudando.

— O príncipe ficou no passado, Catherine. Agora o futuro é comigo. Se você não for minha, não será de mais ninguém — ele diz, sua voz baixa, mas carregada de uma certeza ameaçadora que me faz estremecer.

A pressão das cordas em meus pulsos começa a latejar, a cortar minha pele com uma dor aguda. O ambiente parece girar, e eu luto contra a vertigem, sabendo que, se desmaiar, posso perder a única chance de lutar por minha vida.

— Venha, minha bela Catherine. — Ele desfaz as amarras da cadeira e me puxa para fora dela com força, me empurrando, arrastando e mantendo minhas mãos atadas, sem me dar a menor chance de tentar escapar. Tento resistir, mas estou fraca, e ele é muito mais forte.

— Você precisa se acostumar, pois vamos viajar por muito tempo juntos.

Ele me arrasta para fora da caverna, para a luz do dia, que me cega momentaneamente. A dor lateja em meus pulsos e tornozelos, e minha cabeça ainda está zonza do golpe da noite anterior. Sinto que ele me empurra com mais força, até que finalmente me lança sobre a carroça, como um fardo sem valor. Ele ri, um som áspero e cheio de escárnio, enquanto me observa me debater. Cada movimento apenas aperta ainda mais as cordas, intensificando a dor.

— Isso é inútil, Catherine. — Ele cruza os braços, me observando com uma expressão de triunfo, como se eu fosse um prêmio que finalmente conquistou. — Você pertence a mim agora. Acostume-se.

Henry sobe na carroça e a coloca em movimento. Sinto o rangido das rodas ecoando no chão, e o som é quase ensurdecedor, cada tranco me jogando contra as laterais da carroça. A floresta ao nosso redor parece me engolir, cada árvore um lembrete de que estou sendo levada para longe de tudo o que conheço.

Cada quilômetro que nos afasta do castelo, de Frederick, é um passo para dentro de um abismo do qual não sei se posso escapar. Fecho os olhos, tentando me lembrar do rosto de Frederick, da sua voz me chamando, do calor de seu abraço. Ele é minha única esperança, e penso nele como quem se agarra a um fio tênue de vida.

Eu não posso desistir... Tenho que me manter forte, por mim, por ele, por nosso filho.


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