|Catherine|
Quando abro os olhos, tudo ao meu redor parece confuso. A luz suave do final da tarde entra pelas cortinas, criando sombras no quarto. Estou deitada, o corpo mole e exausto, mas não me lembro como cheguei aqui. Minha mente está enevoada, e por um momento penso que ainda estou no tribunal, ouvindo as palavras frias do rei Ferdinando condenando meu pai e meu tio. Mas ao virar a cabeça, vejo um rosto familiar, e tudo se acalma e ao mesmo tempo se contorce dentro de mim.
Frederick está sentado ao meu lado, sua expressão carregada de preocupação, os olhos azuis fixos em mim. Por um breve momento, me sinto segura com sua presença, mas logo a sensação de culpa invade cada parte de mim. Desvio o olhar. Não posso encará-lo. Não depois de tudo o que aconteceu. Não depois do julgamento que expôs as falhas e os crimes da minha família. Eu sou a filha de seu pior inimigo, e ainda assim, ele está aqui. Cuidando de mim. Ele se move um pouco mais para perto, percebendo que estou acordada. Sua mão segura a minha, e posso sentir a firmeza e o calor reconfortante de seu toque.
— O médico já esteve aqui — diz ele, sua voz suave, mas cheia de um alívio perceptível. — Está tudo bem, Catherine. Você só desmaiou por fraqueza. Está um pouco pálida, sim, mas você e o bebê estão bem.
O bebê... agora é possível ver um leve formato arredondado em minha barriga e a certeza de que sim, ele estava certo o tempo todo, eu realmente estou grávida de Frederick.
Nossa criança... A lembrança de que estou carregando o filho de Frederick dentro de mim deveria me trazer conforto, mas ao contrário, faz com que a culpa se intensifique. Meu coração dói. Ele está tão preocupado comigo, e tudo o que eu consigo sentir é vergonha. Minha família destruiu tanto... Como posso ser digna de tudo isso? De sua atenção, de sua preocupação?
Viro o rosto para o lado, meus olhos fixos no chão. Não posso enfrentá-lo. Não consigo suportar o peso desse olhar de preocupação que ele me lança. Ele não entende, não sabe como é ter o sangue de traidores correndo pelas veias. Meus pensamentos se embaralham, e antes que eu consiga controlar, sinto meu corpo começar a tremer. As lágrimas escorrem, e por mais que eu tente, não consigo contê-las. Meu peito aperta, e o choro silencioso toma conta de mim. Frederick se inclina na minha direção, preocupado, sua mão repousando em meu rosto, tentando me acalmar.
— Catherine, o que está acontecendo? — sua voz é firme, mas há uma ternura que me desarma. — Você está com dor? O que sente?
Ele segura meu rosto com delicadeza, seus dedos firmes me forçam a olhar para ele, mesmo que eu resista. Tento desviar, mas ele não permite.
— Olhe para mim — diz ele, com uma autoridade que eu não consigo ignorar. — Olhe nos meus olhos.
Com esforço, levanto o olhar para encontrar o dele. Seus olhos estão cheios de preocupação, sim, mas também de algo mais. Algo que deveria me fazer sentir melhor, mas só aumenta a dor dentro de mim. Não consigo aguentar, as palavras saem de mim sem controle.
— Eu... Eu não posso, Frederick. — Minha voz sai trêmula, engasgada com as lágrimas. — Eu sinto tanta vergonha. Eu me sinto... culpada por tudo o que aconteceu. Meu pai... meu tio... o que eles fizeram a Navarra. Eu carrego o sangue deles. Como posso receber sua preocupação depois de tudo?
Ele não me deixa terminar. Seus olhos se estreitam, e vejo uma chama de indignação surgir.
— Não ouse falar assim, Catherine — ele diz, sua voz mais grave agora, mas ainda com aquela ternura escondida nas bordas. — Você, sua mãe, seus irmãos... Vocês também são vítimas dos crimes de Charles e de seu pai. Eles escolheram o caminho deles, e você não é responsável por isso. Jamais pense que você carrega a culpa pelos atos de outros.
Ele me puxa para mais perto, me envolvendo com seus braços fortes, como se quisesse me proteger do mundo. Sua mão passa gentilmente pelo meu cabelo, e ele me segura contra o peito, oferecendo um tipo de conforto que eu não sabia que precisava até agora.
— Isso vai passar, Catherine — ele murmura, sua voz suave no meu ouvido. — Logo tudo isso será apenas uma lembrança. Eu estou aqui, e sempre estarei. Eu vou cuidar de você, do nosso filho... Você nunca estará sozinha.
Eu tremo em seus braços, as lágrimas continuam a escorrer, mas agora há algo diferente nelas. Não é apenas dor, mas uma mistura de alívio e desespero. Ele acredita em mim. Ele não me culpa, mesmo que eu ainda me sinta responsável.
— Não entendo como pode ser tão... bom para mim — sussurro, mal conseguindo falar entre as lágrimas. — Depois de tudo...
Ele afasta um pouco o rosto para me olhar diretamente nos olhos, seus dedos secando minhas lágrimas com delicadeza. Seu olhar é firme, cheio de uma força que me faz querer acreditar nas palavras que ele diz.
— Porque eu te amo, Cath. — Ele fala com uma simplicidade que me desmonta por completo. — E não importa o que aconteceu no passado. O que importa é que estamos juntos agora. Você é a mulher que carrega meu filho. A mulher com quem quero construir minha vida. E nada, nem mesmo o passado, pode mudar isso.
Suas palavras me quebram e, ao mesmo tempo, me curam. Eu me derreto em seus braços, deixando que ele me segure, me proteja do caos que continua a girar dentro de mim. A dor ainda está lá, mas agora há algo mais. Algo mais forte. Algo que me faz sentir que talvez, só talvez, eu possa superar isso. Porque Frederick está ao meu lado.
Ele me beija com uma ternura que me faz sentir segura, me faz esquecer, mesmo que por um breve momento, do peso do meu passado. Seus lábios encontram os meus, e é como se o mundo ao nosso redor desaparecesse. Há apenas nós dois, compartilhando algo que vai além das palavras, além das cicatrizes que carregamos. Quando nos separamos, ele me mantém em seus braços, acariciando meu rosto com os dedos.
— Não vou deixar você se perder nesses pensamentos sombrios — ele diz suavemente. — Não com tudo o que temos pela frente. Nosso filho... Nossa vida juntos. Confie em mim, Catherine. Eu vou proteger vocês dois. Sempre.
Eu apenas aceno, ainda sem palavras, mas por dentro, algo começa a mudar. Não importa o que o futuro traga, eu sei que, com Frederick ao meu lado, consigo enfrentar qualquer coisa. Eu me aconchego em seus braços, finalmente permitindo-me relaxar, sabendo que, por mais difíceis que as coisas tenham sido, estou exatamente onde deveria estar, mesmo sem merecer.
🗡🗡🗡
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A Sombra do Passado [Completo]
Romance[livro 2] Série Amores Reais Frederick, príncipe herdeiro do trono de Navarra, não é como seus irmãos mais novos Felipe e Francesca. Considerado um homem de caráter duro e personalidade intransigente, não aceita nada além da verdade, como também é m...