Capítulo Sessenta e seis

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|Frederick|

O céu sombrio pesa sobre mim enquanto cavalgo pelo que parece uma eternidade. Estou há dias sem dormir, com o rosto marcado pela angústia e o corpo destruído pela falta de descanso, mas nada disso me importa. O ódio e o medo misturam-se, queimando em meu peito como um veneno. Catherine e nosso filho estão em algum lugar por aí, esperando para serem salvos, e a cada segundo que passa sem encontrá-los, sinto a sanidade escapando por entre meus dedos. Felipe, meu irmão, e Deklan Fraser, meu futuro cunhado, estão comigo nesta caçada, vasculhando campos, vilarejos e até as mais densas florestas. Meus homens reviram cada canto de Navarra, e ainda assim, a cada rumor sem resposta concreta, a fúria cresce como uma fera, quase incontrolável.

O dia amanhece frio, e, mais uma vez, monto meu cavalo e me lanço floresta adentro, em um caminho sinuoso e traiçoeiro, sentindo meu coração bater forte contra o peito, uma batida dolorosa e frenética. Grito o nome de Catherine repetidas vezes, esperando por qualquer sinal, qualquer ruído que me leve até ela.

E então, ouço. A umidade da floresta amplifica o som de algo a distância, um farfalhar, um movimento incomum. Aperto os joelhos contra o cavalo e avanço, o coração disparando com a possibilidade de finalmente encontrá-la. Antes que o cavalo pare por completo, salto, meus pés mal tocam o chão quando vejo, entre a neblina da manhã, um homem de costas para mim, e dois corpos estirados aos pés dele. Cada fibra do meu corpo se torna pura adrenalina, e corro, em um estado de desespero quase cego, temendo que o que vejo seja, de fato, minha esposa.

O homem se volta para mim por um segundo, então se embrenha na mata como um covarde fujão. Vejo Deklan partir em sua perseguição com o vigor de um caçador implacável, mas não me importo mais com ele. A minha única preocupação agora é Catherine. Lanço-me ao chão, de joelhos, segurando meu fôlego enquanto observo o corpo à minha frente.

Ajoelho-me e ergo Catherine, e meu coração quase se despedaça ao ver seu rosto marcado por hematomas, o corpo coberto de sujeira e sangue. Tento tocar seu rosto com cuidado, como se pudesse acordá-la de algum pesadelo horrível. Grito seu nome, e a floresta parece estremecer junto com meu desespero.

– Cath...! – Minha voz quebra, e ela não se move, seu rosto inerte, pálido. Minhas mãos tremem, a respiração sai irregular, e uma pontada dolorosa rasga meu peito. Tudo ao redor parece desmoronar, e sinto como se o próprio chão estivesse se desfazendo debaixo de mim. Ao meu lado, Felipe desce do cavalo, corre em nossa direção e exclama surpreso.

– É a senhorita Selin De Medice! – ele diz, vendo a outra figura caída ao lado de Catherine.

Minha mente, tão focada em Catherine, mal registra Selin até agora. Seu rosto está marcado pela violência, o corpo também exausto e quase irreconhecível de tanto sofrer. Ainda assim, o que importa é que as duas respiram, ainda que de forma fraca e quase imperceptível. Uma onda de alívio e medo percorre meu corpo. Em um só movimento, puxo Catherine contra meu peito, e lágrimas, que há dias segurei, começam a rolar pelo meu rosto.

– Vamos levá-las para o vilarejo – Felipe murmura, enquanto coloca Selin em seu cavalo.

A comitiva de soldados se aproxima, e eu os sinto ao meu redor, prontos para protegê-las, mas minha mente está em Catherine, meu coração pulsa só por ela. Seguro-a com firmeza, mas ao mesmo tempo com um cuidado que nunca tive em minha vida, como se qualquer movimento errado pudesse destruí-la.

Subo no cavalo, com Catherine segura em meus braços, e partimos em direção ao vilarejo mais próximo. Cada galope parece uma eternidade, e a cada balanço do cavalo, a preocupação aumenta. Olho para seu rosto pálido, os lábios rachados, os olhos fechados. Passo a mão sobre seus cabelos e murmuro, quase sem fôlego.

–Volte para mim, Cath. Por favor, volte...

Meus pensamentos oscilam entre esperança e desespero. Sinto que o peito vai explodir a cada minuto que ela permanece inconsciente. A visão dela, frágil e ferida, traz uma dor que jamais imaginei possível, como se minha alma estivesse sendo arrancada do corpo.

Quando finalmente chegamos ao vilarejo, trocamos o cavalo por uma carruagem. Coloco Catherine o mais delicadamente possível no assento, e vejo Felipe fazer o mesmo com Selin. Sentado ao lado de minha esposa, seguro sua mão fria e ora. Oro com tudo o que tenho, imploro aos céus que poupem sua vida e a de nosso filho. Ofereço minha própria vida, se isso significar que ela possa viver. As palavras saem em um murmúrio quebrado, repetitivo, como uma súplica insana e desesperada.

– Senhor, se existe algo que posso dar em troca, leve-me, mas salve minha família... poupe minha esposa e meu filho.

A cada soluço, sinto um pedaço do meu coração se partir. Catherine ainda não deu sinal de vida, mas continuo chamando por ela. Meus olhos se perdem em seu rosto, o rosto que tantas vezes vi sorrir, os olhos que brilharam para mim com amor. Cada respiração dela, ainda que fraca, é um milagre, mas o medo de que ela possa partir a qualquer segundo me corrói por dentro.

Sinto uma mão em meu ombro e, ao olhar para o lado, vejo Felipe com o olhar firme, tentando conter sua própria dor, ao relembrar as feridas do passado, quando Luz também foi sequestrada durante a guerra, ainda grávida de Felix. Sei que ele se preocupa comigo e com Catherine, sua cunhada, e que está ao meu lado como meu irmão, mas também como meu melhor amigo, e isso é tudo que preciso agora.

A jornada continua até que finalmente avistamos o castelo à distância. Meus pulmões parecem liberar um pouco da tensão, e sinto que há uma pequena, porém preciosa, chance de ela sobreviver. Não deixo de orar nem por um segundo, mesmo enquanto o médico da família real é chamado e examina Cath, mesmo enquanto sinto o peso da angústia recair em meu coração, a incerteza dolorosa sobre o futuro de minha família.


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(Faltam 11 capítulos para o final da história, meu povo <3 )

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