Capítulo Trinta e três

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|Felipe|

Frederick está fora de si. Sua raiva palpita no ar, tão intensa que quase posso senti-la em minha própria pele. Assim que meu pai encerra a reunião com a declaração chocante de que as buscas por Cloud estão suspensas, eu já sei o que vai acontecer. Frederick vai explodir. Ele não consegue aceitar decisões que, aos seus olhos, são ilógicas e perigosas. A decisão de nosso pai, para Frederick, é um ataque direto à segurança da família, à integridade do reino.

Ele levanta da mesa de forma abrupta, o que já atrai olhares, mas antes que ele possa fazer qualquer coisa que nos coloque em uma situação ainda pior, me aproximo rápido. Agarro seu braço, firmemente. Frederick tenta se desvencilhar, mas mantenho o aperto. Ele me encara com fúria nos olhos, mas não digo nada. Não preciso. Ele sabe que estou tentando impedir que ele faça algo estúpido.

— Vamos, preciso falar com você — murmuro, tentando manter a compostura diante dos conselheiros que ainda estão no salão.

Frederick reluta, seus músculos tensos, mas sabe que não pode confrontar o rei publicamente. Ele sabe que essa batalha, pelo menos agora, não pode ser travada diante de todos. Sem outra opção, ele me segue a contragosto, ainda fervendo de raiva.

Arrasto-o até o jardim, longe o suficiente para que ninguém possa nos ouvir. O vento noturno sopra frio, mas a tensão entre nós dois é tão densa que torna o ambiente sufocante. Solto seu braço apenas quando tenho certeza de que estamos sozinhos. Ele imediatamente se afasta de mim, começando a andar de um lado para o outro, como um animal enjaulado. Seus olhos brilham com frustração, sua mandíbula está cerrada com tanta força que posso ouvir seus dentes rangerem.

— Como ele pôde? — Frederick explode, finalmente liberando a ira que estava reprimindo. — Como ele pode encerrar as buscas? Cloud ainda está lá fora! Ela é um perigo para todos nós! Para nós, para a realeza... para todo o reino!

Suspiro, cruzando os braços enquanto observo meu irmão. Ele está lutando contra algo muito maior do que a simples frustração. O medo. O medo está consumindo Frederick, e eu o entendo. Entendo mais do que ele imagina.

— Eu concordo com você, Fred — digo calmamente, tentando trazê-lo de volta à razão. — Eu sei o quanto essa decisão parece... absurda. Cloud é uma víbora, uma traidora. Ela já causou dor o suficiente, e eu sei exatamente como você se sente. Você acha que eu não sofri quando ela ajudou no sequestro de Luz? — Minha voz endurece ao lembrar daquele tempo. — Ela estava grávida de Félix, e eu quase perdi minha esposa e meu filho por causa daquela mulher.

Frederick para de andar por um momento e me encara. Ele sabe o que estou dizendo. Ele se lembra de como eu quase enlouqueci naquela época, de como fiquei sem chão, sem saber se Luz e meu filho voltariam para mim.

— Eu não esqueci — murmura ele, os olhos fixos no chão, como se revivesse o terror de nossa família. — E é por isso que não entendo. Como o pai pode simplesmente... desistir? Desistir de proteger todos nós?

Eu respiro fundo, dando alguns passos em direção a ele.

— O que você precisa entender é que, no final, todos temos que obedecer ao rei. Mesmo que não concordemos. Se você desafiar a autoridade dele agora, Frederick, se continuar contestando suas decisões... você sabe o que pode acontecer. — Minha voz baixa, ficando mais firme. — Ele pode te deserdar. Tirar você da linha de sucessão. Isso é o que você quer?

Frederick solta um grunhido, passando as mãos pelos cabelos, frustrado.

— E você acha que eu me importo com o trono agora, Felipe? Eu não dou a mínima para isso! Tudo o que me importa agora é a segurança da nossa família. De... Catherine e do meu filho.

Essas palavras fazem meu coração pesar. Eu entendo esse sentimento, essa preocupação constante pela segurança de quem amamos. A única coisa que nos mantém acordados à noite, que nos faz questionar tudo ao nosso redor, é o medo de perder nossas esposas e filhos. Frederick está assombrado por esse medo, assim como eu também já estive um dia.

— Frederick, todos nós estamos assustados — digo, suavizando meu tom. — Mas precisamos ser inteligentes agora. Cloud desapareceu, sim, mas isso não significa que estamos indefesos. Podemos tomar nossas próprias precauções, mesmo que as buscas oficiais tenham sido encerradas. Proteja Catherine da maneira que puder, prepare seus homens. É isso que eu vou fazer com Luz e Félix. Nós vamos nos proteger, mas precisamos ser racionais.

Ele para por um momento, finalmente deixando a raiva dar lugar a uma tristeza silenciosa. Frederick cai de joelhos na grama, batendo as mãos no chão em um gesto frustrado. Seus ombros tremem, e sei que ele está lutando contra algo muito mais profundo do que a raiva. Eu o conheço. Ele nunca foi de admitir fraquezas, nunca foi de mostrar vulnerabilidade, mas agora... agora ele está se partindo por dentro.

— Eu estou com medo, Felipe — ele confessa, a voz falhando. — Não por mim... mas por Cath e o bebê. Eu não sei o que fazer se algo acontecer a eles.

A dor em sua voz me atinge como uma faca. Aproximo-me e coloco uma mão em seu ombro, tentando oferecer algum tipo de consolo, mesmo que as palavras não possam curar o que ele está sentindo. Frederick sempre foi o mais forte entre nós, o mais determinado. Vê-lo assim, vulnerável, parte meu coração. Sento-me ao lado dele na grama, encarando o céu nublado e escuro como em um dia de tempestade. O silêncio entre nós é confortável, quase necessário, enquanto ambos processamos tudo que estamos sentindo.

— Eu entendo, irmão — digo, depois de alguns minutos. — Eu também sinto esse medo. Esse mesmo pavor de perder Luz e Félix. Mas a verdade é que... nós estamos nisso juntos. Como sempre estivemos. Não importa o que aconteça, vamos enfrentar isso. Vamos superar tudo, como sempre fazemos. Somos uma família, Frederick. E, como irmãos, vamos lutar por nossas famílias, por nossas esposas, por nossos filhos... e por Navarra.

Frederick respira fundo, como se minhas palavras o tivessem trazido de volta à superfície, o tirado das profundezas de sua angústia. Ele me encara, os olhos ainda cheios de incerteza, mas também de gratidão.

— Eu sei — ele diz, finalmente. — Eu só... não posso perdê-los.

Dou um tapinha no ombro dele, tentando aliviar a tensão.

— E você não vai. Nós não vamos permitir.

Mais uma vez, o silêncio nos envolve, mas desta vez não é um silêncio pesado. É o tipo de silêncio que traz compreensão, um lembrete de que, apesar de tudo, ainda estamos juntos. De que, mesmo nos piores momentos, temos um ao outro. E isso, de alguma forma, nos dá força.

Frederick se levanta lentamente, oferecendo-me a mão para me ajudar a levantar. Quando fico de pé ao lado dele, vejo que, apesar de toda a confusão e medo que ainda carrega, algo mudou. A raiva selvagem que estava consumindo-o se dissipou, dando lugar à determinação.

— Vamos proteger nossas famílias — ele diz com firmeza.

Eu sorrio, assentindo.

— Sempre.

Juntos, voltamos ao castelo, prontos para enfrentar o que vier. Afinal, somos irmãos. E, no final, isso é tudo o que importa. Não vamos fugir da luta.


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